saudade1[1]Por Adelmo José dos Santos, poeta e escritor serratalhadense

Eu comecei a estudar no início da década de 60, era o tempo que o quadro era preto, nessa época os alunos começavam os estudos com mais idade, eu devia ter uns 7 anos quando comecei estudar no jardim de infância. A minha escola era uma casa velha que ficava na Rua da Favela onde hoje é a Rua Inocêncio Gomes de Andrade.

Era conhecida por Rua da Favela devido à quantidade de pés de favelas que tinha na rua. A minha escola era uma escola improvisada, era só enquanto terminava a construção do Grupo Escolar Irmã Elizabeth. Eu estudava com um olho no quadro negro e o outro numa telha que estava pendurada, com medo dela cair na minha cabeça. A minha escola era pobre não tinha nenhum enfeite, os alunos iam chegando sentavam nuns tamboretes. A carteira era uma banca, era assim que eu estudava no jardim da minha infância.

No jardim não tinha flores, mas tinha muita esperança. No birô da professora a palmatória era vista, pra botar ordem na classe e acalmar os anarquistas. Era uma escola sem merenda, era pobre a minha escola,  a fome deixava sobras, o único bolo que tinha era o de palmatória. A minha professora um dia perguntou para os alunos o que nós queríamos ser quando crescer. Zé Piaba disse que queria ser um marinheiro, eu não sei de onde ele tirou essa ideia, porque nenhum aluno sabia como era o mar. A gente só conhecia as coisas pelo rádio ou pela revista “O Cruzeiro”. Também tinha a revista “Sétimo Céu” que era mais sobre as fotos novelas, mesmo assim essas revistas eram em preto e branco, não havia nada em colorido.

João Cupira disse que queria ser Aviador, por causa dos aviões que ele via no Campo de Aviação. Eu respondi que queria ser um pedreiro, a professora se assustou querendo saber porque, eu apontei para a telha dizendo que era para poder consertá-la antes que caísse em cima da minha cabeça. Quando a aula acabou, perguntei a Zé Piaba porque ele queria ser um marinheiro, ele disse que tinha sonhado que estava no Riacho do Navio e foi bater no meio do mar.

A minha professora Lourdes cuidou muito bem de mim, a ela devo tudo que eu aprendi enfim. Ela me entregou o alfabeto de bandeja mastigado, segurou as minhas mãos para eu encobrir as letras, quando eu escrevi meu nome, fiquei feliz todo besta. Minha professora Lourdes que saudade da senhora! Eu aprendi com as suas aulas estou muito bem agora, hoje eu brinco com as letras construindo a minha história. O tempo foi passando o Grupo Escolar Irmã Elizabeth foi inaugurado com todos os alunos da minha escola se mudando para lá.

Hoje depois de tantos anos, toda vez que eu passo em frente à escola eu sinto muita saudade e vem logo as lembranças dos apertos que eu passava no jardim da minha infância aprendendo a tabuada. Lembro a minha professora que jamais esquecerei, naquela sala de aulas só Deus e ela é quem sabe os apertos  que eu passei. Lembro a hora do recreio, pra mim era a melhor hora, eu saia na carreira só queria jogar bola. Hoje eu passo em frente à escola e ao lembrar aquele tempo que nunca mais vai voltar, a emoção me invade sinto vontade de chorar. Mas apesar da distancia que separa aquele tempo que marcou a minha infância, vale apenas recordar.