Fotos: Farol de Noticias-Renan Freire
Publicado às 15h40 desta quinta-feira (14)
Na manhã desta quinta feira (14), a equipe de reportagem do Farol foi acionada para apurar uma denúncia feita pela médica psiquiatra, Klenya Mourato, que atende na Unidade de Saúde da Família (USB) do bairro Borborema. A profissional denunciou o descaso por parte da Secretaria de Saúde com o posto, afirmando que não havia equipe de serviços gerais para realizar a limpeza diária da unidade.
Além dessa denúncia, a médica afirmou que costumava limpar a própria sala de consultório e que a falta de remédio e a demora para conseguir exames para os pacientes fez ela tomar esta atitude de expor os problemas passados pela comunidade em relação à saúde publica.
“Nós sabemos que vem verba para manter uma equipe completa para o posto de saúde. O banheiro é impossível de entrar, não tem pessoa para limpar o posto, só agora depois de 2 meses é que está vindo uma pessoa para limpar o posto uma vez por semana. Como médica, eu estou sendo a faxineira, a gente tem que lavar a própria sala, limpar varrer, sacudir e não e só aqui, todos os médicos do ‘Mais Médicos’ passam por isso. Nossos salários atrasam e nos fazem de empregados manuais do posto. A gente tem que lavar banheiro, tem que fazer tudo”, denunciou a médica, arrematando:
“Os pacientes reclamam que os exames nunca chegam. A gente solicita e os exames demoram, e muitas vezes não vêm para o paciente, falta remédio. A gente encaminha o paciente para um especialista e o que mais rápido consegue é em 6 meses, mesmo a gente falando que é urgente.”,
A reportagem do Farol questionou a profissional sobre a alegação de alguns representantes do governo municipal de que as denúncias feitas por ela não seriam legitimas, pois estava passando por um “surto”.
“Eles vão dizer qualquer coisa, e é claro que vão chamar a médica de louca por querer mostrar a realidade da saúde daqui. Alguém tinha que arregaçar as mangas. A gente já vem denunciando isso para própria secretária de saúde há séculos. A gente faz reunião, a gente manda e-mail. Se irritam quando a gente cobra, como se fosse um favor, se irritam se a gente pede uma pessoa aqui para limpar o posto. A gente fica refém”, desabafou a psiquiatra.
Ao Farol, Klenya Mourato explicou que resolveu denunciar pois solicitou a secretaria com urgência um exame para uma de suas pacientes que está correndo risco de ter infarto e que o exame foi negado por Lisbeth Rosa Lima. A médica ainda informou que tudo o que aconteceu hoje na Unidade de Saúde foi acordado entre os profissionais do “Mais Médicos”. Klênia chamou atenção para a falta de respeito com a comunidade e diz saber que existem pacientes que por terem amizade com vereadores, ou até mesmo com pessoas de dentro da secretaria, conseguem passar na frente dos demais.
Ela lamentou o fato de que muitas pessoas que não tem problemas de saúde sérios conseguem com facilidade os exames, enquanto pacientes carentes da comunidade precisam esperar meses ou até anos para serem atendidos por um especialista.
“Chegou o limite, não adianta conversar com a secretária de saúde, não adianta se reunir e mandar várias mensagens para ela porque nada acontece. A gota d’água foi a paciente com 3 anginas e a médica pedir a secretária para conseguir com urgência um exame para essa paciente e a secretária negar. Como é que alguém que já teve 3 anginas vai esperar? Quando no fundo, a gente sabe que se tivesse as costas largas ou amizade com algum vereador ou alguém que tivesse contato com a secretaria de saúde conseguia na hora. A saúde atual com a secretária de saúde que temos esta um caos” disse Klenya.
FALTAS NO TRABALHO
Sobre ser acusada de faltar muito ao expediente, a psiquiatra informou que realmente faltava, mas que estava amparada por lei e por atestados médicos. Ela ainda parabenizou os pacientes por denunciarem e diz ser justo que eles façam as reclamações.
“Os pacientes têm o direito de ter outro médico aqui. Colocaram outro médico aqui uma ou duas vezes por semana, Dá conta? Não dá. Essa área é muito carente, eles precisam de atendimento. Eu vou culpar eles por me denunciarem? Não! Eles têm razão, eles também adoecem, eles precisam de médico aqui. Não julgo, eles estão certos. Porque é obrigação da secretaria de saúde, quando o medico se ausentar, colocar outro no lugar e não um que venha uma vez duas vezes e vá embora.” explicou.
Por fim, a profissional relatou que estava denunciando não por questão politica, mas sim por estar cansada de toda a situação da saúde e por preocupação com seus pacientes.
“Tenho meu próprio consultório e um emprego federal que inclusive já pedi desligamento porque eu não fui contratada pelo “Mais Médicos” para lavar chão, nem consigo lidar com essa situação vendo meus pacientes morrendo a mingua. A saúde esta acabada. A saúde de Serra Talhada não existe. Não temos nada. Hoje com a atual secretaria de saúde nós não temos mais nada a não ser desrespeito pela vida do paciente” finalizou a psiquiatra.
ASSESSORES ESTIVERAM NO LOCAL
Um fato curioso chamou a atenção da reportagem. Ao chegar na Unidade de Saúde, a equipe se deparou com uma verdadeira força tarefa composta por membros da prefeitura Municipal de Serra Talhada.
A médica informou que a Secretária de Saúde disse que a polícia deveria lhe conter porque estava ‘”descontrolada” e “com problemas mentais”. Lisbeth não quis falar com a reportagem explicando que “Tércio (secretário de Governo) disse que ela deveria ir embora”. Além dos funcionários da prefeitura, havia agentes da Polícia Militar e médicos do Samu, que afirmaram que a médica não estava em surto, estava psicologicamente estável.
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