Por Gastão Cerquinha, estudante do 7º período de engenharia civil na UFPE em Recife e atualmente realiza trabalhos em recursos hídricos.
É evidente o crescimento que Serra Talhada vem tendo nos últimos anos. Os recursos diretos e indiretos advindos das obras de transposição e da Transnordestina trazem novas perspectivas para o município, além do surgimento de novas possibilidades de educação superior que geram inúmeros benefícios para todos. Sendo assim, nossa cidade encontra-se em uma etapa decisiva para o desenvolvimento econômico, mas ainda carente em qualidade de vida e respeito ao meio ambiente.
Segundo o IBGE, Serra Talhada possui uma população urbana 3,4 vezes maior que a residente no campo. Além disso, de acordo com o Regic 2007 (Regiões de Influência das Cidades) nós ainda ocupamos a posição de Centro Sub-regional A, com pelo menos 9 cidades (Betânia, Calumbi, Flores, Mirandiba, São José do Belmonte, Triunfo, Floresta e Santa Cruz da Baixa Verde em Pernambuco e Princesa Isabel na Paraíba) dependentes de infra-estrutura e serviços que a cidade dispõe. Diante disso, devemos ter um olhar mais atento ao que se passa na urbanização da cidade e nos perguntar sobre o que temos feito para promover nosso próprio bem-estar.
Nossa cidade apresenta atropelos na urbanização e déficits na preservação ao meio ambiente. Assim como o Rio Pajeú, os riachos que cortam Serra Talhada permanecem, a maior parte do tempo, secos devido às barragens existentes e, principalmente, às chuvas irregulares na região. Isso, porém, não significa que não existam. Eles estão ali marcados pelo desenho do terreno até que haja novas chuvas que os deem sua principal função: o escoamento das águas.
Imagem – Foto de Riacho no Bairro Bom Jesus. Fonte: Google Street View.
As chuvas ocorridas na noite do dia 29 de março de 2014 provocaram inúmeros estragos em Serra Talhada. Devido ao evento, setenta e oito famílias, registradas pela prefeitura, sentiram de perto os impactos de um crescimento desordenado, pouco voltado à preservação do ciclo hidrológico, que é vital para a conservação da natureza e principalmente da qualidade de vida dos cidadãos.
Drenagem urbana é o conjunto de medidas que tem por objetivo, minimizar os riscos a que as populações estão sujeitas, diminuir os prejuízos causados por inundações e possibilitar o desenvolvimento urbano de forma harmônica, articulada e sustentável.
Em vários pontos da cidade, aparecem inconsistências na drenagem urbana, como as ruas Manoel Tomé de Souza e Antônio Tomé de Souza, ambas no bairro São Cristóvão, cujas águas escoam para a parte central que é desprovida de boca de lobo proporcional as características da bacia. O mesmo acontece na Av. Miguel Nunes de Souza, próximo ao rodeio, onde as águas reunidas esbarram em construções comerciais, resultando alagamentos.
Devido à pressão populacional, resultado dos investimentos na região, a procura por casas aumentou consideravelmente elevando o preço do aluguel de casas e terrenos. Por conseguinte, gerou um momento favorável à formação de loteamentos que sem o estudo técnico básico, surtiu o crescimento desordenado de novos bairros sem a devida infraestrutura. Favorecido por um longo período de estiagem, o curso natural das águas foi ocupado e as pessoas se viram morando no leito dos riachos.
Outro local alarmante é o riacho que passa por trás da Câmara de Vereadores de Serra Talhada. Recentemente, o curso natural das águas tem sido aterrado com a extensão das ruas José Joaquim de Lima (AABB) e Joaquim Godoy (Centro) e pela ocupação do leito natural a fim de obter espaço para novos lotes habitacionais. Contudo, essa intervenção representa um sério risco para população residente no entorno, inclusive para a própria Câmara. O aterro provocará alagamentos cada vez piores, prejuízos ao meio ambiente e aumento da temperatura local. Podendo citar ainda pelo menos outros dois locais em risco iminente no Centro e IPSEP.
Imagem – Localização do Riacho próximo a Câmara de Vereadores. Fonte: Google Earth.
Imagens – Riacho próximo à Câmara de Vereadores.
Outros problemas comuns na drenagem urbana são:
- Traçado dos loteamentos desconsiderando a drenagem natural ocasionando a interrupção do escoamento natural;
- Implantação da drenagem de forma fragmentada resultando em sistemas inadequados e problemáticos;
- Canalização de Riachos gerando o isolamento do aquífero, prejuízos ao meio ambiente e aumento da temperatura local.
Serra Talhada precisa pensar no que quer para o futuro da cidade, por isso, traçar um caminho para a qualidade de vida é fundamental. Lamentavelmente, as constantes alterações da zona urbana contribuem para o aumento da temperatura e reduzem ainda mais a umidade do ar, que somado à poluição gerada pela crescente frota, provoca condições precárias de se viver. A conservação dos cursos d’água já é uma tendência mundial, e Serra Talhada precisa estar à frente disso, caso contrário, as perdas serão irreparáveis.
17 comentários em OPINIÃO: Os riscos na urbanização e os efeitos do crescimento desordenado em ST