DSC_0298

Fotos: Farol de Notícias / Alejandro García

O racismo começa na cabeça e o enfrentamento contra ele também. Dezenas de mulheres e homens negros têm aderido o cabelo crespo ou cacheado em Serra Talhada, mostrando que há uma mudança não só no mundo da beleza, mas também nas construções identitárias dos sertanejos. O FAROL DE NOTÍCIAS conversou com integrantes do Coletivo Fuáh, sobre aceitação do cabelo afro, transição e empoderamento do povo negro. O grupo de homens e mulheres negras, foi criado em 2015, em prol do debate em torno do cabelo afro, inclusive promovendo o primeiro encontro de cacheadas na cidade.

DSC_0244A atendente de vendas Débora Fernandes, 33 anos, moradora do Ipsep, o redescobriu sua autoestima com o cabelo crespo. “Desde muito cedo que fui ensinada a alisar o cabelo, amigas me incentivaram a parar, mas eu nunca aceitei. Há três anos dei um relaxamento e me decepcionei. Me olhei no espelho e pensei: vou ficar fazendo isso até quando? Foi quando a ficha caiu, parei com o relaxamento e com a progressiva. Ainda me considero no processo de transição, ainda vou redescobrir o meu cabelo. Eu recebi o apoio de muita gente, com exceção da minha mãe. No mais foi tranquilo e as pessoas me abordam, elogiam e falam que estão tentando mudar”, relatou Débora.

Veja também:   Motorista de caminhão é flagrado cochilando

DSC_0285O estudante de Agronomia Cleyson Xavier é natural de Petrolândia, acredita que o cabelo afro nos homens é uma quebra de padrões. “A vida inteira eu usei meu cabelo raspado. No ensino médio eu alisei, mas um dia usei um produto, tive uma reação e fiquei cheio de feridas na cabeça. Eu não conhecia meu cabelo e resolvi procurar minha identidade, deixei crescer, pesquisei produtos em blogs e estou assim há três anos. Com a minha família foi muito difícil e com relação a emprego, mas estava buscando a minha aceitação. Antes as pessoas não me reconheciam como negro e eu quebrei um padrão, é difícil um homem negro assumir o black power”.

Veja também:   Polícia resgata vítima de cárcere privado e maus tratos em Minas Gerais

DSC_0276De acordo com Rebeca Rocha, 18 anos, natural de Floresta, o debate ajuda inclusive a enfrentar o preconceito na cidade. “De início eu não gostava do meu cabelo cacheado, mas eu nunca usei alisantes, só escovo uma vez ou outra. Em um casamento eu chapei meu cabelo para fazer um penteado e um rapaz que eu gostava disse que preferia meu cabelo alisado, quebrou o encanto na hora. Eu fiquei muito feliz no FUÁH, me sinto em casa. Em uma sociedade que todo mundo tem cabelo liso e você se sente meio sozinha tendo o cabelo cacheado. Conversando, vendo as histórias e participar movimentando o grupo é a melhor parte”, afirmou Rebeca.

Veja também:   Na zona rural, Luciano Duque promete o 'maior programa hídrico' da história de ST

DSC_0258Segundo a estudante de Letras Daniele Cardoso, de 22 anos, natural de São José do Belmonte, a universidade influenciou no desejo de militar em prol do movimento negro. “Foi uma tomada de posição política ideológica, porque eu seguia padrões de beleza do cabelo liso. Sofria com piadas na escola, me chamavam de cabelo de bombril, cabelo de palha. Na universidade, estudando relações étnico raciais e literatura africana começou a brotar em mim um desejo de me aceitar, hoje eu me acho tão linda. No Coletivo FUÁH eu me aproximei da militância, hoje não falamos mais só sobre cabelo. Tratamos da questão do empoderamento da mulher negra”.

DSC_0310DSC_0295