lutas clandestinas
Foto: Reprodução / enviadas ao Farol de Notícias por leitores

Jovens estão se reunindo para realizar lutas clandestinas em Serra Talhada? A capital do xaxado é um dos municípios do Sertão do Pajeú que mais incentiva a prática de esportes e artes maciais, com escolas e atletas premiados internacionalmente em diversas modalidades. Diante desse cenário e preocupados, leitores do Farol de Notícias entraram em contato com a nossa redação chamando a atenção para supostas lutas clandestinas sendo realizadas na cidade.

De acordo com um serra-talhadense, que pediu para não se identificar, um perfil do Instagram divulgou um evento chamado ‘Clube da Luta ST’, que aconteceu no último domingo (19) no Ginásio Poliesportivo Luiza Kerhle. De acordo com o cidadão, as lutas clandestinas que ocorreram não oferecem nenhum tipo de assistência de saúde ou segurança para os competidores.

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“Denúncia anônima. Vocês estão sabendo das lutas clandestinas em Serra Talhada? Tenho prints e o instagram das lutas. Total absurdo, não tinha profissionais na área da saúde, o local não era controlado. Muitos erros, sei das consequências de lutas em ambientes não controlados”, descreveu o leitor.

Foto: Reprodução / enviadas ao Farol de Notícias por leitores

LUTAS MARCADAS

A reportagem do Farol enveredou por uma investigação sobre o caso, partindo da observação do material divulgado nas redes sociais para ouvir atletas e especialistas. Através de um perfil no Instagram, o clube realizou uma divulgação pública, inclusive com o nome e a imagem dos lutadores.

Além de apresentar uma sequência de regras que nortearam a competição. Na ocasião, foram realizadas quatro lutas, mas uma delas, a última, seria a principal com os competidores anunciados no cartaz.

No evento “1° edição do Clube da Luta ST”, a publicação explicou que a partir da modalidade do boxe, cada disputa teria 11 rounds com 2 minutos de luta e 2 minutos de descanso. O competidor sairia campeão diante de:

  • nocaute;
  • desistência de um lado;
  • pontuação (caso chegue ao final dos rounds e não tenha um vencedor, irá levar em consideração os pontos que os juízes deram para cada lutador em cada round).

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Conseguimos também entrar em contato com um dos organizadores do evento, e competidor nas lutas. O jovem admitiu que o intiuto era promover uma ‘brincadeira entre amigos’, e ouviu as críticas dos atletas e profissionais da área sobre os perigos promover competições sem estrutura. O rapaz garantiu que não acontecerão outros eventos.

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“Esse evento nunca foi de interesse nosso que fosse algo grandioso, nem que fosse algo para representar o esporte em Serra Talhada. Inicialmente, a gente só queria fazer uma brincadeira entre amigos, mas muita gente quis assisitir. Então, resolvemos fazer um tipo de evento, tentamos fazer o máximo possivel para que fosse algo divertido e seguro”, detalhou o organizador, continuando:

“Levamos remédios, proteções bucais, luvas, mas hoje percebemos o erro que cometemos. Muitas coisas fizemos errado, faltou. Mas as lutas, todas elas foram só entre amigos, pessoas que se conheciam. A gente escutou as críticas que os atletas e mestres das academias falaram e resolvemos nunca mais fazer isso. Percebemos nosso erro e garanto que nã ofaremos isso novamente”.

O QUE DIZ A LEI?

A reportagem do Farol de Notícias conversou com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Serra Talhada), Giovanni Simoni, para saber como a legislação regulamenta e orienta a prática de competições esportivas deste tipo.

“A Lei Geral do Esporte define como esporte toda forma de atividade predominantemente física que, de modo informal ou organizado, tenha por objetivo a prática de atividades recreativas, a promoção da saúde, o alto rendimento esportivo ou o entretenimento”, detalhou o presidente, ponderando:

“Contudo, ainda que a prática esportiva possa ser realizada informalmente, os organizadores podem ser responsabilizados por eventuais infortúnios. Caso demonstrado que a atividade foi realizada sem os devidos cuidados de segurança com a saúde dos competidores”.

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Giovanni Simoni, presidente da OAB Serra Talhada – Foto: Licca Lima / Farol de Notícias

O QUE DIZEM OS ATLETAS?

A judoca de ouro serra-talhadense, Raíssa Marques, 20 anos, é uma das atletas de maior destaque do Judô na região e no estado. Há mais de 8 anos praticando o esporte, alcançou medalhas em campeonatos nacionais e internacionais. Hoje é faixa preta e dá aulas para crianças a partir de 3 anos. Em conversa com o Farol, ela detalhou que começou a praticar boxe recentemente e soube da realização do evento.

“Como atleta, acredito que todo esporte de combate precisa ser tratado com responsabilidade. A ausência de assistência médica e de regras claras torna qualquer evento desse tipo perigoso e prejudica a imagem do esporte. No judô, aprendemos desde cedo sobre respeito, disciplina e segurança, que são princípios fundamentais que garantem não só o bom desempenho, mas também o bem-estar de todos. Comecei a praticar boxe recentemente, e percebo o quanto a dinâmica e a execução são totalmente diferentes. Mas ainda assim exige responsabilidade e preparo”, afirmou.

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Raissa Marques e seu Sensei Jonatha Brandão – Foto: Arquivo Pessoal

A nossa reportagem também ouviu o profissional de Educação Física, Leonardo Araújo, 34 anos, natural da Bahia, formado pela Universidade Federal de Mato Grosso desde 2015. Atua no boxe desde 2012, foi campeão mato-grossense em 2013, e toda sua formação acadêmica teve como foco o treinamento de alto rendimento para atletas de luta.

Em Serra Talhada, Leonardo é professor na Lion Boxe, criada em 2023. Segundo ele, o boxe é uma arte nobre, que forma caráter, exige disciplina e respeito. O profissional aconselhou que quem tem interesse em praticar uma arte marcial, seja ela qual for, o ideal é procurar uma academia com professores capacitados e um ambiente seguro.

“O boxe é um esporte que exige muito preparo e responsabilidade. Quando se fala em competições, um dos primeiros pontos é o controle de peso. Cada atleta deve lutar em uma categoria de acordo com o peso corporal. Isso evita que um competidor enfrente alguém muito mais pesado. Outro aspecto importante é o preparo técnico e físico dos lutadores. O boxe envolve impacto direto, especialmente na região da cabeça, é indispensável que os atletas estejam condicionados e com os reflexos treinados para se defender. O uso de equipamentos também é obrigatório. O capacete, o protetor bucal e as luvas, servem para reduzir o risco de lesões”, elencou o profissional, continuando:

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“Toda competição deve contar com um árbitro capacitado, que controla as ações dentro do ringue e garante que as regras sejam cumpridas. É essencial a presença de equipe médica. Em qualquer evento oficial ou organizado de forma responsável, deve haver um médico e materiais de primeiros socorros, acidentes podem acontecer. Por fim, o espaço da luta precisa ser adequado. O ringue, ou pelo menos uma área devidamente delimitada e com piso seguro, é o que define o ambiente do boxe e garante que os atletas possam se movimentar sem perigo. Eventos clandestinos que não seguem essas orientações colocam os participantes em risco e prejudicam a imagem do esporte.

NOTA – SECRETARIA DE ESPORTES

O Farol também entrou em contato com a secretária-executiva de Esportes, Kaline Nogueira, para saber mais detalhes sobre o evento e se o município havia sido informado sobre as condições das lutas. A gestão se pronunciou por meio de nota. Leia abaixo:

A Secretaria de Esportes e Lazer informa que recebeu ofício solicitando o uso do Ginásio Polisportivo Egídio Torres de Carvalho para a realização de um evento de boxe amador — uma disputa esportiva que aconteceria no dia 19 de outubro, das 19h às 22h, entre os atletas amadores.

Cumprindo sua função de disponibilizar os equipamentos públicos para a prática esportiva, seja ela profissional ou amadora, a Secretaria fez as devidas recomendações e apresentou ao organizador o termo de responsabilidade para assinatura.

Diante de informações que chegaram à Secretaria sobre o referido evento, será realizada uma apuração, com busca de imagens e registros, para verificar as condições em que a atividade foi realizada e adotar as providências cabiveis, a fim de evitar qualquer desrespeito aos critérios estabelecidos para a cessão dos equipamentos esportivos municipais.