gilvanPor Gilvan Espedito de Magalhães, cientista político com especialidade em Sociologia e Antropologia pela UFPE

Depois de arrochos fiscais impostos pela a sua equipe econômica, Dilma perdeu a presidência da Câmara e do Senado, interferiu diretamente na eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, o que é prerrogativa exclusiva do Poder Legislativo.

Dilma não queria a eleição de Renan Calheiros a presidente do Senado. Considera que Renan conspira contra ela, chantageia o Planalto, articulou com seu líder Humberto Costa as derrotas e deu no que deu, Renan Presidente.

Muito bem! A opinião pública conhece as estripulias de Renan Calheiros, e não é de hoje. Desde que foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. Não é desnecessário lembrar as despesas extraconjugais bancadas por “amigos”, o envolvimento em negócios estranhos. Ótimo que não se entregue a presidência do Senado a Renan Calheiros.

Não é este o ponto, entretanto. Dilma não tem o direito de interferir na eleição do presidente do Senado, em que pese a aversão da opinião pública a Renan Calheiros. Este é um tema de decisão exclusiva do Poder Legislativo. A interferência indevida do Executivo constitui abuso de um poder sobre o outro. E dos grandes. Mas a presidente ainda não tinha ficado satisfeita.

Dilma também não queria Eduardo Cunha presidente da Câmara dos Deputados. Nós, o povo, aplaudimos, claro. São bem conhecidas as atuações fisiológicas clientelistas de Eduardo Cunha, as denúncias da ex-­mulher (ex-­mulher é para sempre!) em 2002 sobre a fortuna mantida em paraísos fiscais.

Aliás, esta denúncia o impediu de ser candidato a vice de José Serra nas eleições de 2002. Mas, novamente, não compete ao presidente da República apontar o presidente da Câmara dos Deputados. Assim como não compete aos deputados eleger o presidente da República. Numa democracia, Dilma parece ter dificuldade de entender, os poderes são independentes e harmônicos.

Ao partir para o confronto com políticos fisiológicos, que estão por aí há muito tempo e compõem a sua base aliada, Dilma pratica um jogo muito perigoso: com ou sem intenção, está jogando a sociedade civil contra os políticos.