Dois gigantes da música
Foto: Reprodução / Arquivo

Por Paulo César Gomes, escritor, historiador, professor, âncora da TV Farol e Colunista do Farol de Notícias

Serra Talhada sempre foi um celeiro de artistas. Seus palcos, suas rádios, suas bandas e suas festas populares ajudaram a forjar talentos que atravessaram gerações e construíram a identidade sonora da cidade.

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Sendo assim, a coluna “Viagem ao Passado”, destaca hoje, dois grandes nomes da música serra-talhadense e do Sertão Pajeú, trata-se de Helvécio Lira e o maestro Luiz Fogos, apesar de suas trajetórias, serem distintas, se encontram no amor pela música e no impacto duradouro que deixaram na cultura local.

As informações são do Jornal Desafio e o material faz parte do acervo do poeta, escritor e pesquisador Dierson Ribeiro.

Helvécio Lira: A Voz que Iluminou Quatro Décadas de História

Em 1953, uma nova estrela surgiu na cena musical de Serra Talhada. Helvécio Lira fez sua estreia como cantor no Conjunto do Pajeú, grupo pertencente a Dedé de Oscar.

O público não demorou a perceber que ali nascia um fenômeno: a voz firme, o carisma natural e a presença de palco o colocaram rapidamente entre os nomes mais celebrados da região.

Ao longo dos anos, Helvécio participou de praticamente todos os grandes movimentos musicais da cidade. Foi integrante da Jazz Band de Serra Talhada, atuou como cronner sob a regência de maestros como Fernando Moura, e marcou presença em diversas orquestras de frevo, incluindo as de Edésio Oliveira, Sargento Inocêncio, Sargento Correntão e Jacinto Limeira. Seu talento também o levou aos conjuntos locais de Nogueira e Genival, Luís Fogos, Cornélio, Joaquim Pedro, Pedro Caboclo e Expedito Grande.

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Não foi apenas nos palcos que Helvécio construiu seu legado. Em uma época em que cantores e orquestras se apresentavam ao vivo nas rádios, ele se tornou figura recorrente em emissoras como Rádio Iracema do Araripe, no Crato (CE), Rádio Pajeú, em Afogados da Ingazeira, e nas Difusoras de Pesqueira e Caruaru.

Nos últimos anos, Helvécio segue presente, agora como seresteiro, encantando plateias ao lado do violonista Sérgio Gonçalo e do ritmista Zé Preto. Sua história permanece viva, ecoando nas noites da cidade e na memória afetiva de milhares de pessoas.

Luiz Fogo: A Doce Nostalgia do Piston

Se Serra Talhada tem o hábito de “adotar filhos”, poucos foram tão plenamente adotados quanto Luiz Fogo. Nascido em 30 de dezembro de 1928 na cidade paraibana de São João do Cariri, ele chegou a Serra Talhada aos oito anos de idade — e nunca mais saiu. Ali encontrou seu lar e sua vocação.

A música o encontrou por acaso, quase por romance: para impressionar uma namorada apaixonada por canções, Luiz decidiu estudar o ofício. O que começou como gesto de amor se transformou em sua profissão e paixão. Seus estudos foram realizados em Pesqueira (PE), e o instrumento escolhido para lhe acompanhar pela vida inteira foi o piston.

Profissionalmente, Luiz tocou em orquestras de Serra Talhada, Pesqueira, Caruaru, na renomada Orquestra Tabajara e na orquestra de frevo de Nélson Ferreira, com quem chegou a gravar discos — um feito raro para músicos do interior na época. Também viveu a fase áurea das apresentações ao vivo em rádios, atuando na Tamandaré e na Rádio Clube.

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Apesar das oportunidades, Luiz Fogo permaneceu fiel ao seu instrumento e à sua cidade. O piston, dizia ele, era uma extensão do próprio corpo — e poucos em Pernambuco o executavam com a mesma maestria. Nunca se desviou da profissão de músico, afirmando que tudo o que sonhou, realizou.

Casado desde 1955 com Dona Claudete Alexandre da Silva, Luiz construiu uma família numerosa, com dez filhos, e uma carreira que atravessou décadas com dignidade e talento.

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Dois Mestres, Uma História Comum

Embora tenham trilhado caminhos diferentes, Helvécio Lira e Luiz Fogo compartilham a mesma herança: são símbolos de uma Serra Talhada que valorizava o músico, que respirava cultura e que reconhecia o poder transformador da arte. Representam uma geração de artistas que, com poucos recursos, muito talento e enorme dedicação, escreveram capítulos fundamentais da música pernambucana.

Resgatar essas histórias é também preservar a memória cultural de uma cidade que, ao longo do tempo, foi moldada por sons, vozes e instrumentos que ecoam até hoje.