gera

Por Adelmo José dos Santos, poeta e escritor serratalhadense

Na foto acima se encontram Zé da Rede com a garrafa enchendo o copo de Lindolfo Simões, que era o prefeito de Petrolândia na época. Zé da Rede era um dos encarregados da Rede Ferroviária em Serra Talhada. Gera de Mané Lourenço é o cidadão que está vestido de preto. Essa foto foi tirada no início dos anos 60 em São Serafim, hoje Calumbí, numa festa de confraternização.

Falar sobre Gera de Mané Lourenço é mergulhar na história, é repuxar o passado, entrar no túnel do tempo deixando a tristeza fora e sorrir com os grandes momentos. Gera era sapateiro e cantor de uma banda na década de 60. Gostava da boemia e de serenatas, e contava anedotas, prosas, pulhas e piadas. Ele era um cabeludo, um boêmio seresteiro querido em toda a cidade.

A feira livre era pelo meio das ruas no entorno do Mercado Público e em volta da prefeitura. Nessa época, João Carão era o melhor lutador de luta livre da cidade, realizada no CIST “Clube Intermunicipal de Serra Talhada”. E Zé Café era o campeão de corrida de bicicletas de Serra Talhada. Não tinha televisão, o momento era do rádio. Todos os dias, às 18 horas no alto falante da praça, a cidade estremecia, era a hora que Nizinho rezava a famosa “Ave Maria”. A rádio alto falante era ‘A Voz da Liberdade’.

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Nos rádios a Jovem Guarda incendiava os corações. Os Incríveis arrasavam com a música: “O Vagabundo” a preferida de Gera, que dizia em sua letra: “Um vagabundo como eu também merece ser feliz, pois eu só quero desta vida ter um amor somente meu.” Em Serra Talhada a mulher mais importante não era a primeira dama, talvez ela fosse a última. Dentro da “Casa dos Pobres” tinha uma mulher divina, Rosa Pau Ferro, que ensinava música e canto, ela tinha a magia de uma grande maestrina.

Enquanto isso, no bar do abrigo, no bar de Josué e na bodega de Zé Grande, Gera de Mané Lourenço, entre uma bicada e outra de cachaça, alegrava muita gente. Serra Talhada crescia sem o povo perceber, Joca Pintor espalhava sua arte nos letreiros das fachadas do comércio com seu toque de magia. Miguel do Óleo vendia em sua banca na feira o perfume das meninas, e os rapazes compravam para usar no cabelo a brilhantina. Seu Otacílio Batista tinha loja de fazenda, deixava o povo na moda com as camisas de rendas. Com muita criatividade o comerciante João Duque foi mais fundo, ele fundou a Companhia Telefônica de Serra Talhada e botou a Capital do Xaxado pra se comunicar com o mundo.

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Gera de Mané Lourenço era o sinônimo da alegria, mesmo nos momentos tristes ele sempre estava alegre. Quando um médico aconselhou Gera acabar com as cachaças, Gera logo respondeu: “Eu não consigo doutor! Quando eu bebo uma garrafa aparecem 10 na prateleira.” Gera era sapateiro bem na época em que os calçados eram feitos na base dos pregos, sem costuras. Quando um cliente foi provar um par de sapatos, ao calçar sentiu a ponta de um prego e perguntou: “E esse prego é pra quê?”  Gera respondeu na hora, “É pra segurar as meias.”

Aqui em Serra Talhada e nas cidades vizinhas nos botecos por onde Gera passava era reconhecido, de todos os cachaceiros ele era o mais querido. Por onde Gera passava tinha sempre uma rodinha com gente dando risadas. Gera encontrou na bebida o encanto de viver, contando prosas e lorotas, piadas e anedotas, foi bebendo foi bebendo… até morrer. E assim foi Gera de Mané Lourenço, um poeta gozador, tomava as suas cachaças e curtia o seu amor. Ele só deixou saudades nos lugares onde passou. Fez da vida um passatempo deixando a vida lhe levar, foi embora de repente, a saudade é tamanha, ainda bem que na arte morre o homem e fica a fama. Um bom domingo para todos!