
Com informações do Portal Geledés
No Brasil, 105 pessoas trans foram assassinadas em 2024, marcando uma leve redução em relação ao ano anterior, quando 119 mortes foram registradas em 2023. Apesar dessa diminuição, o país mantém a triste posição de ser o mais letal do mundo para a população trans, pelo 17º ano consecutivo. Os dados são do Dossiê: Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024, elaborado pela Rede Trans Brasil, que será lançado oficialmente no dia 29 de outubro nas redes sociais da organização.
O dossiê compila informações sobre os casos divulgados por diversos meios de comunicação ao longo do ano passado. A Região Nordeste se destaca como a mais afetada, com 38% dos assassinatos, seguida pela Região Sudeste, com 33%. O Centro-Oeste registrou 12,6% das mortes, enquanto o Norte e o Sul contabilizaram 9,7% e 4,9%, respectivamente. Em termos absolutos, São Paulo lidera com 17 assassinatos, seguido por Minas Gerais (10) e Ceará (9).
Receba as manchetes do Farol de Notícias em primeira mão pelo WhatsApp (clique aqui)
Isabella Santorinne, secretária adjunta de Comunicação da Rede Trans Brasil, comentou sobre a queda no número de mortes: “A queda no número de mortes de pessoas trans em relação a 2023 é um pequeno alívio, mas não podemos ignorar que elas ainda acontecem. Isso reflete como o Brasil está em um processo lento e desigual de mudança. Apesar de avanços em debates públicos e de maior visibilidade, a violência e o preconceito ainda são uma realidade para muitas pessoas trans. Essa trajetória mostra que, embora existam sinais de progresso, a luta está longe de acabar”.
A Rede Trans Brasil participa da pesquisa Trans Murder Monitoring, que monitora assassinatos de pessoas trans em todo o mundo. Em 2024, o número global de assassinatos atingiu um recorde de 350, com a América Latina e o Caribe respondendo por cerca de 70% dos casos, totalizando 255. O Brasil lidera com 106 mortes notificadas, seguido por México (71) e Colômbia (25).
Isabella também destacou a contradição presente na sociedade brasileira: “É muito contraditório, porque o país que mais consome pornografia trans no mundo é o Brasil e o Brasil também é o país que mais mata pessoas trans, ou seja, as pessoas sentem prazer e desejo pelos nossos corpos, e ao mesmo tempo sentem ódio e repulsa pelos nossos corpos. É muito contraditório”.
Perfil das vítimas
A maioria das vítimas no Brasil são mulheres trans ou travestis, que representam 93,3% dos casos, enquanto homens trans correspondem a 6,7%. A faixa etária mais afetada é de 26 a 35 anos, com predominância de pessoas pardas (36,5%) e pretas (26%), muitas das quais eram trabalhadoras sexuais.
O dossiê revela que 66% dos casos ainda estão sob investigação, enquanto 34% resultaram na prisão de suspeitos. Os agressores frequentemente eram companheiros ou ex-companheiros, clientes ou estavam envolvidos em atividades criminosas. A maioria das mortes ocorreu por arma de fogo ou facadas, em vias públicas ou na residência das vítimas.
Além disso, o respeito aos nomes das vítimas nos meios de comunicação foi analisado, com 93,3% dos casos respeitando a identidade de gênero das vítimas, enquanto 6,7% foram referidos pelo nome que usavam antes da transição.
Os principais fatos de Serra Talhada e região no Farol de Notícias pelo Instagram (clique aqui)
De acordo com Isabella, o dossiê dá visibilidade aos assassinatos e violências cometidas contra pessoas trans no Brasil e ajuda a desenvolver políticas públicas. “Faltam políticas públicas voltadas para a proteção de pessoas trans. Embora existam iniciativas pontuais, elas são insuficientes diante do cenário de exclusão e violência que a população trans enfrenta. É urgente criar ações que promovam educação inclusiva, empregabilidade, acesso à saúde e segurança, além de garantir que crimes transfóbicos sejam devidamente investigados e punidos. Sem políticas públicas eficazes, a luta pela sobrevivência e dignidade continua sendo uma batalha diária para pessoas trans no Brasil”, diz a secretária adjunta de Comunicação da Rede Trans Brasil.