Da Folha de PE
Um erro inédito na história do serviço brasileiro de transplantes de órgãos, que desde 2006 já salvou cerca de 16 mil vidas, veio à tona na sexta-feira (11): seis pessoas testaram positivo para HIV após receberem órgãos infectados em cirurgias feitas no Rio.
A Secretaria estadual de Saúde (SES) classificou o caso, revelado pela BandNews, como “sem precedentes”. A infecção de pacientes começou a ser investigada depois de um transplantado apresentar complicações neurológicas nove meses após a operação.
Todos os exames laboratoriais nos órgãos doados são feitos no Rio pelo laboratório Patologia Clínica Dr. Saleme, contratado pela Fundação Saúde, do governo do estado. Os testes foram revisados por meio de contraprovas realizadas pelo Hemorio e indicaram que mais pacientes estavam contaminados.
“Sempre que um transplante é realizado, amostras reservas de sangue dos doadores ficam guardadas no Hemorio. A testagem delas indicou resultado positivo (na contraprova), diferentemente do que constava no laudo inicial da PCS. A partir de agora, vamos testar amostras reservas de mais 286 doadores, cujas coletas aconteceram de dezembro de 2023 a setembro de 2024”, disse a secretária estadual de Saúde, Cláudia Mello.
O laboratório, que fica em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi escolhido por licitação via pregão eletrônico para atender ao programa de transplantes. A empresa pertence a um primo e a um tio do deputado federal Doutor Luizinho (Progressistas), que era o secretário estadual de Saúde durante parte do processo de contratação.
Após a notificação da secretaria, uma fiscalização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária identificou uma série de irregularidades e determinou a interdição do PSC.
Com isso, todos os exames para os transplantes passaram a ser feitos pelo Hemorio. Há a suspeita de que os testes de HIV sequer tenham sido feitos pelo PCS no material dos doadores.
O Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) e as polícias Civil e Federal abriram investigação, e o Ministério da Saúde determinou uma auditoria urgente pelo Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (DenaSUS) no sistema de transplante do Rio, além de ter determinado o fechamento do laboratório. O Conselho Regional de Medicina também acompanha o caso.
‘Inadmissível’
O governador Cláudio Castro (PL) se manifestou por volta das 19h de ontem, em nota no X, em que disse se tratar de “uma situação inadmissível e sem precedentes a falha no serviço de transplantes no estado”. Acrescentou ter determinado celeridade nas investigações.
“Desde o início, tomamos todas as medidas necessárias e vamos até o fim para que este erro jamais se repita. Quero assegurar apoio irrestrito aos transplantados afetados. O estado tem o dever de assumir sua responsabilidade no caso. Reitero meu compromisso em preservar a segurança do sistema estadual de transplantes”, escreveu o governador.
O primeiro doador soropositivo teve morte encefálica e atendimento no Hospital municipalizado Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, em janeiro.
Dele, foram captados o coração, a córnea e os dois rins. Já o segundo, uma mulher de 40 anos, foi atendido no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, e doou os rins e o fígado.
As amostras de sangue, segundo Cláudia Mello, teriam sido coletadas nas unidades de saúde e enviadas ao PCS para análise.