O médico serra-talhadense, Lourival Rodrigues, enviou uma opinião polêmica criticando os entusiastas da recém inaugurada Casa de Parto Humanizado de Serra Talhada.
A entrega do equipamento, que irá funcionar no bairro da Caxixola, contou com a participação de ministros de estado, senador, deputado, vereadores, secretários e apoiadores da prefeita Márcia Conrado [relembre].
Na ocasião, a secretária municipal de Saúde, Lisbeth Rosa Lima, exaltou o equipamento, lembrando que “marcará a história das futuras mães da nossa cidade e seus filhos.”.
Segundo Lisbeth, estudos epidemiológicos mostram que mais de 80% dos partos realizados em Serra Talhada são por meio de cesarianas.
“Nosso Centro de Parto Humanizado tem capacidade de ofertar 70 partos mensais, o que contabiliza mais de 800 partos por ano. Isso vai representar uma grande mudança incontestável na vida das gestantes”, declarou a secretária.
Mas na visão de Dr. Lourival não. Confira abaixo o seu depoimento e ao final deixe seu comentário sobre o tema.
Receba as manchetes do Farol de Notícias em primeira mão pelo WhatsApp (clique aqui)
OPINIÃO – DR. LOURIVAL RODRIGUES – CASA DE PARTO DE ST
Como médico ginecologista e obstetra com anos de experiência na linha de frente do cuidado perinatal, manifesto minha profunda preocupação e indignação com a recente inauguração de uma “Casa de Parto Normal” pela Prefeitura, sem a devida estrutura de retaguarda para intercorrências obstétricas — especialmente a ausência de suporte imediato para parto cesariano e unidade de terapia intensiva materno-neonatal.
Essa conduta institucional é temerária, antiética e, acima de tudo, ilegal. Parto não é evento de baixo risco isolado — é um processo dinâmico, onde situações críticas como sofrimento fetal agudo, hemorragias, distócias ou eclâmpsia podem surgir em questão de minutos. A ausência de capacidade resolutiva imediata configura grave negligência contra a vida da gestante e do recém-nascido.
Segundo a Resolução nº 36/2008 da ANVISA, que estabelece o Regulamento Técnico para funcionamento dos serviços de atenção obstétrica e neonatal, toda unidade destinada ao parto deve ter infraestrutura compatível com o manejo de urgências e emergências, incluindo acesso rápido a centro cirúrgico, anestesia e suporte neonatal intensivo.
Mais ainda, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) assegura no artigo 7º o direito à vida e à saúde com atendimento eficaz, digno e com recursos adequados para parto e nascimento seguro — o que, claramente, está sendo violado por essa iniciativa improvisada.
É inadmissível que, em nome de uma suposta humanização do parto, se despreze a segurança assistencial básica. Humanização não é improviso.
Humanização não é romantizar o parto sem garantir segurança e respaldo técnico. Essa estrutura, nos moldes em que foi apresentada, não é uma casa de parto: é uma armadilha institucionalizada.
Apelo aos órgãos de controle, como o Conselho Regional de Medicina, Ministério Público, Defensoria Pública, e também ao Conselho Federal de Enfermagem, para que se posicionem com urgência.
A persistência nessa estrutura pode, em curto prazo, cobrar um preço altíssimo: vidas perdidas que poderiam ser salvas com uma simples cesariana feita na hora certa.
Como profissional da saúde, minha missão é proteger mães e bebês. Não posso me calar diante de tamanha irresponsabilidade.
29 comentários em Médico de ST critica Centro de Parto Humanizado entregue por Márcia