Foto: Celso Garcia/Farol de Notícias
Publicado às 12h43 desta quarta-feira (2)
O cemitério de Serra Talhada estava limpo e bastante movimentado nesta terça-feira (1), várias pessoas andavam de uma lado para o outro com carrinhos de mãos lotados de baldes de água, homens carregavam nos lombos, mulheres na cabeça. Agachada por trás de uma lápide, estava uma senhora de 65 anos, calada, concentrada ao limpar a cova que serve de descanso aos parentes que já partiram desta vida. Com cuidado e zelo limpava a terra já agoada, semblante triste, mas firme, de quem carrega nos ombros grande responsabilidade.
Elizabeth Silva, mora no Alto Bom Jesus, e trabalhou durante um ano como zeladora de covas no cemitério, para ela, resultou no problema de saúde que adquiriu. Devido ao árduo trabalho, ficou doente da coluna, trancada em casa, porque o corpo não conseguia andar durante um bom tempo. Segundo ela, não foi fácil, mas venceu. Por outro lado, Elizabeth desabafou para o Farol de Notícias a dor, a tristeza, e o cuidado com a cova que já dura quatro anos, e abriga sua mãe, pai, irmão, esposo, filho, filha e sobrinho, mais de uma vida, muitas dores que ela carrega na alma.
‘Não vou aceitar lixo em cima deles, porque eles não eram lixo’
“Aqui a gente limpa hoje. Quando a gente vier amanhã está com um monte de entulho. Eu não vou aceitar. Isso não é normal, se a gente limpa, zela, é porque quer limpo. Mesmo que não tenha uma planta, está limpo. Vou reclamar ao fiscal, porque não pode ficar assim. Não vou aceitar! Meus entes queridos estão todos aqui, quem eu mais amei. Eu não vou aceitar lixo em cima deles, porque eles não eram lixo, não eram basculho”, desabafou Elizabeth Silva, que estava bastante chateada, e começou a detalhar a doença que enfrentou:
“Eu trabalhei somente um ano porque adoeci, fiquei de cama, hospitalizada. Havia dias de dar três entradas no hospital. Arrumei muitos problemas de saúde. Deus me deu minhas perninhas de volta para eu poder vir dia sim, dia não. Eu não andava, estava aleijada dentro da minha casa. Criei meus filhos trabalhando em casa de família, um ano aqui no cemitério. Fiquei com todos esses problemas, e estou contando a vitória porque estou andando. Perdi minha filha, fiquei em depressão; perdi meu filho, fiquei em depressão. Vou zelar pela covinha do meu povo. Espero que amanhã, não haja entulhos em cima”.
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