FOTOS: ALEJANDRO GARCIA / FAROL
Rapadura, cachaça e poesia de cordel, carne de bode, queijo de qualho e muita alegria, são alguns dos ingredientes do Canto Sertanejo, o Box de número 15 localizado dentro do Mercado da Madalena, na zona oeste do Recife, e um dos mais tradicionais redutos da boêmia pernambucana. O Canto Sertanejo poderia ser mais um ponto de venda como qualquer outro, se não fosse a simpatia das irmãs Neurides e Nelcita Ferraz, sertanejas que têm o orgulho de dizer que são de Serra Talhada, largaram a rotina de um trabalho bancário e investiram tudo dentro do Canto Sertanejo.
“O banco (Bandepe) ia ser privatizado, então antecipamos a nossa aposentadoria e investimos tudo aqui dentro. Não nos arrependemos”, disse Neurides Ferraz, que recebeu a reportagem do FAROL, na última sexta-feira (19) com um sorriso no rosto. Aliás, braços abertos e muito simpatia, características do povo sertanejo, tornaram-se cartões postais para quem visita o ponto de encontro.
Mas é aos sábados que se muda o rumo da prosa. Logo após o meio dia, poetas, repentistas, declamadores e os que sofrem de saudades do sertão, realizam grandes recitais etílicos onde só tem uma regra: a tristeza não pode marcar presença. No local, também são realizados lançamentos de livros de autores sertanejos.
“Estes encontros começaram porque no final das manhãs dos sábados o movimento acabava. Foi então que pensamos em abrir o espaço para os poetas. E por aqui já passaram muita gente boa. Entre eles, Maciel Melo, Jessier Qurino, Fim de Feira, Dedé Monteiro e muitos outros. O encontro cresceu de uma forma, que turistas do Rio de Janeiro e São Paulo vêm ao Mercado da Madalena só para conhecer o Canto Sertanejo”, diz com orgulho Neurides.
O INTERIOR DENTRO DO RECIFE
Sem muito tempo para visitar Serra Talhada e Floresta, onde tem laços familiares, as irmãs Ferraz não despacham bebida alcoólica no local. Pelo contrário. Vendem a cachaça para ser ingerida em casa. Mas os ‘biriteiros’ e poetas fazem questão do encontro ao lado do boxe.
“É como se aqui fosse uma extensão do Sertão. O nosso interior dentro do Recife, entranhado, e todo mundo debatendo as coisas do Sertão. A gente tem esta necessidade de se reunir e reencontrar as origens”, finalizou Neurides Ferraz.


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