Lembranças da Festa de Setembro e o 'pacto' com a Virgem da PenhaPublicado às

Por Ananias Solon, Pesquisador e Zootecnista serra-talhadene

Ao acordar confuso, perguntei à enfermeira onde eu estava e qual era o dia, ela me respondeu que estava na UTI do Hospital e era 07 de setembro, e no impacto emocional, adormeci novamente. No estágio profundo do sono fiz uma viagem no espaço sideral chamado TEMPO, com sentimento saudosista e autêntico associado àquela situação, sonhei que pegava um TREM com destino à festa de setembro de Serra Talhada, e como diz o poeta Jessier Quirino: fui me embora pro passado.

Desembarcando na primeira estação, Igreja Matriz Nossa Senhora da Penha, encontrei com amigos conterrâneos, familiares. Com muita alegria, em clima de confraternização, aos poucos íamos nos contagiando com emoções em rever as velhas amizades contemporâneas que moram e estudam fora do nosso município. Assisti ao hasteamento da bandeira, que nos emociona e proporciona uma sensação agradável de realização para conosco no lado divino dessa fantástica festa.

Ao término da novena, deixando a primeira estação com destino a nossa bela praça Sérgio Magalhães, ao som nostálgico da Filarmônica Villabellense à batuta do maestro Siô Nogueira (décadas, 70-80) fazendo suas belíssimas apresentações com toques inesquecíveis através dos seus ilustres componentes instrumentistas como: Edesio, Luiz Fogo, Morumbi, João de Chica, Maninho, Miro Amarante, Gerabalde, Prof. Nestor e tantos outros.

Agora já em clima profano descendo a praça rumo à barraca Nossa Senhora da Penha, que entre outras, lotada com seus aparelhos de som ligados à toda altura, as músicas se confundiam a seus diversos gostos musicais. No auge era Alceu Valença (Tropicana), e Fagner arrebentando com Noturno ( Coração Alado)! Tendo ainda para nos animar, a difusora do parque Lima com seus alto-falantes de som metálico e chiado tocando as músicas de sucesso da época, como: The Fevers, Trepidant’s, os Incríveis, Roberto Carlos, causando um agradável ambiente sonoro  que invadia nossas almas e nos deixava com os corações fervorosos, nos causando uma sensação de felicidade em estar vivenciando um grande amor ou uma paquera que surgia naquelas inesquecíveis noites de belas festas.

Adorava ver a RODA GIGANTE, que era a maior estrutura, girando com sua imponência, transparecendo um cenário surreal, e tomado pelas emoções e sentimentos lúdicos e naqueles entretenimentos, tinham os brinquedos que nos causavam pânico e medo: era o trem fantasma e o da Monga. Ah! Eu gostava mesmo era do CARROSSEL, que no percurso de suas rodadas me emocionava; e no término daquele maravilhoso passeio, mesmo tonto, queria outra vez.

Tinha os radicais: o que achava incrível e hoje é raro encontrar, eram as CANOAS, que mesmo sendo um divertimento rudimentar e na minha ótica perante o conceito de sustentabilidade humana, ela é ecologicamente correta, pois não polui, não usa combustível, economicamente viável, não gasta energia, e socialmente justa, porque o valor do ingresso era barato e saudável, nos elevando a adrenalina para chegar ao ápice do balanço, requerendo habilidade e disposição física, existia três categorias, pequena, média e grande, ah! O bom era quando terminava o tempo do balanço, a gente sentia um solavanco e escutava o ruído no fundo da canoa ao fazer o atrito nas borrachas abaixo (freios ABS ).

ÉRAMOS FELIZES E NÃO SABÍAMOS

Ah! dentre os divertimentos, tinha a barraca de tiro ao alvo, que nunca consegui acertar na carteira de cigarro, talvez por defeito no cano da espingarda ou falha na minha pontaria; e sem faltar os incansáveis joguinhos de totó. Éramos felizes e não sabíamos. O bom da festa era dar uma volta completa na praça lotada, passando pelo Bar do ABRIGO ! sempre faltando espaço e sobrando diversões.

Em certos momentos daquele caloroso percurso, tinham locais que o fluxo de gente se concentrava ficando tão adensado, que encostados um no outro, para adiantar a passada era como estivéssemos num galão de uma onda, e naquele frenesi de gente, tínhamos tempo pra tudo, inclusive para gastronomia tradicional, quando passávamos próximo às barracas e sentíamos o cheiro peculiar da carne de bode com sua fumaça denunciando que estava sendo assado na hora, deixando-nos de água na boca, ah! tinha a maçã do amor, que nunca achei graça, eu gostava era daquele sorvete casquinha feito na hora, na máquina expondo seus diversos sabores, o preferido era de morango. Lembro de um ano que ocorreu um episódio inédito, um bode posto a leilão na barraca Nossa Senhora da Penha, fazendo parte da quermesse da igreja, foi uma confusão e correria quando disseram que o bode havia se soltado.

DESFILE

Mas, com toda adversidade ainda hoje é a festa com maior expressão de Serra Talhada; nos tempos passados parecia serem mais longas as festas, pois era normal amanhecer o dia, e até mesmo emendar o dia com a noite.
Agora com o trem lotado devido a aproximação do encerramento da festa, vamos parar na estação Desfile Cívico, dia 07, que desde dos tempos de criança, assisti no cruzamento da rua Padre Ferraz com a rua 15, pois lá encontramos com velhos amigos e moradores da saudosa rua, onde nasci e me criei, e que cada local da rua tenho uma história pra contar.

Pois bem, lá podíamos contemplar a grandeza de nossas escolas, disputando o primeiro lugar, tendo suas bandas marciais com seus toques espetaculares nos deixando contentes e vibrantes, principalmente quando passava a bailarina com suas ginásticas exuberantes, promovendo aplausos e nos deixando de queixo caído.

Enfim termina o desfile e já no dia seguinte (dia 08/09) o trem segue seu último destino rumo à gloriosa procissão, e já lotado com seus vagões empilhados de gente, até na parte superior, pendurados nas janelas com a multidão que aumenta a cada ano.

A emoção aumenta ao ver seus cânticos, rezas e louvores para VIRGEM DA PENHA que segue lá do alto, em cima do andor, levada nos ombros dos fiéis que integram o pelotão principal da procissão sob o comando e aclamações do padre JESUS com sua voz de sotaque castelhano, rezando e cantando o hino de nossa Senhora da Penha.  Já chegando no trajeto final, lá está a santa com seu manto sagrado, sublime encantadora, seguindo, amparando e atendendo aos pedidos, e o povo pagando suas promessas de forma típicas, como descalços e roupas características, fazendo suas renovações dos votos de fé e piedade.

E o trem já parado com seus passageiros de todo tipo, homens, mulheres, meninos, meninas, velhos, deficientes, enfim gente de todo jeito acomodados de forma desordenada diante do patamar de nossa magnífica igreja Nossa Senhora da Penha .

E no suspirar do sono profundo naquele leito do Hospital, feliz por estar sonhando um sonho real, senti uma sensação maravilhosa naquela viagem do sonho que não queria acordar. De repente me acordei ao escutar um estampido de uma girândola de fogos e com lembranças nítidas de estar vendo o Padre Jesus abençoando e fazendo suas recomendações finais para o povo, encerrando assim as festividades de Nossa Senhora da Penha.

Ah! Fiz um pacto com nossa Senhora da Penha para quando estiver reestabelecido da saúde, descrever esse SAUDOSO SONHO.