
Do Metrópoles
O embaixador da República Democrática do Congo no Brasil, Benoit-Labre Mibanga Ngala-Mulume Wa Badidikee, cobrou uma postura mais ativa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra que devasta o segundo maior país da África.
O pedido ocorreu na terça-feira (29/4) em evento realizado no Instituto de Referência Negra Peregum, em Brasília.
Caos no Congo
Com uma história marcada por conflitos e instabilidade, a República Democrática do Congo vive um novo foco de tensão desde janeiro de 2025.
Desta vez, envolvendo o grupo rebelde M23. Fundado em 2012, a organização atual, principalmente, na defesa da etnia tutsi na RDC. A etnia foi a mesma que sofreu um genocídio em Ruanda, em 1994, provocado pelos hutus.
Após o episódio em Ruanda, diversos hutus se abrigaram na República Democrática do Congo tentando evitar retaliações do novo governo, liderado pelos tutsis.
O governo da Ruanda, liderado por Paul Kagame, é apontado como o principal financiador e apoiador do M23 no Congo. O atual líder ruandês faz parte da etnia tutsi.
Apesar de negar, Ruanda é acusada de enviar militares para a RDC com o objetivo de lutarem ao lado de organizações insurgentes.
Durante o discurso, Ngala-Mulume apontou Ruanda como o principal causador da turbulência das últimas décadas. Para o diplomata, o país liderado por Paul Kagame faz uma “guerra de invasão”, com o objetivo de ocupar partes da RDC.
O governo congolês vê a defesa dos tutsis no país apenas como um pretexto para planos mais ambiciosos de Ruanda. De acordo com o embaixador Ngala-Mulume, o objetivo final seria a tomada de recursos minerais do país.
Apesar de o governo de Ruanda ser acusado não só patrocinar grupo armados na região, como de também atuar no solo da República Democrática do Congo, o diplomata alegou que o país não age sozinho. Para ele, os ruandeses recebem apoio e anuência de grandes potências mundiais.
“Ruanda, por si só, não tem capacidade de enfrentar a República Democrática do Congo”, disse o embaixador, se referindo a disparidade de tamanho e de recursos entre os dois países. “Eles são financiados por grandes países do Norte Global. Por isso, contamos muito com a ajuda do Brasil, que tem grande representatividade no Sul Global e uma voz ativa na comunidade internacional. Quando o presidente Lula fala, nós [o mundo] escutamos”.
Além de cobrar o governo brasileiro, o diplomata pediu que uma resolução aprovada em fevereiro deste ano no Conselho de Segurança da ONU seja respeitada. No texto, os 15 membros do órgão pediram o fim do apoio do governo ao M23 e outros grupos insurgentes no território congolês e a retirada de tropas ruandenses da RDC.
Atualmente, a coalizão de grupos rebeldes Alliance Fleuve Congo (AFC) — liderada pelo M23 — ocupam duas grandes cidades na República Democrática do Congo: Goma e Bukavu.
De acordo com o governo congolês, cerca de 7 mil pessoas — entre combatentes e civis — morreram desde janeiro por causa dos conflitos no país.
Crise humanitária
Os anos de guerra jogaram a República Democrática do Congo (RDC) em uma das crises humanitárias mais graves do mundo. Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 7,3 milhões de pessoas foram deslocadas internamente como consequência dos conflitos, sendo 400 mil desde janeiro deste ano.
Além disso, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) e a Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO) estimam que 28 milhões de congoleses enfrentam fome aguda.