Por Adelmo Santos, poeta e escritor de Serra Talhada
“Esta é para todos os meus conterrâneos que completaram ou estão pra completar 60 anos de idade nesse ano de 2014, e que de certa forma participaram da minha geração. Dizem que nessa vida tudo é passageiro, o tempo passa as coisas mudam e junto a gente também vai passando. Segundo um estudo, no Brasil tem mais idosos acima dos 60 anos do que crianças com menos de 5 anos de idade. Isso mostra que o Brasil está ficando um país de velhos, o pior disso tudo é que o Brasil não está preparado para cuidar dos seus idosos, e viver mais não quer dizer viver bem, é melhor viver bem enquanto estiver vivo e não passar o resto da vida sofrendo.
São muitos os problemas enfrentados pelos idosos no Brasil. A desvalorização das aposentadorias e das pensões, a depressão, o abandono da família, a falta de projetos e atividades de lazer, além do difícil acesso aos planos de saúde. Hoje, 28 de novembro de 2014, eu estou completando 60 anos de idade, pra mim foi tão de repente, ainda me sinto novo, entrei na terceira idade me sentindo um novo idoso.
Eu gostaria que os meus pais estivessem aqui agora, para fazer um balanço contando a minha história, eles que sempre diziam que o mundo é uma escola e que a vida é um estudo, é vivendo e aprendendo e quando chega a velhice ninguém consegue aprender tudo. Eu tenho medo da velhice, ninguém mais respeita os velhos, muitos são abandonados pelos asilos da vida desprezados da família. Eu tenho medo da saúde pública que ficou muito doente, dos hospitais que não tratam e judiam com a gente. Eu tenho medo que isso possa acontecer comigo, eu já estou me preparando, se eu for pra Casa dos Pobres, vou pedir pra ficar bem pertinho da janela, se alguém bulir comigo eu peço socorro e grito, pra quem passar na calçada escutar os meus gemidos.
Eu quero ser um velho discreto, eu não quero ser ranzinza, quero ver o movimento de quem passa na esquina. A minha geração foi boa e cheia de gente bacana, quando eu lembro a minha infância sinto uma saudade medonha. Eu nasci com o Cônego Torres, com a Estação Ferroviária e a Igreja da Penha dentro de Serra Talhada. Nasci pelas mãos duma parteira que se chamava Avelina, numa das casas de turma que tinha na esplanada, eu cresci longe das drogas, ali vendo o trem passando, jogando bola no campo me divertindo e brincando.
O dia em que nasci foi um dia abençoado. Além do Cônego Torres e da Igreja da Penha, que nasceu junto comigo, tinha um bispo na cidade, que deu origem ao meu nome, se tornando o culpado; foi Dom Adelmo Machado.
Dos meus amigos de infância muitos andam por aí, cada um com a sua história longe das drogas e dos cigarros. Os brinquedos eram de barros, uma lata era o carro, a gente tomava banhos no Açude do Ginásio. Foi a geração do tênis conga, a bola era de meia, no tempo dos candeeiros, no tempo da palmatória, do castigo atrás da porta no recreio da escola. Eu lembro que o corte de cabelo “jaquideme” era a moda, quando um menino cortava os outros tiravam o selo.
Era um tempo bom demais. Eu me lembro, toda hora, da calça boca de sino, tubaína e coca-cola. Da sandália japonesa, dos tempos da brilhantina, garrafinha com pão doce, rapadura e chiclete com todo mundo se tratando nas farmácias com os cachetes. Nesse tempo tinha ética, tinha valores morais onde os grandes ensinamentos o respeito aos professores e o respeito aos mais velhos eram dados pelos pais. Eu tenho medo da velhice de um dia ficar fraco, sem poder me defender e dar conta do recado, mesmo sendo um sertanejo no Sertão de cabra macho que vai tocando a sua roça num chão todo esturricado sem cuidar da sua próstata com medo de ser tocado.
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