Da BBC
O governo americano anunciou recentemente que distribuirá internacionalmente 80 milhões de doses de imunizantes até o fim do mês de junho. Os países que se beneficiarão do envio, no entanto, ainda não estão definidos. A carta, à qual a BBC News Brasil teve acesso com exclusividade, exorta Biden a “fornecer rapidamente vacinas suficientes para retardar a disseminação e mutação contínua do coronavírus no Brasil”. Pede também que o presidente americano leve a termo a nova posição dos EUA pela quebra de patentes das vacinas contra covid-19 e incentive farmacêuticas americanas, como a Pfizer e a Moderna, a transferir sua tecnologia para parceiros produtores no Brasil.
Com mais de 440 mil mortes na pandemia, o Brasil passa ainda pela sua segunda onda de contágio do novo coronavírus, mas já enxerga a possibilidade de uma terceira onda que poderia elevar o total de óbitos do país ao patamar de 750 mil, segundo o Instituto de Métricas de Saúde e Avaliação da Universidade de Washington. A projeção se baseia na falta de política nacional de de distanciamento social e uso de máscaras e no quadro de escassez de vacinas no Brasil: atualmente, menos de 20% da população brasileira tomou ao menos uma dose de imunizante contra covid e a fabricação das duas vacinas mais usadas no país – CoronaVac e Astrazeneca-Oxford – teve que ser interrompida na semana passada por falta de insumos.
Sociedade civil em campo
Nesse contexto, a pressão da sociedade civil para que o Brasil seja beneficiado pelas doses dos EUA têm aumentado nas últimas semanas. No fim de março, a Amcham Brasil, maior Câmara de Comércio Americana fora dos EUA, enviou carta ao Embaixador americano Todd C. Chapman e ao Congressista democrata Gregory Meeks, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Deputados americana, em que dizia que “os volumes de vacinas ao Brasil confirmados até o momento são insuficientes para a superação no curto prazo da grave crise sanitária que o país enfrenta. Nesse sentido, a consideração pelo governo dos EUA sobre a possibilidade de ceder, em caráter de emergência, excedentes de vacinas para o Brasil, seria inestimável”.
No início de abril, seis centrais sindicais brasileiras, CUT, Força Sindical, UGT, NCST Nova Central, CTB e CSB, fizeram o mesmo apelo a Biden em carta por vacinas – e têm contado com o apoio de grandes sindicatos americanos no pleito. Agora, a elaboração da carta de acadêmicos divulgada nesta segunda, 25/5, foi capitaneada pela U.S. Network for Democracy in Brazil, uma rede com representantes de 234 universidades em 45 dos 50 estados dos EUA. “Assinei essa carta a Biden por dois motivos: um é minha longa e profunda ligação com o Brasil e os brasileiros, o que torna doloroso presenciar tantas mortes e sofrimentos desnecessários. A outra é a convicção de que ninguém está a salvo da Covid até que todos estejam a salvo da Covid. O rápido aparecimento de variantes e a impossibilidade de selar fronteiras significam que apenas uma estratégia global de saúde pública pode funcionar para acabar com a pandemia”, afirmou à BBC News Brasil a historiadora americana Barbara Weinstein, da Universidade de Nova York.
Estudiosa do período de industrialização e modernização do Brasil, no início do século passado, Weinstein se diz ferrenha opositora a acordos climáticos entre Brasil e EUA, especialmente um em que os americanos concordem em enviar recursos financeiros ao Brasil. Para ela, o dinheiro do contribuinte americano serviria apenas para dar um “verniz verde” ao governo do presidente Jair Bolsonaro, a quem ela chama de “a pior pessoa para dirigir uma nação nesses tempos de pandemia”. “Mas o envio de vacinas é um assunto diferente, não só pela urgência da situação, mas também porque acho que há uma chance maior de serem direcionadas para a população que realmente precisa delas”, argumenta Weinstein.
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