
Por Paulo César Gomes, Professor, historiador e escritor serra-talhadense
A perícia da Polícia Federal nos celulares de Jair Bolsonaro expôs, em cadeia, conversas e rascunhos que sustentam indícios de interferência em processos do STF, articulações no exterior e descumprimento de medidas cautelares. As mensagens — muitas apagadas e recuperadas por peritos — embasam o indiciamento do ex-presidente e do deputado Eduardo Bolsonaro; o pastor Silas Malafaia, embora não indiciado, teve passaporte e telefone apreendidos e passou a ser alvo formal de busca e apreensão. Eis o essencial.
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A PF identificou tratativas de Bolsonaro e Eduardo com aliados de Donald Trump para pressionar a Justiça brasileira no caso da tentativa de golpe. Em mensagens, Eduardo descreve o tarifaço dos EUA contra produtos brasileiros como “bom momento” e recomenda ao pai agradecer publicamente a Trump. Há ainda pedidos de orientação a um advogado ligado ao ex-presidente americano e menções prévias à aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes.
As conversas revelam que a “anistia light” defendida por Eduardo não mirava os réus do 8 de Janeiro, mas a blindagem de Jair Bolsonaro no processo no STF. A pauta pública — “as velhinhas com a Bíblia na mão” — contrasta com a estratégia privada: livrar o chefe político da condenação.
A perícia aponta descumprimento deliberado de cautelares impostas pelo Supremo. Mesmo proibido de fomentar redes, Bolsonaro teria disparado mais de 300 vídeos e mensagens para manter ativa a sua máquina digital.
Peritos encontraram rascunho de pedido de asilo político à Argentina, endereçado ao presidente Javier Milei, no qual Bolsonaro se diz perseguido por “motivos essencialmente políticos”.
Emergem movimentações financeiras atípicas: véspera de depoimento no Supremo, o ex-presidente transferiu R$ 2 milhões à conta de Michelle Bolsonaro. Eduardo, por sua vez, é citado por usar a conta da esposa, Heloísa, para receber repasses do pai nos EUA, estratégia que, segundo a PF, buscaria driblar eventuais bloqueios.
O material indica que Bolsonaro teve acesso prévio à defesa do general Mário Fernandes — apontado em investigações como autor de plano para matar Lula, Morais e Alckmin — antes do envio oficial ao STF.
As trocas de mensagens desmontam a narrativa de “conversas familiares”. Os diálogos registram xingamentos e ameaças entre pai e filho, e ataques de Malafaia a Eduardo, ao mesmo tempo em que o pastor surge como articulador de campanhas digitais contra ministros do Supremo. Para Moraes, há “fortes indícios” de que Malafaia integrava, de forma dolosa, a empreitada criminosa.
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A PF acrescenta ainda outras frentes: contato proibido com o ex-ministro Braga Netto; listas de transmissão no WhatsApp para mobilização coordenada de parlamentares; e interlocução com representantes da plataforma Rumble e da Trump Média para alinhar narrativas de “perseguição política”.
O conjunto reforça a percepção de que, a pouco mais de 30 dias de um possível desfecho judicial, Bolsonaro vê estreitar-se o cerco não por discursos de adversários, mas pelas próprias mensagens que tentou apagar — e que a perícia recuperou. As novas imputações podem ampliar significativamente a pena estimada do ex-presidente, enquanto se aguarda a análise do telefone de Silas Malafaia, cuja perícia tende a esclarecer o alcance da atuação do pastor na engrenagem descrita pela PF.