Por Adelmo José dos Santos, poeta e escritor serra-talhadense
Publicado às 05h02 deste domingo (9)
Na década de 1990 tinha uma televisão que ficava na pracinha na Rua Manoel Pereira Lins. Essa televisão ficava numa grade de ferro trancada com cadeado. Só era ligada quando o vigia chegava. O vigia era Vanja, toda vez que a televisão era desligada ele levava a chave do cadeado para guardar em sua casa. A pracinha era uma festa, sempre estava cheia de gente para assistir o Jornal Nacional e as novelas. Tinha gente que levava até cadeira para poder sentar na frente. Era uma cena inusitada que chamava atenção, misturando as pessoas que tinham televisão em suas casas com “Os Sem Televisão”.
As pessoas iam para praça para ver a televisão e poder compartilhar a mais nova diversão. O povo se conhecia, as pessoas eram amigas e se divertiam na praça sem gastar nenhum tostão. No dia que passava o fim de uma novela, juntava uma multidão. Todo mundo ouriçado esperando o vigia ligar a televisão. As pessoas se avexavam e entravam em desespero quando Vanja atrasava e ficavam esperando sentindo a emoção de ver o fim da novela e curtir o último beijo. Carminha chegou na frente com sua saia godê, a cabeça cheia de bobs com os ‘biliros’ prendendo seus cabelos cacheados, estava muito ansiosa pra assistir o “Bem Amado”.
Livre e desimpedida Carminha estava aflita para arranjar um namorado. Zé Fubica estava perto com os olhos arregalados, um olho na TV e o outro nas pernas de Carminha que sentava ao seu lado. Seria um bom começo pro cupido aparecer, se os olhos de Zé Fubica que ‘esgorejava’ Carminha, expressasse um bom olhado. A pracinha estava cheia todo mundo que chegava procurava um aconchego, pra ver o fim de uma novela e assistir o último beijo. Sentados em suas calçadas Zé Caboclo e Zé Baião botavam os assuntos em dia, Armando e Zé Leão falavam de pescarias. As conversas de caçador era com Antonio de Bia, que um dia se enganou na Serra do Catolé, atirou numa corduniz e matou foi um guiné.
O Jornal Nacional era apresentado por Sérgio Chapelim e Cid Moreira. Na pracinha tinha gente todo dia, as pessoas escolhiam os programas que queriam. Passava o Globo Repórter, o programa Chico City, telequete luta livre, os trapalhões com Mussum e Zacarias. Aos domingos o Fantástico reunia as torcidas para ver os gols da rodada mostrados por Léo Batista. Passava os gols mais bonitos e dava os resultados da loteria esportiva, que era apresentado por Fernando Vanucci, Milena Ceribelli e Léo Batista.
Também tinha uma zebrinha que gostava de falar o resultado dos jogos com a coluna que deu. Nos jogos que dava zebra ela dizia: “Aí deu eu!” Era uma TV de tubo colorado RQ, a imagem não era muito boa mas a tela era inteira para todo mundo ver.
12 comentários em A TV da praça Manoel Pereira Lins era o ponto de encontro em ST para ver jornal e novela