Lembranças do Padre Jesus e a história com o Papa João Paulo II

Publicado às 05h54 desta sexta-feira (13)

Por Luiz Ferraz Filho, membro da Academia Serra-talhadense de Letras (ASL) e pesquisador da história de Serra Talhada

Nessa quinta-feira (12), feriado da padroeira Nossa Senhora Aparecida, lembramos com saudade do infortúnio 32 anos de falecimento do Padre Jesus Garcia Riano, em 12 de outubro de 1991, na casa paroquial de Nossa Senhora da Penha, em Serra Talhada (PE).

Nascido em 18.12.1904, em Cerezo, na Espanha, tornou-se um dos maiores religiosos da nossa história. Imigrou para o Brasil em junho de 1933, para servir como coadjutor do bispo Dom Adalberto Sobral, na Diocese da Barra do Rio Grande, no sertão baiano. Depois acompanhou o bispo na transferência para a Diocese de Pesqueira, em Pernambuco, sendo posteriormente nomeado – em dezembro de 1936 – para a paróquia da Penha, em Serra Talhada – PE.

Muito anos após seu falecimento, o bispo de Afogados da Ingazeira, Dom Francisco Austregésilo de Mesquita Filho, confidenciou em entrevista alguns episódios que ele teve com seu amigo vigário Padre Jesus. “Ele era muito zeloso: aquilo que podia fazer fazia. Até depois de ter perdido a visão, ele se preocupava muito com seu trabalho de padre.

Sei que ele tinha muita aceitação do povo de Serra Talhada, apesar de algumas atitudes, de alguns aborrecimentos. Uma coisa o fazia muito estimado: a disponibilidade em atender aos doentes. Se alguém tivesse um doente em qualquer canto da cidade ou do interior e fosse chamá-lo, ele atendia imediatamente sem criar dificuldade. Quando morria uma pessoa ele era dos primeiros a chegar àquela casa para dar uma palavra de apoio, rezar, fazer encomendação do cadáver. Isso o povo gostava. Também era totalmente fora da política partidária. Não votava, era estrangeiro e nunca se naturalizou brasileiro: não o acusavam de fazer política, política que era forte em Serra Talhada”, relatou o querido bispo Dom Francisco.

RECADO DO PAPA

Outro episódio importante, foi o relato inédito de um conselho que o Bispo Dom Francisco pediu ao Papa João Paulo II sobre a permanência do Padre Jesus, doente e já em avançada idade, na paróquia da Penha.

“Ele sempre me pedia, por tudo, que não o demitisse da paróquia. Mas a certo ponto, no presbitério, cresceu uma preocupação de que o povo de Serra Talhada não estaria mais sendo bem atendido. Numa das visitas “ad limina” a Roma eu levei o problema ao papa (João Paulo II), numa conversa pessoal, junto com outros problemas, disse a ele que havia um padre doente que já tinha passado da idade em que o Concilio aconselhava a entregar a paróquia, e que ele vivia cansado mas pedia-me, por tudo no mundo, deixá-lo até quando Deus quisesse à frente da Paróquia. E alguns colegas dele já achavam que eu deveria tirá-lo. Colocar um coadjutor seria pior: ele ia se contrariar muito, sentir-se humilhado; um padre novo não agüentaria, pois as mentalidades seriam muito diferentes. O papa me disse: ‘Olhe, olhe, não tire o velhinho, não. Deixe-o: viveu a vida toda como vigário, fazendo o que era da época dele. Primeiro, leve uma benção minha pessoal para ele: é um exemplo para muitos padres, este apego ao ministério. Assim eu também fico mais tranquilo’. Então fiz como o papa tinha pedido: visitei-o, levei a benção que o papa tinha mandado pra ele, sem dizer que tinha colocado o problema. Ele ficou muito contente, até os olhos se encheram de água”, revelou o bispo Dom Francisco.

Mesmo diante da insistência em querer continuar, acabou o Padre Jesus se convencendo da necessidade de renunciar a gerência da paróquia da Penha, em 18 de dezembro de 1990, quando completava 86 anos de idade e 54 anos de irrestrito sacerdócio em nossa terra. Por coincidências da vida que somente Deus pode explicar, Padre Jesus faleceu em 12 de outubro de 1991 na casa paroquial no exato dia que pisava em nosso solo o Papa João Paulo II para sua segunda visita ao Brasil. Aquele mesmo Papa que aconselhou o Bispo da importância do legado e da dedicação que o velhinho Padre Jesus teve com a religiosidade do nosso povo.

O corpo do Monsenhor Jesus Garcia Riano foi sepultado no dia seguinte (13), no campo santo da Igreja Matriz da Penha, com missa encomendada pelo vigário substituto, Padre Egídio Bisol, o mesmo que anos depois também substituiria Dom Francisco na cátedra da Diocese de Afogados da Ingazeira. Para esses quatro grandes religiosos citados nessa breve crônica, nosso eterno agradecimento.