DSC_0015Fotos: Farol de Notícias/Alejandro García

(Com apoio de Manu Silva / Do Farol)

O FAROL foi procurado, nesta sexta-feira (30), pelo abatedor de frangos Luiz Carlos Freire, 43 anos, que mora no bairro Alto da Conceição, em Serra Talhada. Ele pede espaço para fazer uma denúncia contra uma ação da Polícia Militar (PMPE), alegando que recebeu tiros de balas de borracha nas costas após fugir de uma abordagem da PM. A família e os vizinhos de Luiz Carlos, da Rua José Alves da Silveira, se dizem indignados. Após a perseguição, na madrugada desta sexta, ele foi detido e levado para a delegacia, onde passou a noite. Quando liberado, após pagar fiança, prestou queixa contra a ação dos policiais e buscou a imprensa.

O FAROL também ouviu o outro lado, com a versão do 14º Batalhão de Polícia Militar (14º BPM), em nome do capitão Nunes, que visitou a nossa redação para comentar o fato. O oficial disse que o comando vai apurar se houve algum tipo de excesso por parte da polícia, mas ponderou que os militares vivem dias difíceis devido o avanço da criminalidade em Serra Talhada. Ele orienta os cidadãos a não reagirem fugindo das abordagens da PM. O capitão frisou ainda a importância de Luiz Carlos, juntamente com a família, comparecerem à sede do 14º BPM, no bairro da Cohab, para prestarem a denúncia também junto ao comando da Polícia Militar.

ENTREVISTA – LUIZ CARLOS FREIRE DA SILVA, 43 ANOS,

ABATEDOR DE FRANGOS

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FAROL: Bom dia, o que o motivou a procurar o FAROL?

LUIZ CARLOS: Eu estava ‘tomando umas’ na casa da minha irmã e quando saí de lá, subi na moto. Foi quando um rapaz parou o carro no meio da rua e no que ele parou eu bati na traseira do carro, não amassou muito não, foi pouca coisa. Aí quando eu ia chegando na BR para ir para casa, a polícia botou atrás de mim. Foi quando eu corri desesperado pista a fora, fui até perto de Bom Nome (São José de Belmonte) eles atirando em mim com balas de borracha, atirando de uma viatura. Quando eu cheguei de lá perto, não aguentei e caí com a moto e tudo. Eles já tinham atirado em mim muitas vezes. Eu fiquei com medo da polícia porque a moto estava atrasada, sem habilitação e aí eu fiquei com medo. E tinha bebido também, aí corri de pista a fora”.

FAROL: Mas qual é a sua queixa?

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LUIZ CARLOS: Eles (polícia) começaram a atirar em mim da Serra do Cigano até perto de Bom Nome. Eles me abordaram e me levaram para o hospital e queriam que eu contasse o caso na delegacia, só que hoje de manhã (sexta, 30) o delegado foi e viu a minha situação todo inchado com as marcas dos tiros, me levou de volta para o hospital para fazer o processo de corpo delito para depois descer para o promotor e depois para o fórum. Eu já fui na delegacia fazer queixa. Lá eu disse essa mesma coisa, eu não disse o nome dos policiais, eles mesmo estavam lá na hora que eu fiz a denúncia.

Hoje de manhã (sexta, 30) eles pegaram tudo. Não fizeram nada comigo na delegacia, só na rua mesmo. Me levaram para o hospital e do hospital me levaram para a delegacia e eu fiquei debaixo de ordem até hoje de manhã (sexta, 30) enquanto o delegado chegava. Os agentes não viram essas coisas (os ferimentos), aí quando eu sai hoje de manhã de dentro da cela, na delegacia, para o delegado preencher meus papéis eu sai sem camisa, aí o delegado viu minha situação.

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FAROL: De todo modo, você está ciente que também estava errado?

LUIZ CARLOS: Eu fui errado nessa questão, mas eles também erraram em ter feito isso comigo. Na hora que eu parei lá era para ter me abordado e não me abordaram. Os tiros foram na hora que eu estava correndo, no momento que eu ia correndo. Eu correndo e eles atirando, foram muitas balas de borracha. Foram quatro tiros e queimou tudo nas costas. Eu só liguei para vocês para colocar no Farol de Notícias porque todo mundo aqui da minha rua me pediu, porque sabem que sou trabalhador.

FAROL: Thainá, o que você sentiu ao ver seu pai nesse estado?

THAINÁ SILVA: Meu pai estava errado porque ele estava alcoolizado e não tem habilitação. Mas os policiais, o dever deles era ter acalmado o meu pai, mas eles correram atrás do meu pai como se ele fosse um bandido e fizeram esse estrago nas costas dele. Meu pai está aqui todo doente, sem poder trabalhar. Imagine só que poderia ter acontecido alguma coisa pior nessa perseguição, como se ele fosse um bandido e ele não é.

É um homem trabalhador digno, e toda a população daqui da rua, a família está revoltada com isso, porque foi errada essa atitude. Ele também estava errado, ambas as partes. Só que de certa forma poderia ter ocasionado coisas piores. Eu acho que a polícia, no dever dela, deveria ter acalmado ele, por conta que ele estava alcoolizado. Só que eles não sabiam. Ele estava bêbado, esses machucões aqui não foi só porque ele caiu, vê pela violência nas costas dele o quanto ele está sofrendo. A população aqui da rua está totalmente contra isso.

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O OUTRO LADO 

ENTREVISTA – CAPITÃO NUNES – 14º BPM

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FAROL: O 14º BPM já tomou ciência com relação ao caso do morador Luiz Carlos?

CAPITÃO NUNES: Dizer que inicialmente nós tomamos conhecimento desse fato através da redação do Farol e dizer que o comando do batalhão está aberto, dizer que naturalmente essa pessoa procure o batalhão, procure o comando do 14º Batalhão na terça-feira (3), se assim o desejar. Para que ele realmente possa tomar as providências cabíveis. Realmente a gente vai ouvir as partes, deve ser instaurado um procedimento administrativo para apurar o que aconteceu, ouvir as parte e aí sim fazer algum juízo de valor. Então, a gente pede que essa pessoa, em nome do Comando do Batalhão, procure o batalhão e se possível na terça-feira para que a gente possa tomar uma providência.

FAROL: Capitão, como fica a ação da polícia neste caso?

CAPITÃO NUNES: Não nos chegou por enquanto nenhuma notícia com relação a esse fato. Na verdade, o que se tem realmente o que aconteceu é o que vocês do Farol têm aqui com o relato dele, com essa matéria que vocês têm. Então, a gente precisa que essa pessoa nos procure, formalize uma queixa lá no batalhão, para que a gente possa apurar e elucidar o que aconteceu e esclarecer o fato.

Solicitamos que o senhor Luiz Carlos nos procure, procure o comando do batalhão, na terça-feira, porque segunda-feira é feriado, para ele possa realmente dizer o que aconteceu e a gente colocar no papel por termo e instaurar um procedimento investigatório e apurar, esclarecer e elucidar os fatos. Para que assim adotar providências cabíveis.

FAROL: Diante do clima de insegurança na cidade, a PM tem redobrado a atenção e tomado ações mais enérgicas. Mas num caso como este, quem se responsabiliza?

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CAPITÃO NUNES: Na verdade, a população serra-talhadense tem acompanhado desde o ano passado, nós temos vivido uma fase difícil em termos de homicídios, principalmente. Então, o policial militar que está na rua ele deve estar pronto ao serviço. Primeiramente a segurança dele e naturalmente a segurança das pessoas. Ele tem que presar por esses aspectos ligados à segurança. Então, ele tem que ter esse cuidado. Realmente ele vive em uma constante tensão, com aquela constante preocupação e trazer o resultado. E proporcionar segurança à população. Até solicita a população que seja passivo na hora da abordagem, se deixe revistar, se deixe abordar. Porque alguém pode estar armado, com arma de fogo, com arma branca e em determinado local pode acontecer algum problema.

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Então, a gente vive preocupado com esses fatos para que não aconteça nada de negativo, de ruim. A gente pede para que realmente as pessoas sejam passivas, se deixem abordar, se deixem revistar. Por quê? Para o bem de todos, pela segurança dos policiais militares e pela segurança das pessoas que estão ali, naquele ambiente. Peço às pessoas que não fujam da polícia, é melhor você ser revistado, você ser abordado, do que você realmente aceitar que está errado. Dependendo da situação, a gente vai adotar uma providência. Dependendo da situação, dependendo do caso, cada caso é um caso. Mas a gente pede para que as pessoas realmente sejam obedientes e sejam passivas. Se deixem abordar, se deixe revistar para a segurança de todos.

FAROL: O senhor pode tecer uma breve análise sobre este caso específico do Luiz Carlos?

CAPITÃO NUNES: Realmente, já de cara a gente analisa que ele não deveria ter fugido da polícia. E ainda mais por uma coisa, segundo você me relatou, ele fugiu porque estava somente sem a CNH e sob efeito de álcool. Mas na visão do policial militar que não conhece a situação, o cara pode estar com uma arma na cintura. O cara pode ser um homicida, ele pode ter a intenção de praticar um homicídio ou coisa parecida. Ou lesão corporal, não sei. É o respaldo policial militar e fazer esse acompanhamento. E voltando ao caso, realmente a gente não vai fazer juízo de valor. Vamos ouvir a vítima, ouvir também a versão dos policiais militares e aí chegar a um consenso.

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