
Por Inácio Feitosa, Advogado, escritor e fundador do Instituto Igeduc
Hoje, às nove e quarenta e cinco da manhã, em Ouricuri, captei uma imagem que me atravessou por dentro. Um senhor de mais de oitenta anos, apoiado no pedestal, tocava com devoção a estátua de Frei Damião. O gesto era simples, sincero, desses que sintetizam décadas de fé. Um encontro silencioso entre o homem e o santo do Nordeste.
E, naquele instante, fui devolvido ao menino que fui. Lembrei-me das procissões da minha infância, lá em Monteiro-PB. As ruas cheias, o povo arrastado pela fé, e eu correndo no meio do cortejo para acompanhar o mesmo frade capuchinho, o Frei Damião, sobre quem diziam que flutuava.
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Criança astuciosa, curiosa até demais para a idade, entrei no meio da procissão, levantei a batina dele e conferi com meus próprios olhos. E vi: o pé dele estava no chão. Saí gritando, como quem acabava de derrubar um mito: “Ele não flutuou, não! O pézinho dele bateu no chão!”
Hoje, tantos anos depois, ao olhar para esse homem rezando em Ouricuri, percebo que, mesmo com os pés no chão, Frei Damião sempre fez o coração do povo levitar.
E o meu também. Sorte a minha ter registrado esse instante.