Escrito pelo professor Cícero Lopes, faroleiro

A sobrevivência das tradições está por um fio, e com elas, o registro dos costumes, hábitos e alegrias do nosso povo. Não só pelo descaso político, mas também pelo processo de “mundialização do mercado”, pois festa hoje, antes de tudo, tem a ver com números ($) e cifras ($$$); enquanto verdadeiros tesouros da cultura popular estão sendo enterrados. Ora, se é verdade que “Educação” e “Cultura” são as bases de transformação de uma sociedade, jamais deveriam ser negligenciados assim.

Recordo-me com saudades das décadas de 80 e 90 quando dançava quadrilhas em Triunfo. Até os bastidores encantava, pois ensaiávamos quase um mês para apresentar uma quadrinha no dia de São João. Cada bairro tinha sua quadrilha, e muitas vezes aconteciam concursos para ver quem apresentava a melhor quadrilha. As fogueiras estavam por todas as ruas, as famílias se reuniam sob mesa farta com milho, pamonha, canjica, vinhos, galinha caipira e arroz vermelho. O mais comum eram as famílias reunidas à noite inteira nas calçadas, o que alimentava e preservava os “laços sociais”.

Hoje, após uma política “ambígua” e com investimentos públicos astronômicos na presença de bandas estilizadas e artistas de fama nacional, não tem mais quadrilhas de bairros, não tem mais famílias reunidas, não tem mais cultura popular… O povo está “esquecendo suas raízes”, se tornando “espectador “dos mega shows” em praça pública, “platéia” desenraizada e sem cultura. E pelo que se ver isto não acontece apenas em Triunfo, mas em muitas comunidades circunvizinhas, como aqui em nossa Serra Talhada. O fato é que isto tudo é lamentável, pois “um povo sem referências, é um povo sem memória, e um povo sem memória, é um povo sem futuro”…

Recuperar nossos costumes, tradições e memória histórica é condição “sine qua non”, sob risco de negarmos nossa própria identidade e deixando as novas gerações “sem futuro”. A preocupação então é de pensar “como preservar e dar continuidade as nossas tradições locais”, tanto em Serra Talhada quanto nas cidades circunvizinhas. Eis um grande desafio para os educadores, gestores e, particularmente, candidatos políticos de 2012 em nossa região.