Há 91 anos nascia Francisquinha Godoy, vítima de uma tragédia em ST

Há exatos 91 anos, na Fazenda Surubim, em Serra Talhada, nascia Francisca, filha do Sr. Manoel Mário Nunes Peixoto e Ana Godoy Peixoto, que meses depois mudaram-se para a sede do município com toda a família, por motivos de saúde.

Desde pequena, Francisca tinha um grande interesse pelas atividades escolares, despertando assim a atenção do seu genitor que atentamente observava o seu desempenho.

Se preocupando com o futuro e buscando apoio junto ao filho Abel Nogueira Peixoto, tabelião respeitado da cidade de Gravatá-PE, para que o mesmo custeasse os estudos de sua filha.

francisquinha godoy
Foto: Arquivo Pessoal

Razão esta que levou a jovem de apenas 13 anos para morar em Gravatá, em 1947, deixando para trás seus sonhos de menina, buscando uma nova sociedade e novos interesses, mas nunca esquecendo do seu amor, sua terra natal Serra Talhada.

Em Gravatá, estudou no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, administrado pelas Irmãs Dorotéias, que tinha como diretora a Madre Pessoa. Lá ela era muito querida, pela competência e simplicidade que lhe era peculiar.

Em 08 de dezembro de 1951, concluiu o curso de magistério e logo em seguida voltou para Serra Talhada, assumindo a regência efetiva da cadeira nº 93, localizada na Escola São Vicente (atual Colégio da Imaculada Conceição), onde começou a lecionar. O Hino do Colégio têm a letra de Francisquinha e a melodia do seu futuro esposo.

Há 91 anos nascia Francisquinha Godoy, vítima de uma tragédia em ST

Como amante incondicional da profissão que abraçou, começou a ser reconhecida e valorizada, visionária e pesquisadora.

Sempre buscou o melhor método de alfabetização, democratizando o ensino, nascendo um vínculo forte de amor e carinho entre seus alunos e suas famílias, gerando um elo de gratidão e amizade duradoura.

Assim conquistou respeito e muitas responsabilidades, pois sempre era procurada quando se tratava de criar ou produzir eventos diversos. Ou até mesmo para fazer cursinhos preparatórios para as professorandas que se inscreviam em concursos públicos.

Em 1956, aos 22 anos, casou-se com José Nunes de Carvalho Filho (Zezinho), natural de Triunfo, na antiga capela do Hospam, com a bênção de Pe. Luiz. Desse matrimônio nasceram nove filhos.

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UMA MÃE VITIMADA POR UM PSICOPATA

Francisquinha e Zezinho tinham tudo para ser um casal feliz. O ciúme doentio, a possessividade, a agressividade com os filhos e as ameaças a pessoas da família, tornaram Zezinho um psicopata e um pedófilo, que perseguiu durante anos a sua filha mais velha de apenas 15 anos.

“Mulher minha e filha minha não é para homem nenhum, são só para mim”, dizia Zezinho Carvalho, segundo depoimentos da filha, Socorro Godoy.

Enquanto isso, a professora Francisquinha se dividia entre o trabalho, a casa e o cuidado com os filhos. Filhos pelos os quais prometeu dar a própria vida para protegê-los.

Há 91 anos nascia Francisquinha Godoy, vítima de uma tragédia em ST
Arquivo Pessoal – Foto 1 / Foto 2

Ela era devota de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e costuma às terças-feiras reza as novenas na Concatedral de Nossa Senhora da Penha. Quis o destino que Fransciquinha Godoy fosse assassinada aos pés da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Francisca Godoy já não aguentava tanto sofrimento vivido ao longo de um relacionamento de pouco mais de 17 anos. Em um dos seus cadernos de anotações ela fez um desabafo:

“Não aguento mais. Vou embora. Zezinho é o germe mais imundo e repugnante que pode existir na natureza”. Em outro trecho ela faz um apelo emocionado a Deus:

“Cada hora de tortura é Vossa Senhor. Suplico-vos ó Pai, amparai e protegei os meus filhos”. Relato feito também pela filha. Essas palavras foram escritas em 31 de julho de 1973, poucos mais de um mês depois ela foi assassinada.

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FRANCISQUINHA E VANETE ALMEIDA: AMIZADE QUE A MORTE ABALOU

A Francisca Godoy e Vanete Almeida (Netinha) se conheceram em um ambiente escolar. A primeira, como professora, e a segunda, como aluna.

A relação das duas foi descrita por Netinha em uma entrevista, concedida em 17 de novembro de 2006, a Imaculada Lopez, seis anos antes de sua morte, em função de um câncer no útero.

Segundo Vanente, Francisquinha foi sua professora durante uma fase de formação educacional.

“Minha professora, Francisca Godoy, que me acompanhou em todo período escolar, depois que eu saí da escola, se travou uma amizade entre nós. Nós éramos amigas, nos visitávamos…. Eu fui acompanhando cada filho que ela tinha. Ela tinha um casamento péssimo, cheio de violência. E o segundo filho eu fui madrinha dele. E foram nascendo os filhos e eu fui acompanhando. Quando eu estava em Penedo, no estágio do Sesp , nasce um filho dela, e ela me escreve uma carta dizendo como ele era. Dizendo que, como eu ia demorar muito em Penedo, quando eu voltasse, ele já estaria andando de velocípede, já estaria grande. Eu voltei e fui conhecer o bebê, era Léo.”

Nessa entrevista, a educadora social e líder do movimento de Mulheres das Américas e do Caribe, descreveu com eram atos de violência sofridos e sua tentativa de ajudar a amiga Francisquinha Godoy.

“A violência começa a aumentar dentro da casa dela, o marido batendo muito nela. E eu tento que ela saía, que vamos juntas, a gente aluga um carro e vai para qualquer lugar. Para ver se ela escapava da morte. Mas ela dizia que não. Como é que ela ia sair com nove filhos? Eu sei que ele ia mata ela na frente das outras crianças. E me caem em cima essas nove crianças. Porque todos eles queriam ficar comigo”. Após a morte de Francisquinha, Netinha assumiu a criação de Léo Godoy, um desafio, segundo ela, era muito difícil, pois havia “muito preconceito com uma mulher solteira criando uma criança pequena”.

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