
Por Paulo César Gomes, professor, pesquisador, historiador, escritor, colunista do Farol e apresentador da TV Farol
A coluna “Viagem ao Passado” publica hoje a segunda parte da história da professora Francisquinha Godoy. Nessa matéria, alertamos aos faroleiros sobre as fortes declarações que virão, assim como as imagens.
Todo material foi cedido pelos filhos de Francisca Godoy: Socorro, Serginho e Freddy Godoy.
Essa série de reportagem também busca servir de alerta para muitas mulheres que vivem relacionamentos abusivos.
Recentemente, a secretária municipal da mulher, Vera Gama, fez a seguinte declaração:
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“O Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), é uma ferramenta essencial na luta contra essa barbárie. Em 2024, atendemos 315 mulheres, totalizando 849 atendimentos nas áreas jurídica, social e psicológica. Trabalhamos de forma integrada com a Guarda Civil Municipal, Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público e o Judiciário, mas ainda há muito a ser feito para que crimes como esses deixem de ocorrer”. O número do 14º Batalhão de Polícia Militar para realização de denúncia é o (87) 9 9995-4641. Existe também o número 180. Diga não a violência contra a mulher!
UMA HISTÓRIA DE AMOR QUE TERMINOU EM TRAGÉDIA

Em caderno de anotações pessoais, com cópias cedidas pela família, Francisca Godoy demonstra ser uma esposa apaixonada e feliz com o marido José Nunes.
Em determinado trecho, transcrito por este colunista, a jovem professora escreve: “Zezinho e Francisquinha, um do outro e os dois de Deus”.
Ainda nesse caderno, ela relata como os dois se conheceram:
“Nos conhecemos no dia 15 do 11 de 1953, em frente ao CINE ART, e começamos a namorar nesta mesma noite num baile, Clube Intermunicipal (CIST). Nosso casamento foi realizado no dia 25 de novembro de 1956”.
Com o passar do tempo e o nascimento dos filhos, as coisas se modificaram, e Zezinho passou a se mostrar um homem manipulador, oportunista e abusador da própria esposa.
Dona Francisquinha trabalhava em três escolas: Solidônio Leite, Cônego Torres e Escola Normal Imaculada Conceição.
Apesar disso, era Zezinho que se apossava do dinheiro que era fruto da jornada tripla da companheira.

MÃE E FILHA SENTEM PREMONIÇÕES
Diante das agressões frequentes tanto à esposa como aos filhos, Zezinho acabava impondo medo a todos e todas que moravam com ele.
Socorro, era a filha mais perseguida: “Ele queria me possuir, teve vezes que eu tive que pular o muro do vizinho, outra vez eu tive que pegar um facão para me defender”, relembra.
O caso da violência doméstica era de conhecimento de autoridades judiciais e de membros da família, mas o conservadorismo e machismo da época predominaram.
Segundo Socorro, alguns parentes “preferiam evitar um escândalo que manchasse o sobrenome das famílias”.
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Muitos se perguntam o porquê de dona Francisquinha não ter deixado Zezinho antes de morrer. Três situações podem explicar essa postura adotada por ela.
A primeira, era a fé em Deus. Ela sempre pedia para que ele mudasse, essa esperança era alimentada quando ele adoecia e parava de beber e praticar atos de violência.
A segunda, era o medo de que ele viesse a matar algum de seus filhos, e o terceiro, foi a ameaça de morte que Zezinho fez a Antônio Peixoto, irmão de Francisca, que foi até a casa dela tirar satisfação em relação a conduta de violências cometidas contra a irmã.
Zezinho ficou possesso com esse gesto e jurou que se Francisquinha deixasse ele, mataria seu Antônio.
Temendo pela vida do irmão, que já era pai de vários filhos, ela preferiu carregar a cruz até o calvário.
O apoio que Francisquinha recebia era das amigas, com as quais compartilhava o seu sofrimento e com a presença, a compressão e o amor dos filhos que estavam sempre juntos, diante do terror que era a vida da família Godoy Carvalho.
Socorro relata que certa vez teve um sonho e nele, o pai matava a mãe.
“Eu tive esse sonho e no outro dia contei para mamãe, nós éramos muito amigas, ela me respondeu que também havia tido um sonho parecido”, conta Socorro.
Todas essas as premonições e os relatos escritos de próprio punho por Francisquinha, onde um deles ela afirma que Zezinho “era um germe repugnante”, culminou com uma das maiores tragédias da história de Serra Talhada.
07 DE SETEMBRO DE 1973, UM DIA QUE NUNCA CHEGOU AO FIM
Segundo Serginho Godoy, filho que na época tinha apenas 10 anos, uma semana antes da tragédia, ele chegou da escola e encontrou o pai com uma arma:
“Eu cheguei da escola e meu pai estava com um revólver, ela estava com minha irmã mais nova mexendo o gagau (mingau), e ele com revólver em cima dela, que ia matar ela, ela não ia se despedir dos filhos”.
Uma das irmãs pediu para ele chamar alguns parentes para virem intervir na situação. Para a sua surpresa, de Serginho, esses parentes (que ele prefere não citar os nomes), ao invés de ajudar acabaram caindo na farra:
“Os parentes ao chegaram lá em casa foram tomar cachaça com ele (Zezinho) e ouvi-lo tocar violão. Eu fiquei triste com isso, porque eles poderiam ter evitado o que aconteceu uma semana depois”.
Segundo alguns familiares, Zezinho premeditou o crime desde a manhã do dia 7. Ele retirou os parafusos da porta onde ele dormia e onde ficava a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, para facilitar a fuga. Segundo Socorro e outros irmãos, o outro alvo dele era o ex-prefeito Tião Oliveira. Ele queria atrair Tião Oliveira para a sua casa, para tentar matá-lo.
Segundo Socorro Godoy, “ele tinha muito ciúmes de Tião, porque ele foi aluno de mamãe e sempre que a encontrava conversava com ela”. Uma das teorias dos filhos é que “Zezinho queria matar Francisquinha e Tião ao mesmo tempo, para dizer que eles eram amantes e ter um álibi, que matou para lavar a honra”.
Serginho Godoy revelou durante áudio enviado por aplicativo de mensagem, que passou todo o dia na companhia do pai, viu que ele bebeu com amigos, e que os dois chegaram em casa por volta das 18h. Duas horas antes do crime.
“A família jantou e ele deu dinheiro para alguns filhos irem para a festa, eu não fui porque eu já tinha andado na canoinha o dia todo e que já tinha tirado a roupa. Eu fui para meu quarto e fiquei sozinho, brincando com minhas notas de cigarros e com o bozó”.
“Rosarita (Rosário) estava com mamãe lavando os pratos, debaixo de um pé de siriguela, onde tinha uma mangueira de água, por que a casa estava em construção. Ouvi quando ele chamou mamãe: Francisquinha venha aqui que eu tenho um presente. Poucos minutos depois ouvi os tiros e vi Rosário gritando”, relembra Serginho, revelando>
“Corri atrás dele, mas depois voltei para casa e encontrei Rosário segurando mamãe que estava caída e muito ensanguentada. Rosário ainda tentou reanimá-la e eu ouvi quando Rosário disse: “Ela morreu feliz”, descreve de forma emocionada Serginho Godoy.
Socorro não estava em casa, mas ela afirma que não queria sair e que na noite anterior, estava com um pressentimento. No entanto, ela foi convencida pela mãe a sair no dia seguinte. “Durante a noite, ela fez um vestido e acabei saindo para festa. Foi na praça que eu recebi a triste notícia de que papai havia matado mãe”.
Na fatídica noite do dia 07 de setembro de 1973, estavam em casa os filhos: Rosário (13 anos), Freddy (que iria completar 08 anos no dia 14 de setembro), Léo (5 anos) e Virginia (2 anos). Com a presença de tantas crianças, Zezinho encontrou o ambiente perfeito para executar o crime que já desejava há anos.
MAIS EMOÇÃO
Leia com atenção o depoimento forte e emocionante de Freddy Godoy, um dos filhos de Frasciquinha Godoy, enviado por meio de aplicativo de mensagem.
Ele estava na casa da tragédia. Confesso que esse humilde escriba foi as lágrimas ouvindo esse relato.
“Eita Paulo! Dizer que é confortável lembrar daquele dia não é não. Eu me lembro bem que estava brincando com os amiguinhos de rua lá fora. Acho que no dia 07, mamãe já imaginava que algo de mal ia acontecer. Ela nos chamou para casa. Aqui em casa, a sala era grande e aberta e dava para ver meu pai, judiando de minha mãe (lágrimas). Aquilo doía na gente e nós não podíamos fazer nada.
“Alguns dos meus irmãos mais velhos tinham ido pra missa da Festa de Setembro e nós ficamos em casa. Rosarita (Rosário) ficou em casa porque tinha ido no dia. Côca (Socorro) tinha ido para missa. Rosarita e Côca revezavam cuidando da gente. A gente estava em casa brincando quando ouvi os tiros (Silêncio)…
“Minha irmã colocou a irmã caçula no chão e correu para a porta. Meu pai abriu a porta. Quando eu vi minha mãe deitada no chão ensanguentada (lágrimas)… Minha irmã Rosarita pulou nas costas de meu pai. Eu me abracei com o Leonino (Léo), meu irmão mais novo. A gente chamava palavrão com ele (Zezinho). Era a única coisa que podíamos fazer”.
“Teca, que era uma vizinha, filha de Seu Enoque da mercearia, que tinha aqui na esquina, veio com uma vela e colocou na mão de minha mãe. E as últimas palavras que eu ouvi dela, foi dizendo: “me mate, mas não mate meus filhos!” (lágrimas)… Essa cena está gravada até hoje (lágrimas)…eu vi minha mãe desfalecer. Eu saí como um louco, Rosarita me pegou e pediu para eu avisar Titia Dô (Eleonor Godoy, esposo de Seu Madeira) e eu corri naquela praça como um louco e não tinha ninguém na casa”.
“Foi para a Igreja e tentei entrar, a Igreja estava lotada e Seu João Duque me reconheceu e me pegou nos braços e perguntou o que tinha acontecido e disse: “meu pai matou minha” (lágrimas)… Isso até hoje fere, até hoje machuca (silêncio). Mas eu agradeço por você está lembrando dessa história. Parabéns, belíssimo trabalho e fique com Deus”.
Uma das testemunhas do crime foi a vizinha dona Mara Fogueteira (foto acima), no entanto, ela não estava no quarto, viu a situação através de cobogós, pois como a casa estava em construção no quarto não havia janela.
Em depoimento ao programa Globo Repórter, em 1977, dona Mara vez o seguinte relato: “Ela estava rezando, ele chegou e deu um murro no rosto dela”, esse murro para os filhos foi dado com uma soqueira (peça de couro com vários grampos).
Dona Mara ainda afirmou, “o sangue do rosto dela ficou marcado na parede, bem abaixo da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, depois ele deu dois tiros”.
Segundo a família, foram três tiros: um no pescoço, outro no seio e o último na vagina.
Dona Francisquinha ainda foi levada para a Casa de Saúde São Vicente mas, já estava sem vida, a perícia médica foi assinada pelo então médico Inocêncio Oliveira.

Na certidão de óbito consta as seguintes causas da morte: “Ferimento penetrante da região carotidiana esquerda com lesão da artéria carótida, ferimento da região sub-clavicular direita, ferimento transfixante da face”.
No último capítulo da série, o leitor irá saber como foi a comoção na cidade com assassinato de dona Francisquinha, o destino de Zezinho Carvalho, como ficaram os nove filhos órfãos de mãe e as graças alcançadas por pessoas que atribuem a intervenção de Dona Francisquinha, entre eles, o relato de Graça Perígio.
Caso o leitor queira relatar com documento médico, a doença e a cura, entre em contato com Paulo César Gomes, através do WhatsApp (87) 9 9938-0839.
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