A falta de autorização das famílias de pacientes com morte cerebral diagnosticada é o principal entrave para a doação de órgãos e tecidos e para a realização de transplantes em Pernambuco. De acordo com as Organizações de Procura de Órgãos (OPO) e Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos (Cihdotts), entre janeiro e agosto deste ano, o índice de recusa chegou a 46,2%.
Segundo a Secretaria de Saúde, nos oito primeiros meses de 2018, foram feitas 227 entrevistas com familiares de pacientes com morte cerebral configurada por meio de exames clínicos e de imagem. Desse total, 122 autorizaram a doação de órgãos e tecidos e 105 recusaram.
Os números foram repassados pela secretaria, nesta terça-feira (25), quando começam as atividades da Semana de Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos. No estado, estão marcadas ações em hospitais para conscientizar as equipes que lidam com a captação de órgãos, além de homenagens a doadores.
“O índice aceitável aqui em Pernambuco seria de 30%. Estados como Santa Catarina e Paraná conseguiram atingir níveis bem baixos de recusa, semelhantes até aos da Espanha”, afirmou a coordenadora da Central de Transplantes do estado, Noemy Gomes.
Noemy Gomes ressalta que os números de recusa permanecem altos, apesar de uma queda registrada ao longo do ano. “No primeiro trimestre deste ano, o índice de recusa chegou a 56%. Em julho e agosto, baixamos para até 29%, mas é preciso trabalhar mais para conseguir ampliar a efetividade das doações”, declarou.
Para a coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco, a meta das autoridades de saúde é investir em treinamentos para profissionais de saúde. A capacitação tem que atingir as equipes que não estão envolvidas diretamente no processo da doação, mas atuam na área da assistência das unidades hospitalares.
“A questão cultural é um dos fatores que mais interferem no processo de captação de órgãos. E a recusa se torna o principal entrave. Sem autorização, não há transplante”, afirmou Noemy Gomes.
Noemy salienta, ainda, que é preciso cumprir todos os ritos do processo. “A família deve encontrar um profissional preparado para todo o processo de doação. Não se pode abordar e falar de doação de órgãos sem antes confirmar a morte cerebral. Não podemos pular etapas. Isso é fundamental”, afirmou.
Segundo Gomes, é preciso trabalhar com as famílias para que elas entendam o que significa a morte cerebral. “As famílias devem entender a morte cerebral como morte”, observou.
Segundo ela, hoje, entende-se que o centro da vida não é o coração, mas sim o cérebro. “As equipes médicas devem mostrar para os parentes que a morte cerebral é atestada por etapas distintas e que os testes são realizados por médicos sem envolvimento direto em transplantes, para garantir transparência”, comentou.
Transplantes
Dados da Secretaria Estadual de Saúde mostram que, entre janeiro e agosto deste ano, houve um aumento de 13,6% nos transplantes de órgãos sólidos (coração, fígado, rim, pâncreas), doados quando há a morte encefálica do paciente. O rim e parte do fígado também podem ser doados em vida. Foram 450 órgãos sólidos transplantados este ano, contra 396 no mesmo período de 2017.
Quando os dados são relativos a órgãos sólidos e tecidos (medula e córnea), houve uma redução no número de transplantes. Nos oito primeiros meses de 2018, foram feitos 1.129 procedimentos, uma diminuição de 9,27% em relação a 2017, com 1.241 cirurgias.
Em 2018, foram realizados 529 transplantes de córnea, com registro de queda de 24% , em relação a o mesmo período de 2017. Ocorreram também 315 procedimentos de rim, com aumento de 22%, na comparação com o ano passado. Também houve aumento no número de transplantes de fígado e queda nos procedimentos de coração.
Fila
De acordo com o último balanço da Central de Transplantes de Pernambuco, 1.067 pessoas estão em fila de espera por um órgão ou tecido. O maior quantitativo é para rim (794), seguido de fígado (117), córnea (111), medula óssea (29), coração (11) e rim/pâncreas (5).
“A fila tem sido mantida na casa de mil pessoas. A maior necessidade é de rim. Esses são casos em que a pessoa pode fazer hemodiálise enquanto espera a doação. Os outros são urgentes, como o de fígado e de coração”, comentou Noemy Gomes.