Por Paulo César Gomes, Professor e historiador serra-talhadense, âncora e colunista do Farol
O duelo político que marcou a história da FAFOPST. A coluna Viagem ao Passado resgata neste domingo um dos embates retóricos mais intensos da história política de Serra Talhada, travado entre representantes de duas tradicionais famílias da cidade — os Oliveiras e Pereiras.
O palco da disputa foi o jornal Diário de Pernambuco, que, em março de 1980, publicou acusações e contra-acusações entre o então deputado federal Inocêncio Oliveira e o prefeito Hildo Pereira de Menezes, ambos reivindicando a autoria e o mérito pela criação da Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada (FAFOPST).
O episódio, além de revelar o clima político acirrado da época, também lança luz sobre a origem da educação superior no Sertão pernambucano, em um momento de transição e rompimentos entre antigas alianças políticas locais.
As origens da polêmica
Segundo registros do Diário de Pernambuco, a disputa teve como pano de fundo o reconhecimento da FAFOPST, que vinha sendo anunciado como uma grande conquista para o município. Inocêncio Oliveira, à época filiado ao PDS, alegava que o prefeito Hildo Pereira se apropriava de uma realização que não lhe pertencia.
Em entrevista ao jornal, o parlamentar declarou ser “lamentável que um cidadão, na ânsia de justificar sua incompetência, procure uma paternidade que não lhe pertence”, acusando Hildo de tentar capitalizar politicamente uma obra viabilizada, segundo ele, pelo ex-prefeito Sebastião Andrada de Oliveira e por seu próprio empenho junto a órgãos federais.
Oliveira chegou a classificar a gestão de Hildo Pereira como “a pior administração da história política de Serra Talhada desde a emancipação do município, em 1851”, e afirmou que o prefeito teria se tornado o “inimigo número um da Faculdade”, tentando fechar a instituição por motivações políticas.
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A resposta dura do prefeito
As declarações do deputado repercutiram fortemente e motivaram uma resposta imediata de Hildo Pereira, publicada em carta no Diário de Pernambuco sob o título “Prefeito afirma que deputado fez acusação injusta”.
No texto, o prefeito devolveu as críticas “com a mesma moeda” e afirmou que “a pecha de mentiroso cabe ao senhor Inocêncio Oliveira como uma luva”. Hildo sustentou que o verdadeiro idealizador da Faculdade fora o deputado Argemiro Pereira, seu pai, com apoio do então prefeito Luís Conrado de Lorena e Sá, ainda em 1963. Ele lembrou que a construção do prédio foi concluída na gestão de seu irmão, Nildo Pereira, em 1971, com recursos viabilizados pelo deputado Estácio Souto Maior.
Em tom contundente, o prefeito acusou Inocêncio de exagerar seus feitos e de querer “assumir a paternidade infundada de obras federais e até estaduais”, além de ter contribuído apenas “de forma precária” para o funcionamento da faculdade, “com biblioteca emprestada e professores inabilitados”.
“A Faculdade teria fechado se tivesse permanecido na espera da ajuda sempre acenada pelo verboso parlamentar”, escreveu Hildo, destacando que, em sua gestão, a prefeitura havia investido mais de Cr$ 260 mil em melhorias e insumos para evitar o fechamento do curso.
Documentos históricos reforçam a disputa
Registros de 1971 publicados no mesmo Diário de Pernambuco confirmam que a Faculdade de Filosofia de Serra Talhada já estava em construção durante o governo do prefeito Nildo Pereira, e que havia planos para seu funcionamento no ano seguinte, em convênio com o Ministério da Educação.
As reportagens daquela época noticiavam que o prédio dispunha de oito salas de aula, biblioteca, secretaria e auditórios, com capacidade para 160 alunos — o que indica que o projeto da faculdade antecede a gestão de Inocêncio e Sebastião Oliveira.
Entretanto, a consolidação da FAFOPST como instituição reconhecida ocorreu apenas em meados da década de 1970, período em que Inocêncio Oliveira e seus aliados reivindicaram o protagonismo político pela conquista junto ao MEC.
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Oliveiras e Pereiras, uma rivalidade que ultrapassou o tempo
A polêmica entre os dois líderes ultrapassou o campo educacional e simbolizou o rompimento histórico entre os clãs Oliveira e Pereira, até então aliados políticos. O desgaste começou a se evidenciar em 1974, quando Inocêncio rompeu com o deputado estadual Argemiro Pereira, encerrando uma aliança que havia durado décadas e redesenhando o mapa político de Serra Talhada.
Entre 1973 e 1977, o município foi governado por Sebastião Oliveira, irmão de Inocêncio, o que aprofundou ainda mais a rivalidade entre os dois grupos. Após mais de 50 anos de rompimento, Pereiras e Oliveiras se reuniram para reeleger a prefeita Márcia Conrado, no entanto, aliança vai indo de ladeira abaixo, e tem tudo para ser tornar mais uma vez, uma das maiores rivalidades do interior, com roteiro já definido: traído e traidora!

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