Por João Luckwu, poeta e escritor serra-talhadense
O “Momento Poético” desta semana retrata a excentricidade do poeta, cantor, produtor de cinema, roteirista, compositor, escritor e instrumentista Osvaldo Montenegro, nascido em 15 de março de 1956 na cidade do Rio de Janeiro. Ainda criança, aos oito anos de idade já demonstrava uma precocidade musical quando compôs sua primeira canção, “Lenheiro”, que é o nome do rio que banha São João del-Rei, cidade poética e boêmia, onde foi morar com os pais.
Ao retornar para o Rio de Janeiro, com apenas treze anos de idade, venceu seu primeiro festival, com a música “Canção Pra Ninar Irmã Pequena”, que posteriormente gravaria na trilha do vídeo “O Vale Encantado”. Mas foi aos dezessete anos de idade que a decisão de viver da música se tornou definitiva e sua carreira artística começou a decolar juntamente com os parceiros José Alexandre, Mongol e Madalena Salles, dentre outros.
Com a carreira musical em ascensão participou em 1972 do último “Festival da Canção” promovido pela Rede Globo, o primeiro de repercussão nacional. No ano de 1979 com a canção “Bandolins” venceu o festival promovido pela extinta TV Tupi e marcou definitivamente seu nome no cenário nacional. No ano seguinte, ratifica a condição de grande artista e vence também o “Festival MPB Shell” da Rede Globo com a canção “Agonia”.
CLICA NO VÍDEO E SINTA A CANÇÃO “A LISTA”
Em 1982, paralelamente ao sucesso como cantor e compositor, montou o espetáculo musical “Veja Você, Brasília”, com artistas locais e desconhecidos do grande público, revelando as cantoras Cássia Eller e Zélia Duncan. Mais adiante montou diversas outras peças musicais, destacando-se entre elas “Noturno”, “A Dança dos Signos” e “Aldeia dos Ventos”. Suas composições também foram brilhantemente interpretadas por artistas como Ney Matogrosso, Paulinho Moska, Zé Ramalho, Alceu Valença, Zizi Possi, Zélia Duncan, Jorge Vercillo, Gonzaguinha, dentre outros.
Bandolins, Agonia, O Condor, Intuição, Léo e Bia, Estrada Nova, Estrelas, Travessuras, Cigana, Sem Mandamentos, Sempre Não é Todo Dia, dentre outras tantas são músicas que marcam a brilhante carreira musical de Osvaldo Montenegro, mas faço um destaque em especial para a canção “A Lista”, que traz em seu íntimo as saudades e as lembranças passadas em comparação com o hoje.
A LISTA
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver…
Inspirado nesta obra-prima escrevi o poema intitulado Comentários a respeito da canção “A Lista” de Osvaldo Montenegro!
Respondendo a Osvaldo que sou fã
Os amigos defino num só ato
Ganhei tantos, perdi também é fato
Que me vejo perdido nesse afã
A memória do tempo não é sã
E dez anos parecem ser dez dias
As saudades, as dores e alegrias
Se confundem num laço tão medonho
Eis que o filme da vida é como um sonho
E o poeta descreve em poesias
Muitas vezes sem rumo ou endereço
Um dilema em meu peito ainda mora
E os amores jurados quando outrora
Vão e voltam do fim ao recomeço
Dessa vida o que sei nada conheço
São quimeras, caprichos, utopias
Mergulhados num mundo em fantasias
Que por vezes me torna um enfadonho
Eis que o filme da vida é como um sonho
E o poeta descreve em poesias
O sentido da vida é um mistério
Eu confesso até hoje não entendo
Se nascer ou viver é um contendo
O caminho final é o cemitério
A mentira tal qual um adultério
Causa dor, incerteza e avarias
Eu condeno quem trilha nestas vias
Dela não me abasteço nem disponho
Eis que o filme da vida é como um sonho
E o poeta retrata em poesias
Hoje um canto feliz sai do meu peito
Inspirado talvez num gesto seu
Que me faz abraçar o próprio eu
Entendendo a virtude e o defeito
Entre versos retrato meu conceito
No improviso real das cantorias
Sem nobrezas tampouco fidalguias
Nestas linhas singelas que componho
Eis que o filme da vida é como um sonho
E o poeta descreve em poesias
17 comentários em Comentários e versos sobre um mestre da MPB, por João Luckwu