Da Folha de PE
A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo, 11.680 por ano no Brasil, quase uma por dia em Pernambuco. Estas pessoas possuem um perfil. São geralmente jovens ou idosos. Os primeiros tendem a cometer o ato por impulso e os segundos são mais planejados. Pelo menos 95% sofrem de transtornos mentais. A metade delas tentou buscar ajuda em algum momento da vida. O Setembro Amarelo, mês dedicado à atenção e prevenção ao suicídio, dá visibilidade à questão, que precisa ser encarada e enfrentada.
Para a Sociedade Pernambucana de Psiquiatria (SPP), a melhor forma de abordar o tema é cortar o sensacionalismo e difundir uma mensagem de valorização da vida. A instituição apresentou, nesta quinta-feira (31), durante o lançamento de ações para este mês, dados preocupantes.
Pelo menos 9,2% da população mundial pensa em suicídio e um terço deles chega a tentar. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 90% dos casos estão associados a distúrbios mentais. Os transtornos de humor, entre os quais se destaca a depressão, representam o diagnóstico mais frequente nesses casos, presente em 36% das vítimas.
Também estão relacionados ao problema a dependência de álcool (em 23% dos casos), esquizofrenia (14%) e transtornos de personalidade (10%). Por outro lado, a OMS também aponta que 90% das pessoas com pensamentos suicidas podem desistir apenas se receberem boa orientação. Este é o papel, por exemplo, de instituições como a SPP, Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Centro de Valorização da Vida (CVV). “Toda divulgação é importante, o suicídio não se resolve apenas no consultório. Institutos e, principalmente, a família, devem ajudar”, afirma o presidente da SPP Leonardo Machado.
Entre as campanhas para os próximos 30 dias estão a iluminação amarela em vários prédios do Recife, a partir desta sexta-feira (1º). O Hospital da Restauração, Quartel do Derby e Assembleia Legislativa são exemplos dos que abraçaram a causa e terão a decoração alusiva. Haverá ainda um espaço publicitário cedido pelo Metrô Recife, na estação Joana Bezerra, e panfletagem no Parque 13 de Maio. A Polícia Militar também lutará pela vida e em setembro os profissionais vestirão amarelo.
O CVV abrirá novos cursos de formação de voluntários durante este mês. O CVV Recife existe há 39 anos. O serviço funciona na avenida Manoel Borba, na Boa Vista, com a central de atendimento, e conta com voluntários treinados em uma técnica que foca o atendimento na atenção em ouvir o que o outro tem a dizer.
Outras programações do Setembro Amarelo marcadas pela SPP são uma caminhada pró-vida no Parque da Jaqueira, no sábado às 9h; um ato de valorização da vida, no Parque Dona Lindu, dia 10, às 19h; e um debate na Policlínica Lessa de Andrade, dia 22, as 10h.
“Tive muita sorte de ter apoio da minha mãe”
Marina (nome fictício) é um exemplo de como a ajuda que vem de casa pode dar certo. Ela, que passava por depressão e tentou acabar sua dor buscando a morte. Mas com orientação e carinho, conseguiu passar por esta situação. Em depoimento, ela conta sua história:
“No começo, eu não tive um motivo específico que posso chamar de gatilho para depressão. Não tem nada a ver com tristeza, embora esse seja um dos sintomas. É mais um vazio maçante, uma sensação de não querer existir. Mas aí o tempo foi passando e gatilhos externos também começaram a se acumular, como o término de um namoro conturbado, a descoberta de abuso na infância. Eu sabia que aquilo estava me matando aos poucos. Um dia pedi para minha mãe para eu não ir à escola, disse que estava me sentindo indisposta.
Nessa época, se eu ficasse algum tempo sozinha, tinha crises fortes de choro e ansiedade, então abri o armário da minha mãe para pegar um medicamento.
Eu só queria dormir pesado. Tomei um. Quando me dei conta, já tinha tomado alguns. Eu queria morrer, mas também queria ajuda. Liguei para minha mãe e disse o que tinha feito. Ela me levou num hospital. Minha mãe pediu licença de um dos empregos para ficar comigo. Ela disse que eu teria que tirar aqueles meses para cuidar da minha saúde. Eu tive muita sorte de ter o apoio dela.”