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Quando pensamos em esporte, logo vem à mente aquele esforço máximo, o corpo em ação, levado ao limite para alcançar resultados. Mas nem sempre é assim. No dominó, os atletas formam times, usam uniformes, mas ficam quase imóveis, preparados para um jogo de mente, concentração e estratégia.
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— O dominó nada mais é do que raciocínio lógico, matemática e interpretação. Entendeu? Então, esses três fatores são fundamentais para jogar dominó — destacou Everton Alves dos Santos, presidente da Liga Metropolitana de Dominó.
— Tem gente que fala: “Ah, é só jogar sena com sena, quina com quina”. Não, não é assim. Tem estratégia, tem o ‘fecha’, e tem as malícias do jogo. Por exemplo, aquele cara jogou rápido, meu parceiro jogou rápido, meu parceiro pensou naquela pedra. Então, há várias estratégias na dinâmica do jogo, entendeu? Que você vai construindo — comentou Renato Assunção, o Trakinas, jogador.
O dominó não se limita àquela disputa tradicional de “boteco”. No Brasil, a modalidade é organizada de forma profissional há 24 anos pela Liga Metropolitana de São Paulo.
— Somos 16 clubes em São Paulo, e cada clube tem, em média, 20 ou 25 jogadores, entendeu? E é o nosso esporte. Aos domingos, cada equipe tem seu clube, sua sede, seu centro de treinamento. Temos mundial, campeonato brasileiro, estadual, entendeu? E estamos no esporte, tentando melhorar e crescer cada vez mais — contou Everton.
Prova desse crescimento pôde ser vista no Campeonato Paulista realizado em Arujá, cidade da Grande São Paulo, que reuniu mais de 100 competidores. Um dia inteiro de competição, com várias rodadas até sair o time vencedor.
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Cada janela dura 40 minutos e pode ser jogada de forma individual ou em dupla, como no estadual. Vence quem somar mais pontos. E nada é improvisado. Todas as mesas passaram por supervisão rigorosa da arbitragem.
— Nós observamos mais as pessoas que não estão conversando entre si para evitar que passem dicas, essas coisas, como o que têm na mesa ou na mão, e para que não entrem em discussão. Isso ajuda a evitar confusões e também facilita a contagem dos pontos. Eles precisam atingir a pontuação para vencer, e para isso vamos pontuando as pedras restantes. Se acharem que o cálculo não está certo, pedem para nós, os árbitros, e fazemos o cálculo correto. Dependendo da situação da mesa, se estiver muito desorganizada ou se houver muita discussão, podemos até tirar pontos. Nós, como juízes, determinamos quem venceu ou não. Eles jogam, mas, se não chegarem a uma conclusão entre si, temos que opinar — detalhou o árbitro Jean Matheus de Sousa Moçambini.
Mas, como em todo esporte, às vezes a turma discorda e parte para a reclamação. Nesse caso, não tem o “VAR” para revisar o lance, mas sim um acordo para chegar à melhor solução possível.
— Fico na mesa respondendo às questões do pessoal, e eles questionaram que a mesa ficou parada por 10, 15 minutos e não foi retomada. Voltaram a jogar por mais 5 minutos para poderem terminar a partida, porque estavam discutindo a pontuação. Ainda assim, não terminaram. Agora vão concluir, e só depois saberemos quem ganhou — citou o árbitro.
A pontuação rodada a rodada é acompanhada de perto pelos jogadores em um quadro. Não perdem nenhum detalhe, até porque, para muitos, o dominó é mais do que um esporte.
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— Meu pai jogava dominó, e eu jogo desde criança. Me apaixonei pelo dominó desde pequeno. Sou um jogador que estuda o dominó profundamente. Entendo de porcentagem, probabilidade, de tudo. O dominó é minha paixão. Tanto que fazemos cada esforço para jogar aos domingos, deixamos a família em casa, mas o amor pelo esporte é grande — frisou Trakinas.
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Entre duques e senas, as peças foram responsáveis por laços quase improváveis, como o da Josi e da Suelen, que formaram a única equipe feminina do estadual. Uma veio do Paraná e a outra de Goiás. Dupla unida pelo dominó.
— Nós começamos jogando online pelo aplicativo, pegamos afinidade e ficamos jogando juntas. Depois surgiu a possibilidade de participar do campeonato, e decidimos vir nos conhecer pessoalmente — explicou Josi Sturm, jogadora do Paraná.
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— Resolvemos: “Vamos para São Paulo, vamos nos conhecer”. Primeiro nos conhecemos, e depois veio a oportunidade do campeonato. Perguntamos: “Vamos nos inscrever?” E foi assim. Mas era a primeira vez para nós, então dissemos: “Vamos ver como é que é”. Gostamos, e agora já é o segundo ano que participamos — falou Suelen Fernandes, de Goiás.
Por falar em distâncias, a modalidade também rompeu fronteiras. O Paulista foi preparatório para o Campeonato Mundial, realizado no fim de setembro, em Aruba, com a participação de 100 equipes de 22 países.
A delegação do Brasil foi formada por dez jogadores, e o país terminou na 27ª posição geral. No individual, o melhor resultado foi um 32º lugar, com Luciano Santos entre mais de 400 competidores.