Do G1
Quando um presidente xinga outro de assassino e reafirma acreditar que ele “não tem alma” é sinal de que as tensas relações entre seus países azedaram de vez. Foi desta forma dura e assertiva que o moderado Joe Biden marcou posição em relação a Vladimir Putin, distanciando-se definitivamente da postura amigável de seu antecessor, Donald Trump.
O presidente americano ainda ameaçou o russo com a promessa de que ele pagaria um preço alto por interferir nas eleições de novembro. A qualificação de Putin como assassino, durante uma entrevista à rede ABC, coincidiu com um relatório do Diretor de Inteligência Nacional divulgado ao Congresso, concluindo que Putin autorizou “operações de influência destinadas a difamar” a candidatura de Biden e do Partido Democrata em favor de Trump.
Há outros motivos que explicam a irritação de Biden com Putin: a tentativa de envenenamento e a condenação do líder opositor Alexei Navalny, e o ataque de um grupo de hackers associado ao governo russo, a sistemas operacionais de vários departamentos do governo americano, num caso conhecido como Solarwinds.
O presidente dos EUA também tem conhecimento da oferta russa de recompensas em dinheiro a militantes do Talibã para matar soldados americanos no Afeganistão — fato informado desde o ano passado pela Inteligência americana a Trump, que não reagiu.
Biden não esclareceu o que quis dizer com “preço alto”, mas a primeira interpretação de suas palavras se traduz por novas sanções à Rússia. O próprio porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, admitiu que as declarações do presidente americano, classificadas como “terríveis”, servem de pretexto para incrementar e justificar mais punições ao país.
As mais recentes foram decretadas após a prisão de Navalny. Especula-se que na próxima semana os EUA estendam o alvo a oligarcas russos próximos a Putin. A iminência de novas sanções foi suficiente para abalar os mercados russos na quarta-feira e enfraquecer o rublo em relação ao dólar.
Ainda há áreas comuns entre os dois países, que em janeiro prorrogaram o tratado de não proliferação nuclear, conforme assinalou o presidente americano, “pelo interesse da Humanidade”. Mas, na maioria delas, ambas as potências estão estrategicamente distantes. E Biden parece não estar disposto a suavizar o tom em relação às supostas interferências de Putin nos EUA.