
Por Adelmo José dos Santos, poeta e escritor serra-talhadense
Nos anos 60 a principal área de lazer de Serra Talhada foi o Rio Pajeú, que além de abastecer a cidade com as suas águas no inverno, quando chegava o verão era uma alegria só. O rio se oferecia a todos os peladeiros para jogar futebol. E entre tantos peladeiros que jogavam futebol nas areias do velho Pajeú, quem se destacou foi Paulo Moura (Bico de Aço) que saiu das areias do Pajeú para jogar no Comercial no campo da várzea.
Aqui em Serra Talhada Paulo Moura fez história pelos campos da Lagoa, Cagepe, Pico da Bandeira, Saco, São Miguel, Estação, Campo do Ginásio e o Rio Pajeú onde tudo começou com seus dribles e seus gols. Os seus dribles eram perfeitos, tinha um chute potente, sua batida na bola era muito diferente. Ele era o batedor oficial de pênalti do time do Comercial, quando ele batia um pênalti a torcida se agitava com todo mundo correndo pra ficar atrás da barra.
Paulo Moura era o jogador mais novo, mas tinha categoria. Toda vez que ele batia um pênalti o goleiro ia para um canto e a bola ia pro outro. A emoção era grande com a torcida correndo em busca da alegria. Ainda muito jovem Paulo Moura já era titular da ponta direita do time do Comercial, tinha toda a malandragem do futebol, ele sabia que era craque, sabia do seu valor e usava isso muito bem como uma arma a seu favor.
Em 1967 Paulo Moura fez bonito. Foi levado por Lia Lucas indo parar nos Aflitos, em Recife, onde fez contrato com o Náutico. Não sabia Paulo Moura que navegar é preciso e pra quem começou jogando futebol nas areias do Rio Pajeú o seu destino estava escrito, estava tudo traçado e que talvez seja por isso que ele foi jogar no Náutico mostrando pra todo mundo que vale a pena sonhar. Paulo Moura entrou na história como o primeiro jogador de futebol serra-talhadense a se profissionalizar.
E assim Paulo Moura (Bico de Aço) chegou ao Náutico um clube que na década de 60 foi o melhor time de futebol de Pernambuco, sendo exa-campeão pernambucano no período de 1963 a 1968. E Vice-campeão da Taça Brasil em 1967. Quando Paulo Moura chegou para jogar no Náutico encontrou Lula, Gena, Salomão, Fraga, Ivan Brondi, Clóvis, Nino, Nado, Miruca, Bita, Ladeira e Lala. Esse foi o melhor time que o Náutico já teve em todos os tempos, e que foi vice-campeão brasileiro em 1967, tornando os anos 60 como a década de ouro do Clube Náutico Capibaribe.
Em Serra Talhada, a televisão ainda não tinha chegado e a gente acompanhava o futebol e as notícias através do rádio. Eu gostava de ouvir futebol pela Rádio Clube de Pernambuco na voz do locutor Ivan Lima e o comentarista José Santana. O juiz mais famoso na época era o Senhor Sebastião Rufino e o presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF) era Rubem Moreira.
Veja que coincidência como as coisas são perfeitas, o jogador Nado acabava de entrar na história do futebol Brasileiro em 1966 como o primeiro jogador a ser convocado pela Seleção Brasileira jogando em um clube do Nordeste e Paulo Moura (Bico de Aço) também acabava de entrar na história do futebol de Serra Talhada, sendo o primeiro jogador a se profissionalizar. Tanto Nado como Paulo Moura, jogando na mesma posição, a ponta direita. Uma coisa puxa outra, quem sabe um dia o Rio Pajeú volte a ser um rio alegre como era de primeiro, oferecendo o seu leito devolvendo aos peladeiros como área de lazer? Para que outro Paulo Moura (Bico de Aço) possa aparecer utilizando o seu espaço sem porteiras e cadeados? Pode até não aparecer outro ponta direita, a posição acabou assim como as águas do Rio Pajeú foi tudo num tempo só, o ponta direita foi extinto pelos esquemas táticos do nosso glorioso futebol.
12 comentários em PERFIL: Os tempos e histórias de Paulo ‘Bico de Aço’, uma lenda viva do futebol de ST