New York Times
Oficiais e soldados das Forças Armadas americanas estão se preparando discretamente para uma guerra que esperam jamais aconteça.
Em Fort Bragg, na Carolina do Norte, 48 helicópteros de ataque Apache e de carga Chinook participaram no mês passado de um exercício que simulava o transporte de tropas e equipamento a alvos de assalto, sob fogo real de artilharia.
Dois dias mais tarde, nos céus sobre o Estado do Nevada, 119 soldados da 82ª Divisão Aeroterrestre do Exército saltaram de aviões de transporte militar C-117 na escuridão, em um exercício que simulava a invasão de outro país.
Nos próximos 30 dias, em bases do Exército espalhadas pelo território dos EUA, mais de mil soldados da reserva praticarão para estabelecer centrais de mobilização, com o objetivo de transferir tropas ao exterior em regime de urgência.
E a partir do mês que vem, com a Olimpíada de Inverno de Pyeongchang, na Coreia do Sul, o Pentágono planeja enviar mais unidades de forças especiais à península coreana, como passo inicial para o que alguns funcionários do governo descreveram como futura formação de uma força-tarefa para operações na península coreana, com funções semelhantes às que operam no Iraque e na Síria. Outros funcionários disseram que esse esforço tem por objetivo o combate ao terrorismo.
No mundo das Forças Armadas, no qual estar preparado para contingências é um lema que todo oficial aprende a seguir, as manobras recentes ostensivamente são vistas como parte dos programas padrão de treinamento e de rotação de pessoal do Departamento de Defesa. Mas o escopo e o momento dos exercícios sugerem foco renovado em preparar as Forças Armadas do país para aquilo que pode estar no horizonte com relação à Coreia do Norte.
O secretário da defesa, Jim Mattis, e o general Joseph Dunford Jr., chefe do Estado-Maior Conjunto, defendem vigorosamente o uso da diplomacia para combater as ambições nucleares de Pyongyang. Uma guerra com a Coreia do Norte, disse Mattis em agosto, seria “catastrófica”.
Ainda assim, duas dúzias de antigos e atuais funcionários do Pentágono e líderes das Forças Armadas disseram em entrevistas que os exercícios eram a resposta das forças armadas às ordens de Mattis e dos líderes de cada uma delas, colocando-as de prontidão para possível ação militar na península coreana.
As palavras do presidente Donald Trump convenceram líderes importantes militares e soldados comuns de que eles precisam acelerar seu planejamento de contingência.
Na mais incendiária de suas declarações, em um discurso em setembro nas Nações Unidas, Trump prometeu “destruir totalmente a Coreia do Norte” se ela ameaçasse os EUA, e zombou do líder do país, Kim Jong-un, chamando-o de “Rocket Man” [homem-foguete].
Em resposta, Kim declarou que recorreria “ao nível mais elevado de contramedidas linha dura da História”, contra os EUA, e descreveu Trump como “um velhote americano com problemas mentais”.
A retórica de Trump se abrandou, depois de um novo esforço de aproximação diplomática entre Seul e Pyongyang. Em entrevista ao “Wall Street Journal” na semana passada, Trump teria declarado que “eu provavelmente tenho um bom relacionamento com Kim Jong-un”, apesar das trocas públicas de insultos.
Mas o presidente declarou no domingo que o jornal o havia citado incorretamente e que ele havia dito que “eu provavelmente teria” um bom relacionamento com o líder norte-coreano se assim desejasse.
Um alarme falso no Havaí, domingo, que causou pânico por cerca de 40 minutos depois que um funcionário dos serviços de emergência do Estado enviou por engano uma mensagem de texto sobre um ataque iminente por mísseis balísticos, expôs a ansiedade dos americanos quanto à Coreia do Norte.