
Neste dia 13 de junho a equipe do Farol de Notícias viajou até o distrito de Luanda, na Zona Rural de Serra Talhada, para conhecer Dona Judite, a missionária que mantém acesa todas as tradições e manifestações de fé ao padroeiro da comunidade de remanescentes quilombolas, Santo Antônio.
Luanda fica a cerca de 43 km do centro da cidade, pouco mais de 1h de viagem, e é também conhecida como a bacia leiteira serra-talhadense. No caminho avistamos belas paisagens sertanejas, criações de gado pronto para abastecer a cooperativa do leite e a simplicidade do nosso Sertão.
Na praça do local toda decorada para os festejos juninos, pela lateral direita vem Dona Judite, com uma vitalidade surpreendente para os seus bons vividos 81 anos. A alegre e desenrolada Dona Judite posou para a câmera com distinção, não ficou nervosa diante do microfone e confidenciou segredos que gosto de pensar que são exclusivos. Fez questão de enfatizar que sua ouça é boa “pode cochichar que eu entendo”.
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Maria Judite de Andrada, nascida em 14 de outubro de 1942, desde dos 12 anos trabalhou de roça catando milho, algodão e feijão. Filha de Antônio José dos Santos, conhecido como Antônio Pequeno, e Rosa Maria de Souza. Nasceu e cresceu em Luanda sem mãe e ajudou a cuidar dos irmãos, na época sua casa era bem do lado da capela de Santo Antônio.
Hoje, sentada na porta da capela, detalhou cada momento de reconstrução do templo. Com a cabeça boa, relembrou até o nome dos pedreiros que ergueram a nova igreja. A primeira era feita de barro, por volta de 1950 a primeira capelinha feita de barro foi derrubada por uma forte chuva.
“Eu não vejo São Paulo melhor do que aqui. Ave Maria, só basta eu estar aqui do lado de Santo Antônio. Eu tinha oito anos quando minha mãe morreu, meus irmãos eram cinco, três mulheres e três homens. Agora só tem vivo um dos homens e duas mulheres comigo. Depois da roça, fui para Serra Talhada para trabalhar na casa de Lourdes Acciole, família de Dr. Jonas. Trabalhava de empregada doméstica. Lá que eu vi os Franciscanos e me apaixonei, e como eu não podia ficar lá toda vida voltei para cá e Santo Antônio também é franciscano”.
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Estudou até a quarta séria, mas letrou-se na vida e no amor a servir sua religião. Mãe de sete filhos, casou-se aos 28 anos, mas em seu peito sempre alimentou uma fé inabalável e sonhava mesmo em ser freira. Deus e Santo Antônio colocaram em seu caminho o pai de seus filhos, o senhor José Pereira de Andrada.
“Trabalhei para fazer, mas também trabalhei um bocado para criar. Trabalhei na roça, meu marido morreu e eu me casei com 28 anos. Já tinha vindo para cá trabalhar e servir na igreja. Eu me lembro, o meu sonho era ir para o convento ser freira. Só queria ser freira, desde novinha muito religiosa. Eu já nasci com esse dom”, afirmou.
DEVOÇÃO A SANTO ANTÔNIO
A rotina diária de Dona Judite é fiel e pontual. Na capela do padroeiro pede sua benção de joelhos no altar e retorna a entrada para tocar o sino. E quando é a matriarca da comunidade que comanda as badaladas todos conhecem.
Responsável pelas 31 noites de novenário de Nossa Senhora e claro, pelas rezas a Santo Antônio, Dona Judite é uma missionária de crença inabalável. Quando perguntada sobre um dos dias mais felizes de sua vida, falou sem pensar muito: “O dia de coroação de Nossa Senhora no novenário, me senti muito feliz”.
“Minha mãe também era devota de Santo Antônio, desde pequena eu vinha para a igreja com ela e achava muito bonito Santo Antônio. Eu posso contar um sonho que eu tive com Santo Antônio? Quando eu estava com 4 para 5 anos, eu tive um sonho com Santo Antônio. Eu estava muito doente e não estava dormindo, mas também não estava acordada. Aí chegou um homem e uma mulher, e disseram: ‘vamos levar ela?’. Aí o homem disse assim: ‘Não, eu preciso dela’. Aí eu acordei, e o homem era Santo Antônio. E eu disse a minha mãe, tinha um homem aqui e era aquele santo que a gente vai para a igreja”, relembrou a doce Dona Judite.
A alegria e a fé de Dona Judite são inspiradoras e emocionantes. Ainda há uma série de histórias interessantes sobre essa personagem digna de homenagens em Luanda, em Serra Talhada e no mundo. No final da conversa a missionária nos presenteia com um conselho repleto de carinho e esperança. Confira a entrevista completa na TV Farol de Notícias:
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