O Professor Data Show – Reflexões de 2025

Por Inácio Feitosa, Advogado e diretor-fundador do Instituto IGEDUC, Diretor da Editora da OAB  

Em 2006, escrevi um alerta sobre o surgimento de uma nova figura no universo educacional: o Professor Data Show. Um perfil que trocou a lousa e o diálogo pela projeção incessante de slides — e, em muitos casos, pelo hábito inquestionável de lê-los na íntegra, como se a turma fosse formada por cegos alfabetizados em braille visual.

Pois bem: chegamos a 2025. A tecnologia avançou, e o cenário educacional também. Hoje temos inteligência artificial em sala de aula, plataformas adaptativas, realidade aumentada, hologramas e até robôs que atendem pelo nome de “professor digital”. Mas, por incrível que pareça, a essência do problema continua a mesma: ainda há quem confunda tecnologia com pedagogia.

O digital se sofisticou, o erro se repetiu

Se antes a crítica era ao uso repetitivo do PowerPoint, hoje falamos de professores que automatizam suas práticas por completo. São vídeos genéricos, atividades “copiar e colar”, interações robotizadas e o uso exagerado de recursos que impressionam visualmente — mas não ensinam de verdade.

É o “Professor Data Show 5G”: conectado, atualizado, multitela… mas emocionalmente offline.

Ferramentas mudam. Princípios, não.

A tecnologia é um instrumento poderoso, sem dúvida. Pode transformar a experiência de aprendizagem, facilitar o acesso ao conhecimento, personalizar o percurso de cada estudante. Mas ela não substitui o papel do educador. Nunca substituiu — e, ao que tudo indica, jamais substituirá.

Ensinar é mais do que transmitir informações: é construir sentido, é provocar pensamento, é mediar relações humanas. E isso, sinto muito, ainda está fora do alcance dos algoritmos (pelo menos por enquanto).

O “Professor Data Show” ainda vive — só que atualizado

Usa inteligência artificial para montar a aula e não revê uma linha.

Projeta vídeos longos e sai da sala para “resolver outras demandas”.

Substitui o contato com o aluno por mensagens automáticas.

Aplica avaliações digitais sem feedback ou devolutiva formativa.

Enfeita o material didático com transições, gifs e gráficos, mas sem intencionalidade pedagógica.

Ou seja: é muita tela e pouca troca. Muito dado, pouca escuta. Muito clique e pouco vínculo.

Diretrizes para um uso responsável (e humano) da tecnologia em sala

1. Tecnologia é meio, não fim. Usá-la por usar é esteticamente bonito, mas pedagogicamente vazio.

2. Slides não são roteiro de teatro. Evite ler o que está projetado — o aluno sabe ler, e merece mais que isso.

3. A IA é aliada, não salvadora. Ela te ajuda, mas não pode ensinar no seu lugar.

4. Aula digital também precisa de calor humano. Mesmo na educação remota, o afeto é insubstituível.

5. Ferramentas impressionam, mas é o professor quem inspira. Não perca isso de vista.

Considerações finais

A verdade é simples: quem educa é o professor, não o equipamento. O projetor só ilumina a parede — quem ilumina a mente é o educador. E se esse educador se ausenta do processo, pouco importa se o recurso é analógico ou digital: a aula será rasa, e o aprendizado, prejudicado.

O que defendi em 2006, repito com convicção em 2025: educar é uma arte. Uma arte que exige presença, escuta, improviso, técnica e paixão. Quem quiser automatizar tudo pode até obter eficiência. Mas dificilmente alcançará impacto.

Portanto, sejamos professores. Com ou sem data show. Com ou sem IA. Com ou sem hologramas. Mas, acima de tudo, com humanidade.

E, como sempre digo: se o contato com o aluno incomoda mais do que encanta, talvez seja hora de repensar a carreira. Ou de ir pescar com os filhos — ao menos lá, a isca é sincera.