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Por Manu Silva, membro do Coletivo Fuáh e Movimento Diverso – repórter e redatora do Farol de Notícias

Chegamos a dezembro e a reflexão que proponho hoje é: o que ficou de consciência negra em você ao fim deste novembro? Como Serra Talhada viveu o mês da negritude e o que a população realmente pode refletir sobre essa data tão importante na história do Brasil? Tivemos momentos festivos com música, moda, dança, cultura e a energia da ancestralidade africana tomando a cidade junto com o tombamento da afro-brasilidade militante. Infelizmente, toda essa festa não atingiu a cabeça de boa parte, que permanece cheia de olhares e julgamentos racistas.

Me pergunto todos os dias quando a vendedora negra poderá soltar seus belos e hidratados cachos, que vivem enfurnados em um coque, porque trabalhar no comércio é ter boa aparência. Mas muitos cabelos alisados, já perderam a toda a saúde por conta do vício em se embranquecer. Quando o cabelo será alisado para satisfazer a dona e não as pessoas ao seu redor? Quando a bela jovem negra que mora no Vila Bela, no Mutirão, na Cagep, na Malhada ou na zona rural vai ter a mesma oportunidade de ser garota propaganda na Exposerra?

Lembrei do concurso de Miss e Mister Beleza Negra 2016. O público alegou e vaiou  porque os jurados não votaram direito e a miss eleita não é negra. Como assim, há padrão de negritude agora e ninguém avisou? Espero estar fora dele. Não é apenas o tom de pele e o cabelo crespo ou cacheado que diz quem é negro ou não. Mas o conjunto disso e tantas outras marcas fortes, são 70 tons de pele negra por esse mundo. Auto-declarar-se negra ou negro já é um fator chave. Mas claro que o cabelo liso, alisado ou cacheado o é muito mais aplaudido que o crespo ou o trançado.

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Quando um cabelo trançado, colorido ou empoderado num enorme black power vai deixar de ser exótico e passará a ser visto como natural? Nos ensinaram que somos todos índios, negros e brancos, mas o genocídio dos povos indígenas é histórico. Na cadeia a maioria é negra; morando no lixão a maioria é negra; nos serviços gerais; as empregadas domésticas; os garis é de maioria é negra. Mas e quem são os empresários, os médicos, os políticos, os advogados, os engenheiros dessa cidade? Que cor a elite tem? Já estou vendo o povo falando em meritocracia.

Precisamos sim acordar para a nossa cor, porque as necessidades são diferentes. Pessoas brancas usufruem do privilégio garantido no período escravocrata. Não têm culpa, mas o Dia 20 de Novembro está aí todo ano para lembrar do compromisso que todos têm no combate ao racismo institucional, seja na escola, na igreja, no mercado de trabalho, na mídia. E por falar em mídia… quando teremos outra jornalista negra em Serra Talhada? O espaço, além de ser bem restrito a homens, é como a grande mídia de massa, pouco discute opressão.

Todo o tema não está só restrito a novembro, a mensagem é para o ano inteiro.

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