
Amélia é que era mulher de verdade. Ter uma vida longa e saudável é uma das grandes buscas que move a humanidade. Cada vez mais a indústria da saúde investe em procedimentos e pesquisas para se viver mais e melhor. Enquanto isso, no coração do bairro Nossa Senhora da Conceição, em Serra Talhada, uma simpática e falante senhora aproveita ao lado da família os seus 106 anos muito bem vividos.
Esta mulher que atravessou os séculos é a sertaneja Amélia Maria dos Santos, nascida em 11 de março de 1919, no distrito Maravilha, município de Custódia, no Sertão do Moxotó. Nascida filha de Antônio José Franco e Amélia Alves de Siqueira, batizada e criada por seus padrinhos em Triunfo, lá no Oasis do Sertão viveu até o início da vida adulta.
Já moça feita retornou para as terras da Maravilha onde encontrou e casou-se com seu primeiro e único amor Laurencio Manoel dos Santos. Jovem 15 anos mais novo, um agricultor que lhe tomou o coração e com quem compartilhou 60 anos de estrada em Serra Talhada. Amélia e Laurêncio fizeram de Caiçarinha da Penha o ninho para constituir família com três filhos, netos, bisnetos e hoje até uma tataraneta já integra sua descendência.
Seu esposo faleceu há cerca de 15 anos, mas a perda ainda lhe embarga a voz com a dor e a saudade da separação. O senhor Laurêncio viveu como hoje está sua amada, sob os cuidados da filha do meio Maria Aumelina, que hoje tem 70 anos. A mais velha do trio tem 71 anos, Amélia Maria; já o mais novo Amédio Manoel nem chegou aos 60 anos ainda.
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MULHER TRABALHADORA
Muitas de suas histórias contadas a repórter do Farol de Notícias, Licca Lima, remontaram os tempos de dificuldade e seca do Sertão. Marcas que ela carrega com devoção, sempre entregando a Deus, através do século de vida. Dona Amélia lembrou as múltiplas profissões que exerceu para ajudar a criar os filhos: agricultora, costureira, parteira, caçadora e até lenhadora.
“Eu já trabalhei muito nessa vida, já peguei neném, trabalhei de assistente mais de anos pegando neném (parteira). Trabalhei de roça, plantando e limpando. Criei meus filhos trabalhando de roça, saia para caçar preá. Mas para mim, a pior coisa que eu achava era tirar o suor assim da testa e pegar no machado de novo pra cortar lenha. Trabalhei muito na vida, e nunca tive ajuda de nada, governo só agora com o aposento. O povo de hoje em dia, com a graça de Deus, as coisas não são como naquela época”, explicou ela com eloquência e lucidez invejáveis.
SEGREDO REVELADO
Ouvir Dona Amélia contando suas histórias que vão e voltam para lugares tão distantes que a gente nem consegue mais remontar numa linha do tempo, é ter certeza que um dos segredos da longevidade está no amor. Um grande amor da juventude como companhia, amor de mãe e amor dos filhos que mesmo com idade avançada ainda cuidam da mãe centenária.
“E eu tenho essa menina aqui (filha Ameulina) que é quem cuida de mim de tudo, tira aposento, ajeita as coisinhas, é quem me dá comida, quem me socorre. Eu hoje, minha filha, não sei nem te dizer o que se faz para viver tanto. É só as graças de Deus, porque com a permissão e as graças dele é que se chega. E eu já vivi muito, sou antiga de março de 1919, a senhora pode me acreditar que eu já andei tanto nesse mundo de meu Deus, fazendo tudo. Vocês não sabe o quanto a pessoa para viver tem que derramar suor. Desde que eu fiquei sem meu esposo que fiquei aqui por parte do cuidado dela (filha)”.
1 comentário em Amélia, moradora mais longeva de Serra Talhada, chega aos 106 anos