O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy foi detido nesta terça-feira para interrogatório em meio à investigação sobre suspeitas de que sua campanha eleitoral de 2007 recebeu financiamento ilegal do governo da Líbia. O ex-chefe de Estado, que liderou a França de 2007 a 2012, é ouvido pela primeira vez neste inquérito do Escritório Central de Luta contra a Corrupção e as Infrações Financeiras e Fiscais (OCLCIFF) em Nanterre, nas proximidades de Paris, que busca apurar se ele recebeu € 5 milhões do regime de Muamar Kadafi.
A informação foi publicada pelo “Mediarpart” e pelo jornal “Le Monde” e confirmada pela agência France Presse. Os juízes de assuntos financeiros investigam, desde abril de 2013, acusações sobre o financiamento da campanha presidencial de 2007 de Sarkozy pela Líbia, governada na época por Kadafi. O então líder líbio foi destituído e morto em 2011, durante a Primavera Árabe — onda de protestos pelo Norte da África e Oriente Médio que resultou na derrubada de uma série de regimes autoritários.
As acusações foram formuladas pelo franco-libanês Ziad Takieddine e alguns ex-funcionários líbios. Takieddine afirma ter entregado dinheiro no final de 2006 a Sarkozy, ministro do Interior na época, e a Claude Guéant, seu então chefe de Gabinete. Outros ex-empregados, no entanto, negaram o esquema. O ex-chefe de Estado, que continua sendo uma figura influente na política francesa, sempre desmentiu as denúncias.
Os magistrados apuram uma transferência de € 500 mil euros (mais de R$ 2,02 milhões) recebida por Guéant em março de 2008, procedente da empresa de um advogado malaio. O comprador afirmou que a quantia dizia respeito à venda de dois quadros. Guéant é ainda suspeito de falsificação de documentos e fraude fiscal.
Outro intermediário, o empresário Alexandre Djouhri, apresentado como um personagem-chave da investigação, foi detido em janeiro, em Londres. Ele está em prisão preventiva, à espera de uma audiência sobre a eventual extradição para a França, prevista para julho.
DETENÇÕES ANTERIORES DE SARKOZY
A detenção de Sarkozy pode ser prolongada por até 48 horas. Segundo a legislação francesa, uma pessoa pode ser levada sob custódia para que a polícia ou o juiz o interrogue “se existe uma ou várias razões plausíveis para suspeitas que tenha sido cometido ou tentado cometer um crime ou delito punido com pena de prisão (e não com simples multa)”. Após o período de interrogatório, o detido pode ser solto ou comparecer diante de um tribunal para ouvir uma decisão sobre eventual condenação.
Apesar de ser a primeira detenção de Sarkozy neste caso, não é a primeira vez que ele fica sob custódia para interrogatório desde que deixou o poder em 2012. Em 2014, ele ficou retido por 18 horas para prestar esclarecimentos. Na época, ele precisou se explicar sobre acusações de tráfico de influência e violação de segredos de instrução. A situação causou comoção no país, já que era a primeira vez que um ex-presidente era detido pela polícia de crimes financeiros.
LAÇOS COM KADAFI
Sarkozy estreitou a relação com Kadafi em 2005, depois que a França e seus aliados suspenderam as sanções contra a Líbia. Não foi um movimento incomum, já que era um momento de reaproximação com o país após anos de isolamento diplomático.
Antes mesmo de assumir a Presidência, como ministro do Interior, Sarkozy se reuniu com o ditador líbio, contando apenas com a participação de intérpretes, em Trípoli. Após sua vitória nas urnas em 2007, o então presidente francês se aproximou mais de Kadafi que até então era um inimigo internacional, acusado de financiar terrorismo contra países ocidentais.
No entanto, a relação se deteriorou. Em 2011, Sarkozy liderou a iniciativa para intervir militarmente na guerra na Líbia, que resultou na queda do regime e na morte de Kadafi. Um ano depois, o presidente francês perdeu as eleições de 2012 para o socialista François Hollande.