Desde setembro do ano passado sem qualquer atendimento médico, a idosa Maria de Lurdes dos Santos, 73 anos, precisa de ajuda. Ela sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) em novembro de 2011. Desde então está inconsciente e sendo alimentada por sonda. Ela foi transferida do HR (Hospital da Restauração), em Recife, para casa, em Serra Talhada, em março do ano passado. “E precisa de atenção 24 horas”, conta a filha Marlene dos Santos, com preocupação. Pela requisição médica, fornecida pelo HR, a paciente deveria ser acompanhada semanalmente por uma equipe de saúde da família, incluindo aí, a presença de um clínico geral.

“O problema é que a equipe está vindo em nossa casa, mas sem nenhum médico. Já fui até a Secretaria de Saúde e eles estão fazendo ouvido de mercador e deixando o caso da minha mãe em ‘banho maria’ há cinco meses. Pois a última vez que pisou um médico da equipe na nossa casa foi em setembro do ano passado. Isso é um absurdo!”, reclama Marlene dos Santos, com indignação. Ela conta que já procurou o Ministério Público (MP) para intervir no caso, mas mesmo assim nada foi resolvido.

“Fui atrás da promotoria e mostrei a requisição do HR dizendo da necessidade do atendimento semanal. O promotor encaminhou notificação à Secretaria de Saúde solicitando para que se respeitasse o que indicava a receita”, relata a filha de dona Lurdes dos Santos. Após a intervenção do MP, em junho de 2012, Marlene conta que o atendimento médico passou a ser quinzenal. Mas depois de setembro do ano passado o serviço parou de vez.

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Desde então, a idosa vem recebendo apenas visitas periódicas de uma equipe formada por fonoaudiólogo, fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo. “Sobre isso não tenho do que reclamar”, reconhece Marlene Santos, fazendo um apelo à Secretaria de Saúde do município. “Se não podem enviar um médico semanalmente, então peço, pelo amor de Deus, que enviem pelo menos um de 15 em 15 dias, ou mensalmente. Porque ela tem o direito de ser acompanhada por um clínico”.

O OUTRO LADO

Em contato com o FAROL, o secretário executivo de Saúde, José Alves, disse que os atendimentos não estão sendo realizados pois os médicos “não têm muito o que fazer lá toda semana”, já que o caso da paciente é “irreversível”. Segundo José Alves, dona Maria de Lurdes vem sendo acompanhada por uma equipe multidisciplinar que pode manter o atendimento básico semanal da paciente, mesmo sem a presença de um clínico.

Mas, em nome da Secretaria de Saúde, ele se comprometeu em garantir atendimento médico para dona Maria de Lurdes pelo menos uma vez por mês. “Irei acionar o posto do PSF Centro 1 para que trace um relatório de visita de um clínico, pelo menos uma vez por mês na casa da família”, prometeu José Alves, avisando que – após ser notificado pela  promotoria – já teria explicado à Justiça o lado da Secretaria de Saúde no caso.

ERRO NO DIAGNÓSTICO

A família de dona Maria de Lurdes conta – com bastante pesar – que, em novembro de 2011, quando dona Maria estava sofrendo o AVC, foi levada às pressas para o Hospam (Hospital Regional Agamenon Magalhães), em Serra Talhada. A idosa chegou na unidade vomitando, agitada e com fortes dores na cabeça. Quando atendida, o médico responsável requisitou que ela tomasse Diazepam e Dipirona. O diagnóstico na receita indicava crise de nervos, ao invés de Acidente  Vascular Cerebral. Após a consulta, a paciente foi encaminhada para casa, onde sofreu o AVC.

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