marcha_mundial_da_mulheres

Por Emmanuelle Silva, militante dos direitos humanos, graduada em Licenciatura em Letras pela UFRPE/UAST e redatora/repórter do Farol de Notícias

O Enem 2015 veio para surpreender muitos meninos e meninas que jamais imaginariam que discussões feministas estariam presentes nos dois dias de prova. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e o Ministério da Educação (MEC) acertaram em propor um tema bastante atual, amplamente discutido e reivindicado pelos movimentos sociais.

Como feminista, imaginei a importância desse tema para o movimento e para a educação instigar a reflexão desses temas com os jovens. Porém, a empolgação inicial foi substituída por uma preocupação de que as redações de alguns candidatos e candidatas estejam repletas de reprodução de machismo e misoginia. Não seria a primeira vez que alguém não entenderia o tema proposto pelo exame.

No primeiro dia de prova os candidatos foram questionados sobre um das frases mais famosas de Simone de Beauvoir, em sua obra Le Deuxième Sexe, 1949 (O Segundo Sexo). Na questão a frase: ‘Não se nasce mulher, torna-se’ indicava a leitura da obra como um dos principais motes das movimentos de mulheres/gênero na década de 1960. No segundo dia, uma questão na prova de língua inglesa com a teórica de origem ‘chicana’, feminista, lésbica e queer Gloria Anzaldúa, a temida redação também veio com o tema ‘A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira’. Uma palavra é determinante para a interpretação coerente e redação adequada, persistência.

positivoBOA REDAÇÃO 

Para produzir um bom texto, não bastava estar com a ortografia, concordância, regência, pontuação e coesão em dia. A coerência ao tema este ano é o ponto alto. Se os candidatos e candidatas trouxeram para a discussão o posicionamento do movimento feminista em relação a violência psicológica e física contra mulheres, o feminicídio, o alto índice de casos de abuso sexual, a misoginia e o machismo em diversas instituições sociais. Além de citar a Lei 11.340/2006, a Maria da Penha, como uma das principais conquistas do movimento feminista e de mulheres. Falando desses aspectos os candidatos e candidatas fariam uma ótima redação.

Simbolo_negativoPÉSSIMA REDAÇÃO

Já os candidatos que consideraram que a violência contra a mulher é motivada pela emancipação das mesmas. Que as mulheres são violentadas porque usam roupas curtas e provocantes, saem sozinhas, vão para festas e bebem, têm mais de um parceiro sexual e, o pior de todos, permanecem com os parceiros que as violentam porque querem. Esses argumentos podem ser utilizados por alguns. Mas não condizem de forma alguma com o tema proposto e com o pensamento feminista. Machistas não passarão!

Como educadora, espero que a banca de correção das redações leve tudo isso em consideração e tire pontos de candidatos e candidatas que apenas seguem a gramática, mas desconhecem 50 anos de luta feminista.