Cícero Lopes da Silva é professor, teólogo e mestrando em Ciências das Religiões pela Unicap
No Livro do Gênesis (Gn 1) está escrito que em seis dias Deus criou o céu e a terra, e no sétimo dia descansou de sua obra. A Ciência Moderna explica que a 14 bilhões de anos acontecia o Big Bang (Grande Explosão), e a partir de uma parte em 1042 de segundo, iniciava-se um processo de expansão do espaço-tempo e queda de temperatura que daria origem ao nosso Universo com um número incrível de bilhões de galáxias, bilhões de estrelas, milhões de planetas, satélites e astros de todos os tipos numa dimensão inimaginável (HAWKING, Stephen & MLODINOW, 2011; MIRANDA, 2010)!
Conforme Vernetti (2013), “A Terra formou-se há cerca de 4,6 bilhões de anos, quando era inabitável, devido aos rios de lava incandescente, temperatura elevadíssima, fumaça cobrindo a atmosfera, meteoritos e cometas cruzando os céus antes de chocarem-se com o planeta. Há 290 milhões de anos havia um único continente, o Pangea, formado por placas tectônicas adjacentes. Quarenta milhões de anos depois, o Mar de Tetis dividiu-o em dois: Gondwana e Laurásia. Aos 163 milhões de anos, o Gondwana dividiu-se em África e América do Sul. Há 60 milhões de anos formou-se a Europa e separou-se o norte da África”. Cerca de 3,5 bilhões de anos, surgiram os primeiros seres unicelulares nos Oceanos e, finalmente, o homem a 3 milhões de anos. Ufa!!
E aqui está o grande embate moderno: o modelo Criacionista versos o modelo Evolucionista. Mas há mesmo oposição entre Deus e a Ciência? Para muitos que tendem a ser cientificistas, o discurso sobre Deus é metafísico e impenetrável. Esta bem, mas vocês já ouviram como a Ciência explica um simples “olhar”? É assim: tudo começa com 1.350 gramas de cérebro humano, constituído por 100.000 milhões de neurônios, cada um dos quais forma entre 1.000 e 10.000 sinapses e recebe a informação que lhe chega dos olhos através de 1.000.000 de axônios acumulados no nervo ótico.
Então, é configurada a visão. Muito simples, não? Alguma coisa metafísica? Impenetrável? Às vezes parece que é preciso mais fé para acreditar nas coisas da Ciência do quem em Deus. Como diria Mia Couto, os conceitos da Ciência não são dados prontos, eles não preexistem, é preciso inventar os conceitos, e nisso há tanta criação, quanto, por exemplo, na arte (ALMEIDA, 2010; BRANDÃO, 2008).
Na verdade, o entrave não está na Ciência ou em Deus, mas no homem. Paul Sabatier (1854-1941), famoso químico francês, dizia que “Contrapor a Ciência à Religião é coisa de gente pouco informada, tanto em Ciência como em Religião”. E se Deus pensou o Big Bang? E se este foi o ato criador? Então a Teoria do Evolucionismo se tornaria “Pagina Sagrada”! Sinceramente não vejo incompatibilidade entre Deus e a Ciência, pelo contrário, vejo complementaridade (BETTO, 2011; 2012; MIRANDA, 2010). Por isso, concordo com Francis Bacon (1561-1626), político, filósofo e ensaísta inglês,quando dizia que “Um pouco de filosofia faz um homem ateu, muita filosofia leva-o a Deus”.
Por certo, a Ciência moderna se baseia em “verdades claras e distintas” (DESCARTES, 1999), no entanto, como analisa o psicólogo austríaco Watzlawick (2012, p. 149): “Ver demais pode levar a cegueira”. A racionalidade científica é, entre outras tantas, somente uma maneira de interpretação da realidade, não a única, nem a mais privilegiada; de modo que a arte, a filosofia e a tradição também fazem parte do mundo do saber (USARKI, 2006). Quanto à Bíblia Sagrada, não quer ser um livro de Ciências Exatas, mas um testamento de fé (MESTERS, 1987; PONTIFÍCIA, 1994)! Então se volte para a Ciência com a razão, e para a Bíblia com a fé; mas ouse pensar numa aproximação, uma complementaridade entre ambas, pois esta será a grande revolução do séc. XXI no campo da epistemologia (ALMEIDA, 2010; BRANDÃO, 2008; MIRANDA, 2010).
Albert Einstein (1879-1955), o pai da Teoria da Relatividade, já intuía isto de modo extraordinário: “O homem encontra Deus detrás de cada porta que a Ciência consegue abrir”. O livro do Gênesis, em seu gênero literário próprio, quer entrever uma grande verdade: EXISTE UM CRIADOR (STORNIOLO & BALANCIN, 1996)! E por mais que acumulemos conhecimentos e desenvolvamos tecnologias, a realidade ainda será a mesma: Deus é Criador, e o homem, criatura. Talvez o que falte no mundo moderno não sejam cientistas que sejam gênios, mas gênios que sejam homens de fé e saibam reverenciar seu Criador! A lição é simples, a erudição científica não precisa ser soberba, por certo, “Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha a nossa vã filosofia” (Hamlet- William Shakespeare). Fica uma pequena estória para refletir um pouco mais.
“Um cientista confiante apresentou-se para desafiar o Criador:
−Senhor, afinal posso competir contigo. Posso criar um ser humano a partir do simples barro.
O Criador, paciente como sempre, concordou: − “Tudo bem. Vamos começar”.
O cientista todo eufórico − “Pois não, Senhor, mas onde está o barro para a gente começar”?
Com um suave sorriso o Criador devolveu a pergunta:
– “Pois é; onde está o barro com o qual começar”?!?
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ALMEIDA, Maria da Conceição. Complexidade, saberes científicos, saberes da tradição. São Paulo: Editora da Física, 2010.
BETTO, Frei. A obra do Artista: uma visão holística do universo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012.
BRANDÃO, Carlos Antonio Leite. A república dos saberes: arte, ciência, universidade e outras fronteiras. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
DESCARTES, René. Discurso do método. Coleção os pensadores. São Paulo: Nova Cultura, 1999.
HAWKING, Stephen & MLODINOW, Leonard. O grande projeto: novas respostas para questões definitivas da vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
MESTERS, Carlos. Deus, onde estás? 10 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1987.
MIRANDA, Evaristo Eduardo. O íntimo e o infinito: o universo das ciências e o cosmos das religiões. Petrópolis: Vozes, 2010.
PONTIFÍCIA, Comissão Bíblica. A Interpretação da Bíblia na Igreja. São Paulo: Paulinas, 1994.
STORNIOLO, Ivo e BALANCIN, Euclides Martins. Conheça a Bíblia. São Paulo: Paulus, 2004.
USARSKI, Frank. Constituintes da Ciência da Religião: cinco ensaios em prol de uma disciplina autônoma. São Paulo: Paulinas, 2006.
VERNETTI, Francisco de Jesus. Artigo. Diário popular. Disponível em http://srv-net.diariopopular.
WATZLAWICK, Paul. O Livro da psicologia. São Paulo, Globo, 2012
3 comentários em OPÍNIÃO: Deus, o homem e a ciência; por Cícero Lopes