Padre Jesus

Por Luiz Ferraz Filho, Historiador serra-talhadense e membro da Academia Serra-talhadense de Letras (ASL)

Nesse domingo (12), de outubro, feriado da padroeira Nossa Senhora Aparecida, também é a data do 34° ano do falecimento do monsenhor Jesus Garcia Riano (o Padre Jesus), ícone da religiosidade de Serra Talhada, que faleceu em 12 de outubro de 1991, deixando na orfandade milhares de fiéis seguidores.

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Nascido na pequena cidade de Cerezo, na Espanha, viajou para nossa pátria onde se estabeleceria com sua vocação pastoral. Chegando na Diocese de Olinda e Recife, seria designado para assumir a nossa paróquia de Nossa Senhora da Penha, em dezembro de 1936, onde fraternalmente teve grande afeição por suas ovelhas paroquianas.

Era homem robusto e corpulento, com média estatura, cabelo preto escorrido e com sobrancelhas arqueadas e de forte espessura, que dava-lhe um aspecto de seriedade. Às vezes era brincalhão, mas sempre manteve um perfil de austeridade. E se para alguns ele foi rigoroso e exigente com seu estilo totalmente sisudo e duro, para outros, essas atitudes são vistas como virtudes de um homem zeloso, autêntico e fidedigno, sempre obstinado como guardião da santíssima Mãe de Deus.

Foi sem dúvidas um dos religiosos mais contemplativos do seu tempo. Não admitia desvirtuarem ou alterar a liturgia durante as missas, novenas e procissões na matriz. Foi o idealizador, construtor e o principal fabriqueiro das capelas e igrejas nos povoados e distritos de Serra Talhada. Antes dele, tudo era um vazio, sem o acompanhamento religioso espiritual.

Outrora, Padre Jesus tinha prazer em viajar na sua burra alazã, que para se exibir e demonstrar sua vitalidade dominava-a suas rédeas com maestria e uma força descomunal. Aconselhado pelos devotos para evitar animais bravios, respondia que durante sua juventude na Espanha havia sido ‘peón’, vaquejando o gado dos seus familiares nas montanhas.

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Posteriormente, com o cansaço da maturidade substituiu a velha burra pelo jipe, mais ágil e mais cômodo, ajudando-o numa maior assistência para suas ovelhas. Sua estadia ou pernoite nas fazendas trazia verdadeira romaria de devotos para a comunidade no intuito de confessar e receber conselhos para as desventuras da vida.

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Homem sistemático e totalmente desprovido de vaidade ou mordomia, gostava de lavar os pés e dormir cedo numa velha rede de balanço, contudo, não admitia esquecerem de rezar o ofício das completas às dezoito horas.

Durante o ofício, um silêncio pleno dos fiéis tomava conta da hospedagem, quebrada somente pela voz aguda e ofegante do vigário. Ao acordar nos sítios e fazendas da nossa região, quebrava o jejum se deliciando numa coalhada, o prato favorito e tão propalado pelos seus fiéis. Ao se despedir, não aceitava mimosea-lo com presentes. Pois segundo ele, aquela espórtula paga pelos sacramentos do batistério da igreja já serviriam para ajuda-lo nas despesas da viagem e não queria sacrificar ainda mais os pobres sertanejos com alto custeio.

Alguns podem até tentar depreciar sua biografia tentando epiteta-lo como um homem materialista ou sovina. Mas a resposta é que nenhum outro pároco do século passado, conseguiu arrecadar tantos donativos para edificar um templo tão majestoso como a nossa matriz da Penha. E construir diversos outros nas vilas de Santa Rita, Luanda, Caiçarinha da Penha, Tauapiranga, Bernardo Vieira, etc., sem que tivesse um rigoroso planejamento e controle financeiro.

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E nisso ele foi um mestre. Nenhum outro despertou tanta confiança na arrecadação de doações numa época que a população era apenas um quinto da atual. Portanto, é inegável a importância que Padre Jesus teve no pastorado da Penha, aqui em Serra Talhada. Seu nome nunca será esquecido ou apagado da memória do nosso povo.

Para finalizar, retorno novamente com este defensivo adjuntório em sua memória, que se ele para alguns era visto como duro, rígido e firme em suas convicções. Para outros foi bastante necessário esse perfil conservador para moldar e alicerçar nossa formação religiosa como a cidade com mais fiéis e devotos praticantes do interior de Pernambuco.

Sem a memória dos ensinamentos de Padre Jesus, a indecência, depravação e a profanação religiosa em Serra Talhada estariam em níveis ainda mais insuportáveis.