Fotos: Licca Lima/Farol de Notícias
Fotos: Licca Lima/Farol de Notícias

O acesso a internet por crianças e adolescentes sem o devido monitoramento de pais e responsáveis pode acarretar uma exposição a conteúdos inapropriados e até mesmo pornografia. O debate foi levantado pela assistente social Juçara Menezes, especialista em sexualidade humana, orientadora emocional e parental, no Programa Falando Francamente desta quinta-feira (13).

Juçara é mãe de três filhos, esposa de Dr. Tadeu Menezes. Trabalhou por sete anos na Prefeitura de Serra Talhada, atuando na Casa de Apoio da cidade em Recife. Possui um consultório na Nutriclin, localizada na Rua Jacinto Alves de Carvalho, Nº 575, no Centro. Entre as principais problemáticas que atende em seu espaço, a pornografia acessível a crianças tem a preocupado.

Continua depois da publicidade

Receba as manchetes do Farol primeiro no canal do WhatsApp (faça parte)

“Existe um caso que é muito grave no mundo todo, não só aqui na região. Ele é recorrente do mundo todo, que é o acesso à pornografia feito por crianças e adolescentes. Hoje é o grande calo que atendo em Serra Talhada, são as crianças que acessam pornografia. A gente vê no mundo todo as crianças com celulares. A gente não culpa os pais, a gente trabalha com os pais para fazer o trabalho que nós chamamos de ‘desintoxicação digital’. Então, a gente considera que quando um membro da família entra em desequilíbrio, todo mundo na casa entra em desequilíbrio. E hoje os pais estão apavorados porque os filhos acessaram pornografia. Eles se sentem culpados porque deram celular, mas não era previsto. Nós temos que saber que estamos com a geração Z, que é a geração que nasceu com a tecnologia, que são chamados de nativos da tecnologia”, analisou a profissional, continuando:

“Eles tem muito acesso. As pessoas até dizem, ‘ah, ele já nasce sabendo, já sabe tudo’, acha bonitinho. Em termos de tecnologia, sim, para aprendizado da vida, não. E nós, pais, responsáveis, mães, cuidadores, nós devemos ser os faróis dos nossos filhos, das nossas crianças, orientando elas. A gente começa a orientação na infância, mas é tabu falar em sexualidade, porque as pessoas compreendem como uma coisa feia. Não é, sexualidade é aquela força que nos move, aquela energia que nós temos. É o prazer de namorar, é o prazer de assistir ao filme, é o prazer de a gente estar aqui fazendo essa entrevista, é o prazer de fazer uma viagem, estar com os amigos, tomar um café. É essa energia que nos move se chama sexualidade. Ela acontece desde o nascimento e vai até os fins dos nossos tempos. A nossa sexualidade não significa que pratique o sexo, é essa energia maravilhosa que nos move”.

DESINTOXICAÇÃO DIGITAL

“Sem contar que nós temos a nomofobia, que é o medo de ficar sem o celular. Quando você não consegue soltar o celular. Você está andando na rua, está olhando o celular, você está no carro, está no celular, você está em casa, você não larga o celular. Quando sua bateria está perto de acabar, descarregar, você fica louco, desesperado, se não achar o carregador, piora”, explicou a sexóloga.

Segundo Juçara Menezes, há um prazo para realizar a chamada ‘desintoxicação’.

“A desintoxicação é feita em 21 dias, em que a criança e o adolescente vão ao consultório, mas aí eu faço uma parte e conto com uma psicóloga, e tem que ter a contribuição da família, é muito importante. Nós temos uma equipe multidisciplinar para fazer essa desintoxicação. Quando as crianças estão vendo desenhos, é importante a gente assistir até o desenho, isso no celular, pode acontecer no computador também. O que a gente recomenda inicialmente é, não deixem as crianças dormirem com celulares, não deixem celulares em quartos, não deixem computador, porque elas estão numa fase de curiosidade”, explicou.

Continua depois da publicidade

Os fatos de Serra Talhada e região no Instagram do Farol de Notícias (siga-nos)

VIOLÊNCIA VIRTUAL

“Tem um processo que muita gente não conhece, que é o estupro virtual. As pesquisas apontam que há um percentual de crianças que vê pornografia a partir dos quatro anos. Dez, onze anos, a criança já vê coisas que a gente não imagina. Elas relatam com riqueza de detalhe o que viram. E vêem de tudo, o que você imaginar, elas já viram. Isso não faz bem. Primeiro que são cenas chocantes, que aí a criança sofre um certo trauma, digamos assim, psicológico. A criança, ela começa a ficar muito tempo no celular, ela não quer mais soltar, ela não deixa o adulto ver o que ela está olhando, isso são alguns sinais, ela se isola”.

“Outro ponto importante por elas estarem nessa fase de curiosidade, e que eu sempre explico os pais, é nós temos a educação sexual. Nada mais é do que o processo em si, da aprendizagem da sexualidade humana. Não é pornografia, é a gente desconstruir a pornografia. Então, nós devemos ensinar os nossos filhos desde pequenos”,

HÁBITOS

“Bebês, a gente tem a tradição da história do ‘torradinho’, ‘Ah, o torradinho de mamãe, papai, titia, vovô’, mas isso a gente acaba naturalizando e qualquer pessoa pode pegar nas partes da criança, porque é natural. Não, gente, a gente tem que educar, a gente ensina que as partes são íntimas só quem pode tocar é quem dá o banho. A gente ensina que o beijinho, o selinho na boca de papai e mamãe não é recomendado, é repreendido no mundo todo. Você está deixando seu filho vulnerável. Se você dá o ‘selinho’, qualquer pessoa pode dar um selinho. Aí vem a questão da vulnerabilidade, ela vai normalizar, não é? Porque se pegam as partes da criança, o ‘torradinho’, se você dá o selinho, então a criança naturaliza como se fosse uma coisa comum”, explicou Menezes, oriantando:

“Então a gente informa, a gente dá as instruções, a gente orienta para que as crianças fiquem informadas a respeito do seu corpo, a respeito do uso do celular, o uso das redes sociais. Sem contar que quando a criança está viciada nas redes sociais, a gente sabe que o marketing é atrativo para a gente permanecer nele. Então, as crianças estão em formação, daí imagine uma criança em formação, viciada, e tem pais que dão TikTok pra criança passar a vida toda sem parar. Lá elas vão ver todos os tipos de coisas que você imaginar”.