Foto: Reprodução/Instagram @charllesrekson
Foto: Reprodução/Instagram @charllesrekson

Por Paulo César Gomes, Professor, escritor e colunista do Farol

O Brasil atravessa um momento delicado em sua vida política. O Congresso Nacional, já desgastado por um baixo nível de debates e de produção legislativa, parece cada vez mais um palco onde cabem todos os tipos de personagens, inclusive aqueles que transformam a política em espetáculo. É nesse cenário que surge a pré-candidatura de Charles de Tiringa a deputado federal.

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Não há, até agora, qualquer sinal de que ele possua um projeto consistente, conteúdo programático ou visão clara de país. O que se vê é a tentativa de converter a popularidade adquirida pela via do entretenimento em votos, como se rir fosse suficiente para ser um legislador. Mas entre provocar risadas em vídeos e legislar para milhões de brasileiros há um abismo que não pode ser ignorado.

O ideal, talvez, fosse que Charles iniciasse sua trajetória política pelo caminho natural de quem deseja aprender a servir ao povo: uma candidatura a vereador, onde se testa a vocação pública, a paciência com as demandas cotidianas e o compromisso com a coletividade. No entanto, vivemos em democracia e, como tal, não se pode impedir a candidatura de quem dispõe de milhões e “vontade”.

E recursos não lhe faltam. Em 2022, Charles declarou possuir mais de oito milhões de reais em bens ao TSE. Passados pouco mais de dois anos, é plausível supor que sua fortuna já ultrapasse os quinze milhões. Isso por si só não é problema — mas chama atenção a distância entre o patrimônio acumulado e a ausência de um projeto político que dialogue com a realidade dura da maioria dos pernambucanos.

O que ele fez de tão importante pela coletividade? Qual projeto social desenvolveu? Nos últimos quatro anos ou ao longo da vida? A princípio, podemos dizer que acumulou riquezas para fins próprios.

É preciso separar as coisas: rir é uma coisa, votar é outra, e legislar é algo ainda mais sério. O mandato parlamentar não pode ser reduzido a uma “comédia selvagem”, embora já tenhamos visto, em Brasília, uma penca de “comediante” fantasiado de deputado. O problema é que a brincadeira custa caro. E quem paga a conta não é o milionário candidato, mas o cidadão e a cidadã comum, tanto no bolso — com a má gestão do dinheiro público — quanto na vida, com as decisões que um parlamentar sem preparo pode tomar.

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Na minha humilde opinião, a eleição de personalidades como Charles do Tiringa não acrescenta em nada ao debate democrático; na verdade, faz é atrapalhar. Uma eventual eleição representaria um desserviço a Pernambuco e ao Brasil. A política precisa ser levada a sério. Caso contrário, continuaremos a assistir à degradação do Congresso Nacional, enquanto os verdadeiros problemas do povo permanecem sem resposta.