
Do Época Negócios
Um novo estudo publicado na revista “Nature” revelou que o núcleo interno da Terra está desacelerando e agora mais devagar do que as camadas externas. Segundo os cientistas, a desaceleração acontece há pelo menos 14 anos, e essa tendência misteriosa poderá alongar os dias no nosso planeta — embora os efeitos sejam provavelmente imperceptíveis para os que vivem aqui.
Desde que os cientistas começaram a mapear as camadas internas da Terra com registros detalhados de atividade sísmica há cerca de 40 anos, o núcleo interno girava um pouco mais rápido do que o manto e a crosta.
“Quando vi os sismogramas que indicavam essa mudança, fiquei perplexo. Mas quando encontramos mais duas dúzias de observações que sinalizavam o mesmo padrão, o resultado era inescapável”, disse John Vidale, sismólogo da Universidade do Sul da Califórnia (USC), Dornsife, em um comunicado.
A explicação para o alongamento dos dias se deve a possível alteração da atração gravitacional do núcleo terrestre, que poderia eventualmente fazer com que as camadas externas de nosso planeta girem um pouco mais lentamente, alterando o comprimento dos nossos dias, dizem os pesquisadores. Apesar disso, qualquer mudança estaria na casa de milésimos de segundo, o que seria “muito difícil de notar”, disse Vidale.
Esta não é a primeira vez que os cientistas sugerem que o núcleo interno da Terra está desacelerando. Esse fenômeno, conhecido como “retrocesso”, tem sido debatido há cerca de uma década, mas era considerado até então muito difícil de se comprovar. O novo estudo é a “evidência mais convincente” até agora de que o retrocesso está ocorrendo, disse Vidale.
Os pesquisadores analisaram dados de mais de 100 terremotos repetitivos — eventos sísmicos que ocorrem repetidamente no mesmo local — ao longo de uma fronteira de placa tectônica nas Ilhas Sandwich do Sul, no Oceano Atlântico Sul, entre 1991 e 2023.
Cada terremoto permitiu aos cientistas mapear a posição do núcleo em relação ao manto, e ao comparar essas medições, a equipe foi capaz de ver como a taxa de rotação do núcleo interno mudou ao longo do tempo.
Mesmo com o novo material, permanece o mistério sobre o por que o núcleo interno está retrocedendo. As principais hipóteses, segundo os cientistas da USC, são a “agitação do núcleo externo de ferro líquido que o rodeia” ou os “puxões gravitacionais das regiões densas do manto rochoso sobrejacente”.