Por Adelmo Santos, poeta e escritor de Serra Talhada
O tempo passa e com ele vão ficando muitas marcas no viver, marcas do que se foi de tudo que pode ser. Saudade daquele tempo que o povo me conhecia como o filho de Zé Mané, filho de Dona Maria. Pelas ruas da cidade nos lugares que eu passava, era o que eu mais ouvia. Ia à missa da matriz, frequentava o catecismo, jogava bola na rua não quebrava nenhum vidro.
Eu era bem comportado nos colégios onde estudava não ficava de castigo. Respeitava os professores, era um aluno querido. O meu professor Nogueira não gritava “Ei Siô!” comigo. O bom filho vai à busca duma boa educação, os pedidos de desculpas não existem no balcão, foi o tempo foi à hora do respeito aos professores dos alunos nas escolas.
Com o tempo tudo passa, foi o fim do bate papo com as cadeiras nas calçadas. Foi o tempo foi o choro, tudo agora acaba em risos, nas estórias de trancoso a criança e o papa figo. Foi o tempo foi à época de pernas pra que te quero, foi o tempo do respeito das pessoas com os mais velhos. Foi o tempo foi à era, hoje a educação sente a falta dos bons costumes do passado no presente.
Hoje eu ando pelas ruas e ninguém sabe quem eu sou, sou um velho aposentado, um maior abandonado no lugar onde eu nasci na terra que me criou. Até com meu apelido ninguém faz uma gracinha, se souberem como era o “Adelmo da Favela,” vão pensar que é da Rocinha. Mas eu estou numa boa, me sentindo um imortal sem ter onde cair morto.
Fico num banco da praça curtindo a minha vida relembrando os velhos tempos de quando eu era menino, de quando eu era garoto. A Rua Tabelião Bernardino Coelho registrou o meu passado, os meus tempos de menino até hoje estão guardados.
Morei na primeira casa, em volta só tinha matos, no quintal corria um córrego pro Açude do Ginásio. Por ser a primeira casa não existia vizinhos, eu brincava com os calangos, lagartixas e passarinhos. No começo foi difícil pra ficar acostumado, eu me sentia na rua e estava era no mato. Era um menino matuto, um matuto no asfalto. Mesmo brincando sozinho eu era feliz assim, tinha uns doidos na cidade que botavam medo em mim, eram Zé Doido, Neco Véio e Luiz Bacurim.
Com a rua se formando foi plantado o meu futuro, me dediquei nas escolas onde fiz os meus estudos. Fazia o dever de casa sob a luz do candeeiro e nunca fui reprovado sempre estava entre os primeiros. E o tempo foi passando com muitas casas surgindo foi formado um quarteirão com um bocado de vizinhos. Começou com Dona Inês, Dona Sila, João Bordado, depois veio o Seu Badú, Chiquinho e Edinaldo. Com pouco tempo já tinha vizinhos por todo lado. Com a casa de Raul e a de Seu Luiz Barbeiro, já não dava pra saber quem chegou depois de mim, quem chegou por derradeiro.
Já passaram tantos anos, tanta coisa já mudou, eu não aprendi com o tempo, o tempo não me ensinou a conter minhas emoções, quanto mais o tempo passa, mais dói o meu coração. Quando eu passo pela rua e vejo a casa onde eu morei, passa um filme em minha mente contando a minha vida, mostrando assim num repente, igualzinho como era sem ter nada diferente. Não consigo segurar, sinto uma emoção bem forte dá vontade de chorar.
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