De O Globo
RIO — Mais um gestor do IBGEentregou o cargo por discordar da condução do Censo 2020 pela nova presidente do instituto, Susana Cordeiro Guerra. Nesta sexta-feira, foi a vez de José Guedes, gerente da Coordenação de Métodos e Qualidade, na área de Metadados. Na noite anterior, outros quatro coordenadores e gerentes haviam tomado a mesma atitude.
O anúncio foi feito durante o lançamento da Campanha Todos pelo Censo 2020, ocorrida na sede da Associação Brasileira de Imprensa, no Centro do Rio. Os quatro entregaram uma carta onde são feitas críticas à nova formulação do Censo.
“É notório que o processo de discussão acerca da definição dos questionários censitários não alcançou os objetivos desejados por todos os técnicos da Instituição”, ressalta a carta, que acusa a nova direção do IBGE de “encerrar unilateralmente o debate em torno do projeto censitário, ignorando categoricamente toda a estrutura formal de condução da maior operação estatística da América Latina”.
Ao subir no palco representando os colegas, Leila Ervatti foi ovacionada pelos quase 300 presentes no evento. — Desde que ela (Susana) assumiu, viemos num embate porque já tínhamos um trabalho de três anos de discussão com o corpo técnico para elaboração do Censo, e nossas propostas foram ignoradas. Eu como diretora de Demografia não posso me responsabilizar por um questionário que não contém perguntas que podem ter impactos nas projeções populacionais e consequentemente na distribuição do Fundo de Participação dos Municípios. Posso sofrer processos judiciais por isso — justificou Leila.
Em nota, a presidente do IBGE disse que entende e respeita a decisão dos gestores que deixaram seus cargos, por este ser um direito dos servidores. “Todos são excelentes profissionais e deram contribuições técnicas significativas até o presente momento. Como ótimos profissionais serão os técnicos do IBGE que irão substitui-los. O importante é unir forças para realizar um excelente Censo, preservando a missão institucional da Casa”.
A queixa dos cinco coordenadores é que houve quebra de autonomia por parte do novo diretor de Pesquisas do instituto, Eduardo Rios Neto, que foi empossado pela presidente do IBGE após demitir Claudio Crespo da função . Rios Neto não teria consultado o corpo técnico antes de definir que o novo questionário da amostra do Censo teria 76 questões, e o básico, que é o básico aplicado a 90% das famílias, 25 perguntas.