32-namoro-no-portaoPor Adelmo dos Santos, poeta e escritor de Serra Talhada

Nos anos 50/60 aqui em Serra Talhada a maioria das mulheres não falava palavrão, não ficava bebendo nos bares e quando chegava num boteco pra comprar alguma coisa, só chegava até a porta e logo era atendida. Nessa época os namoros eram na casa da namorada. Os ‘amassos’ no portão tinha as horas contadas, quando dava dez da noite o rapaz se despedia e ia embora pra casa.

Era o tempo que um rapaz pra namorar uma moça tinha que pedir permissão aos pais. E para assistir um filme com a sua namorada também tinha que pedir autorização dos pais. Mesmo assim, era preciso levar uma acompanhante, que podia ser uma irmã ou uma amiga de sua namorada. Quando as luzes dos cinemas Art ou Cine Plaza se apagavam com a acompanhante ao lado, muitas vezes o casal ficava muito acanhado, o momento era confuso com o apagar das luzes transbordando de emoção.

No desenrolar da fita com a plateia vendo as cenas às vezes o filme acabava com o casal indo embora sem aproveitar direito o escurinho do cinema. A moda era uma só. Não existia mini-blusa, não havia mini-saia, o corpete era uma peça que já estava garantido embutido no vestido. O decote era pequeno ali estava o segredo, pra mulher não ter o risco de poder mostrar os seios. As mulheres não vestiam uma roupa transparente, para evitar relances ainda usavam por baixo anáguas e combinação que deixavam os homens doidos para adivinhar o recheio usando a imaginação.

Quando uma adolescente acabava se ‘perdendo’ devido o seu namorado tê-la botado no mundo, que quisesse ou não quisesse o casamento era certo, mesmo que fosse na marra. Quando o juiz terminava de fazer o casamento o casal se separava. Foi assim com João de Dora, quando ele embuchou a moça, na saída do cartório ele saiu por uma porta e ela saiu por outra. Muitas vezes acontecia do rapaz querer casar e a família da moça não queria.

E o rapaz resolvia fugir com a namorada, pegava ela e roubava. Era um roubo diferente, onde o ladrão só levava o corpo do seu amor, o coração e a mente. Lá pras bandas de Bom Nome o meu pai casou assim, quando ele percebeu que o pai da minha mãe não queria dar a mão, ele selou seu cavalo botou ela na garupa e foi embora galopando nas quebradas do sertão. Se não fosse desse jeito eu não estava aqui agora pra contar essa história, relembrando como era. Foi assim que eu nasci com meu pai lavando a égua.