Bom dia, boa tarde e muito boa noite aos faroleiros e faroleiras de plantão. Vou fazer deste domingo um dia para mergulhar no imaginário popular e, por tabela, homenagear personagens que fizeram parte da minha infância e que continuam ainda muito vivos, apesar de terem falecidos. Foram serratalhadenses comuns. Pessoas simples que por muitas vezes foram taxados de loucos’pelo nosso preconceito de não saber conviver com as diferenças. Afinal, em tempos de meteoros, e num cotidiano cada vez mais capitalista, nunca é demais mostrar que pessoas comuns foram destaque pelo simples fato de terem vivido de forma singular.
Meu passeio pelas lembranças começa pelo saudoso Severino da Perua. Aliás, nunca soube a origem do termo ‘Perua’ no nome de Severino. Mas lembro de um negro gordo que sempre andava com a camisa aberta e de forma apressada. Quase sempre, carregando uma bacia na cabeça. Um outro negro também me vem a lembrança: Badé. Quem nao se lembra do cavaleiro que costumava vestir-se de branco, botas pretas, passos martelados e chapéu de massa? Badé era motivo de risos pelo simples fato de vestir-se diferente.
Já o ‘Luca Doido’ era o contrário. Não vestia quase nada. Era um andarilho de barba mal feita que andava descalços e amava o futebol. Tinha uma boa prosa e eu costumava o chamar de ‘O senhor dos anéis’. Reparem as semelhanças nestes três personagens: eram negros. Também tenho lembranças de um senhor (não sei o seu nome) que vendia tapiocas numa bacia extremamente limpa. O seu diferencial era um vozeirão que chamava a atenção de todos. Aos gritos, ele entoava o refrão: “Tapioca tá quente, tá quente, tá queeeeente”.
Como esquecer do Pedro Cego. Deficiente visual muito bem humorado que nunca se lamentava da vida e tinha sempre uma resposta pronta para uma pulha. “Pedro, olha o buraco”. E a resposta: “Não se preocupe, pois já tô com o pau dentro”, se referindo ao bastão que costumava carregar. Isto, sempre com um sorriso no rosto. Sei que existem muito mais pessoas de bem que fizeram a diferença mas agora é com vocês. Estes, são parte das minhas lembranças e foram coerentes em vida. Foram únicos e verdadeiros na difícil arte de viver.
Um bom domingo a todos!
39 comentários em OPINIÃO: Em tempos de meteoros, nunca é demais mergulhar nas lembranças do povo