Dissidência das Farc suspende ações na Colômbia após atentados

Foto: Divulgação/Pixabay

Por Folha de Pernambuco

O Estado-Maior Central (EMC), maior dissidência da guerrilha das Farc, anunciou, nesta sexta-feira (22), a suspensão das ações ofensivas após dois atentados com carros-bomba às vésperas da instalação de uma mesa de negociações de paz, em outubro.

“Ordenamos a todas as frentes, colunas e companhias pertencentes às Farc-EP suspender as ações operações em todo o território nacional contra a força pública (…) a partir do dia de hoje, 22 de setembro, até o dia 8 de outubro , quando se pretende iniciar a vigência do decreto de cessar-fogo” e a mesa de diálogos com o governo de Gustavo Petro, informou a dissidência por meio de nota.

As dissidências das Farc se afastaram em 2016 do histórico acordo de paz que desarmou o grosso daquela que foi a guerrilha mais poderosa das Américas.

Às vésperas de iniciar novos diálogos com o governo, elas deram uma demonstração de força no sudoeste do país, ao detonar dois carros-bomba contra postos da polícia em três dias.

Em pedaços
“Reconhecemos como erro a imprecisão nesta ação militar, na qual dois civis morreram e cinco ficaram feridos”, admitiu o EMC, referindo-se ao atentado no povoado de Timba, no departamento (estado) de Cauca.

Outro veículo explodiu nesta sexta perto de um posto policial no município de Jamundí, no departamento do Valle del Cauca (sudoeste) e deixou ao menos cinco civis feridos.

O carro ficou destruído e se espalhou em centenas de pedaços incinerados ao longo da via, constatou um jornalista da AFP.

Foi “um carro que violou a segurança que os policiais colocam” e explodiu em seguida, contou à AFP Irner Piedrahita, trabalhador independente, cuja casa fica perto do local.

Sua mãe e sua irmã ficaram feridas. “É uma das faces da violência (…) Não há palavras para descrever isto”, acrescentou.

Os ataques contra a força pública são uma represália à sua ofensiva militar para atingir o narcotráfico, segundo Petro.

“Continuamos afetando as economias ilegais e a ocorrência são atos de violência. Não vamos ceder. A Força Pública deve dominar militarmente o território e, como governo, chegaremos de forma integral a estas populações”, assegurou o presidente por meio da rede social X, antigo Twitter.

O ministro da Defesa, Iván Velásquez, respondeu para Jamundí juntamente com o comandante das Forças Armadas para celebrar um conselho de segurança.

Unidade de comando?
A mesa de negociações entre a EMC e o governo será instalada em Tibú (leste), na fronteira com a Venezuela, com vista a desarmar mais de 3.500 combatentes. Nesse mesmo dia, entrará em vigor uma trégua de dez meses.

O ministro da Defesa responsabilizou pelos atentados um braço do EMC, à frente Jaime Martínez, e questionou a unidade de comando das dissidências.

“Não achamos que haja uma unidade de critérios porque em outras áreas, a intensidade do conflito diverge”, afirmou o chefe da pasta em entrevista à rádio Caracol.

Segundo o ministro, na região do sudoeste “concentra-se 75% do financiamento das EMC”. Ali, semeia seus narcocultivos no país que é o maior produtor de cocaína do mundo.

“Tivemos que avançamos metrô a metrô, ocupamos trincheiras, em alguns locais houve combates corpo a corpo, onde os soldados terminam a operação com granadas de mão. É evidente que o EMC tenta reagir, distrair, atacar em outros locais para que nós paremos esta operação que não vamos parar”, afirmou Velásquez.

O governo aposta em mudar mais de meio século de conflito interno através do diálogo com todas as organizações ilegais.

Além das negociações com o EMC, os delegados de Petro mantêm diálogos com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN), o mais antigo das Américas.

O longo conflito deixou mais de nove milhões de vítimas em confrontos entre traficantes, insurgentes, paramilitares e agentes do Estado.